
Com a proximidade das eleições e o cenário político ainda indefinido, a militância bolsonarista tem se desesperado. A extrema direita no Brasil, encabeçada pelo presidente Jair bolsonaro (PL) e seus apoiadores, tem protagonizado brigas homéricas entre si, dignas de uma drama cinematográfico.
Os últimos atores das desavenças públicas foram o guru, ideólogo, da ala mais radical do Bolsonarismo, Olavo de Carvalho, o blogueiro Allan dos Santos, dono do canal Terça Livre, e o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo; o ex-ministro Abraham Weintraub (Educação), seu irmão Arthur Weintraub e a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP); o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o deputado federal Carlos Jordy (PSC-RJ) e o deputado federal Julian Lemos (PSL-PB).
O Twitter e a imprensa têm sido palcos para essas rusgas políticas. Eles dispararam farpas entre si com questionamentos sobre apoio do Centrão, críticas à atuação do governo federal, algumas pitadas de desamparo e desilusão.
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Carlos Bolsonaro e Jordy se estranharam na rede social citada, expondo uma nova rixa na militância bolsonarista na terça-feira (4).
Após Jordy publicar um vídeo em que aparecia num evento conservador cobrando mais engajamento do presidente Bolsonaro na eleição de parlamentares, o filho 02 do chefe do Executivo partiu para o ataque respondendo a postagem.
“Ainda tenho que ouvir isso? Pqp! É inacreditável? Não! Sei exatamente como esses agem! ”, Disparou o vereador contra o deputado.
No vídeo, Jordy aparece falando durante o evento “Congresso Politicamente Incorreto” , ocorrido mês passado em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, solicitando que o presidente se empenhe para eleger deputados e senadores. Segundo o deputado, isso evitaria que parlamentares da base de apoio ao presidente era presos, pois um Congresso mais bolsonarista poderia pedir o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ainda na gravação, Carlos Jordy convida para o palco do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) , preso por fazer ao STF, defensor atos golpistas e de teor antidemocrático. Após ter seu mandato cassado pela Câmara, Silveira passou a se sentir abandonado pelo presidente Bolsonaro e por parte de sua base parlamentar.
Após a réplica do “02” no Twitter revelando seu incômodo com uma cobrança feita ao pai, o deputado do PSL, conhecido por ser um ferrenho apoiador do clã Bolsonaro, se descontente com a postura do vereador.
“É isso mesmo? Então você não considera importante que seu pai tenha mais deputados e senadores aliados para não ficarmos mais reféns do presidencialismo de coalizão? Não entendi sua crítica. Então agora, from 2016 ao lado do seu pai, sou traidor? Era só o que me faltava, xará ”, postou Jordy.
Após esse episódio, o filho do presidente Bolsonaro sugeriu a Jordy que use menos cocaína, dando a entender que a droga está afetando o discernimento do deputado.
“É cristalino que há uma tentativa de se criar um grupo usando a imagem de um e se fazendo de idiota para tirar crédito e obter exito! Sugiro cheirarem menos, serem mais gratos e não sujos. Principalmente aqueles que nada são sem a imagem dos que “criticam construtivamente”, escreveu Carlos Bolsonaro em seu perfil no Twitter.
Baixaria atrás de baixaria
Como se não bastasse todo esse papelão, Carlos Bolsonaro “virou a seta” para outro deputado Bolsonarista, o deputado federal Julian Lemos (PSL-PB). Os dois bateram boca nas redes sociais na quarta-feira (5) após o filho do presidente criticar a aproximação de seu ex-aliado com o presidenciável Sergio Moro ( Podemos) . Lemos foi um dos principais apoiadores de Jair Bolsonaro em 2018, mas rompeu com o presidente. Agora, está organizando uma agenda de uma viagem do ex-juiz ao Nordeste.
Em declaração à coluna de Monica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, Lemos disse que Carlos Bolsonaro é uma pessoa com “problemas psicológicos e sexuais” e que ele e a família “não admitem que já estão praticamente nos últimos dias de governo porque não conseguir fazer nada além de gerar polêmicas inúteis “.
“O maior fofoqueiro do Brasil [Moro] foi encontrar o seu chifrudo [Lemos] na Paraíba com dinheiro do fundo eleitoral? Par perfeito que explica a falta de testosterona e vergonha na cara do grupinho!”, escreveu o 02 de Bolsonaro.
“O [imagem de um cachorro] presidencial falando sobre testosterona. Logo tu? Não sei aqui quem tem chifre, mas no RJ eu sei quem tem e quem botou em você”, respondeu Lemos, citando o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) . Mais ofensas foram proferidas no Twitter.
Mais treta bolsonarista
A deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) levou um fora do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e do irmão dele, Arthur Weintraub, sobre uma possível chapa para as eleições de São Paulo no ano que vem.
Pelo Twitter, a parlamentar provocou o ex-integrante da Esplanada dos Ministérios sobre suposta declaração de que ele a enfrentaria nas eleições de 2022, o que desagradou os irmãos que apoiam o governo Bolsonaro.
“@AbrahamWeint Abraham, li na OESTE que você disse ser meu adversário e de Tarcísio! O que é isso, companheiro? Bora reunir todos na mesma sigla! Tarcisio- Governador; Angela Gandra- Vice; Janaina-Senadora, Abraham líder de uma super bancada de federais e Arthur de estaduais”, sugeriu.
Pouco tempo depois, Abraham e Arthur refutaram qualquer possibilidade da chapa ventilada pela advogada.
“Primeiro, não sou seu companheiro. Aliás, isso é termo da esquerda! Quando era de seu interesse, você descobriu meu telefone e me ligou (não fui eu que te procurei). Agora twitta sobre sua decisão, querendo se impor. Achei sua postura muito falsa e interesseira”, escreveu o ex-ministro.
A opinião de Abraham foi endossada pelo irmão dele, Arthur, que ocupou assessoria especial da Presidência da República e foi tido como candidato a deputado estadual no estado.
“Não pedi o teu conselho. Tente ser você líder dos estaduais se conseguir se reeleger estadual”, resumiu.
Xingamentos entre Allan e Camargo
Cinco dias antes do natal, o escritor Olavo de Carvalho disparava a metralhadora contra o governo Bolsonaro. Em transmissão pela internet no último dia 20 de dezembro, o guru do radicalismo de direita, criticou o desempenho político de Bolsonaro e chegou a dizer que “a briga já está perdida” no Brasil.
Olavo declarou publicamente que votará em Bolsonaro para reeleição em 2022 por falta de opção. Segundo afirmou, o atual mandatário da República falhou na luta contra o que chama de “comunismo”.
Olavo de Carvalho ainda fez live ao lado ex-ministros Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente). No vídeo, o escritor afirmou que Bolsonaro não é “guerreiro” nem “estadista”. Estaria mais para um “prefeito de cidade de interior”.
Ainda na sequência de desentendimentos, no dia 26 de dezembro, foi a vez do militante Allan dos Santos e do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, trocarem xingamentos na internet. Camargo havia sido alvo do próprio Olavo de Carvalho após ter defendido seu chefe, dizendo que Bolsonaro “nunca precisou e jamais precisará de um ‘professor’”, usando as aspas de maneira irônica.
Entrando nessa briga, Allan dos Santos, que tem a prisão determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas está foragido nos Estados Unidos, usou um canal que mantém no aplicativo Telegram (outras redes dele, como Instagram, YouTube e Twitter, estão bloqueadas pela Justiça) para questionar o nível intelectual do presidente da Fundação Palmares:
“O Brasil pariu uma horda de analfabetos que, se não estivessem na política, não seriam capazes de ensinar uma única e mísera coisa sequer. Vivem do salário que recebem do Estado e assim que dele sair não serão capazes de organizar um grêmio estudantil”. Allan dos Santos
O blogueiro ainda emendou: “Esse Sérgio Camargo é um deles. A idiotice que falou sobre o professor Olavo de Carvalho é a prova de que, se não fosse o carguinho dele, ninguém nunca saberia quem é esse infeliz”.
O presidente da Fundação Palmares usou suas redes sociais para responder na mesma moeda: “O brasileiro é, majoritariamente, conservador, e nunca leu Olavo de Carvalho. Nem assistiu ao Terça Livre. Meu conservadorismo deriva, unicamente, da educação que recebi dos meus pais. Quem fala de ‘carguinho’ sofre de inveja e interesse contrariado. É oportunista fracassado”, atacou Sérgio Camargo.
Camargo tem sido duramente atacado nas redes pela militância bolsonarista-olavista que ficou incomodada com suas críticas ao guru. Ele escolheu mensagem de Allan dos Santos para responder de modo geral às cobranças que vem sofrendo.
Ativistas abandonados
Em novembro, Allan dos Santos já alfinetava integrantes do governo que apoia. Em áudio, ele afirmou que Bolsonaro é “mal assessorado” e culpou parte da ala militar que integra a Esplanada dos Ministérios pelos erros estratégicos cometidos pelo governo.
O dono do site Terça Livre disse que órgãos, como a Polícia Federal (PF), estão recheados de “comunistas” e que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, não teria alta informação e alta cultura.
Preso após ficar conhecido como um dos principais líderes e organizadores das manifestações antidemocráticas e golpistas do último 7 de Setembro, o militante bolsonarista Zé Trovão também foi criticado por apoiadores de Bolsonaro. Defensores do presidente levantaram suspeita sobre as verdadeiras intenções do líder emergente da militância bolsonarista, Marcos Antônio Pereira Gomes e o acusaram de “querer de aparecer”.
Zé Trovão está preso desde o fim de outubro, após uma ordem de prisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, por incitar violência e atos antidemocráticos.
Com informações do Metrópoles e Folha de S. Paulo