Usando o auxílio emergencial como pretexto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) postou em suas redes sociais um filme em que, claramente, antecipa a campanha eleitoral. No vídeo, em formato de depoimento, um homem identificado como Ociol Rodrigues, conhecido como Jhow Cabelereiro, afirma que conseguiu montar o seu salão com recursos do auxílio emergencial, pago pelo governo durante a pandemia.
No texto, o presidente escreve:
“O Senhor Jhow chegou em Brasília em 1993. Tratorista, pedreiro, cabeleireiro. Foi impactado pelo “fecha-tudo” imposto por governadores e prefeitos, mas, com o Auxílio Emergencial do Governo Federal, Jhow não apenas manteve a dignidade e a esperança, como também pôde empreender, abrindo sua barbearia.”
Ao final, Bolsonaro ainda diz:
“O auxílio emergencial alcançou mais de 65 milhões de brasileiros.”
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Propaganda antecipada
Alexandre de Moraes, ministro efetivo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), exigiu explicações de Bolsonaro por ter praticado propaganda eleitoral antecipada e ter feito ataques ao ex-presidente Lula. A decisão atende uma ação do PT.
No dia 12 de janeiro, Bolsonaro insinuou, em um evento no Palácio do Planalto, que a reeleição de Lula (PT) seria o retorno do “criminoso” à “cena do crime”.
Além disso, o presidente acusou o petista de “lotear ministérios”. As declarações foram transmitidas ao vivo pela TV Brasil, da estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Debate sem perguntas sobre família e amigos
Em novembro do ano passado, Bolsonaro disse que tem a intenção de participar dos debates eleitorais no ano que vem, mas com uma condição: não ser questionado sobre família e amigos. Segundo o presidente, esse tipo de pergunta “não vai levar a lugar nenhum”.
— É para falar do meu mandato. Até a minha vida particular, fique à vontade. Mas que não entrem em coisas de família, de amigos, porque vai ser algo que não vai levar a lugar nenhum — disse o presidente em entrevista ao programa “Agora com Lacombe”, da RedeTV!, na noite dessa quinta-feira.
A restrição é uma maneira de o chefe do executivo evitar questionamentos sobre as investigações que envolvem seus filhos e aliados. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) são suspeitos de fazerem parte de um esquema de desvio de salário de funcionários de seus antigos gabinetes legislativos, conhecido como “rachadinha”. Já Renan Bolsonaro, o Zero Quatro, é alvo de um inquérito da Polícia Federal que apura suspeita de tráfico de influência. Todos os filhos negam qualquer irregularidade.
— Eu pretendo participar de debates. Não pude da última (vez, em 2018) porque estava convalescendo ainda (por conta da facada). Da minha parte não vai ter guerra, eu tenho 4 anos de mandato para mostrar o que fiz agora, eu não posso aceitar provocação, coisas pessoais, porque daí você foge da finalidade de um bom debate.
Na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro também afirmou que participaria dos debates, mas não compareceu a nenhum após a facada.
Por Julinho Bittencourt na Revista Fórum