O presidente derrotado Jair Bolsonaro (PL) poderá ser responsabilizado criminalmente pelo atentado à bomba malogrado ocorrido em Brasília neste sábado (24). O acusado George Washington de Oliveira Sousa, que foi preso no mesmo dia, afirmou em seu depoimento, que foi encorajado pelas reiteradas declarações de Bolsonaro em defesa de que a população se arme contra a “tirania” do governo.
Para o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), “a responsabilidade política do Bolsonaro é evidente. Estimulou o armamentismo irresponsável e atos de ataques a instituições. Mas a responsabilidade judicial ainda é cedo para falar.”
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O coordenador do grupo Prerrogativas, Marco Aurélio Carvalho, afirmou que há uma conexão do autor do atentado com Bolsonaro, ainda que por enquanto seja indireta. “Não tenho a menor dúvida de que chega nele. O presidente sempre incentivou esse tipo de coisa.”
Relembre o caso
O empresário paraense George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, foi preso pela Polícia Civil do Distrito Federal (PC-DF) na noite de sábado (24). Ele é suspeito de ter fabricado a bomba desativada pela Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) horas antes. O artefato explosivo foi colocado em um caminhão-tanque nos arredores do aeroporto da capital federal.
Apoiador radical do ainda presidente Jair Bolsonaro (PL), o homem viajou do Pará para participar de atos no acampamento localizado no Quartel General (QG) de Brasília. Ele foi localizado em um apartamento no setor Sudoeste, localizado no plano piloto. A ocorrência está sendo investigada pela 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) e a prisão do homem foi realizada pela 10ª DP (Lago Sul).
Ele contou como conseguiu o material para fabricar o artefato. “Eu disse aos manifestantes que tinha a dinamite, mas precisava da espoleta e do detonador para fabricar a bomba”, relatou. Em seguida, disse que na sexta (23), por volta das 11h30, um manifestante desconhecido que estava acampado no QG entregou a ele um controle remoto e quatro acionadores, possibilitando a fabricação artesanal do explosivo de forma que pudesse ser acionado a uma distância entre 50 e 60 metros.
Sousa disse que entregou a bomba a uma pessoa chamada Alan, orientando que fosse instalada em um poste para a interrupção do fornecimento de eletricidade. De acordo com seu depoimento, o terrorista que fabricou a bomba não teria concordado com a ideia de explodi-la no estacionamento do aeroporto.
O próprio motorista do caminhão foi quem encontrou o artefato que, segundo a polícia, só não explodiu por uma falha técnica na operação do detonador. O trabalhador, então, acionou a Polícia Militar, que mobilizou o esquadrão antibombas. O corpo de bombeiros também contribuiu com a ação.
O terrorista disse, ainda, que conversou com PMs na data dos primeiros ataques terroristas à capital federal, em 12 de outubro, e que avaliou que os agentes da segurança pública estavam ao lado de Bolsonaro. Ele acreditava que em breve seria decretada uma “intervenção” das Forças Armadas. “Porém, ultrapassado quase um mês, nada aconteceu e então eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação de estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil”, disse o empresário.
A ideia original, entretanto, era um pouco diferente. “Uma mulher desconhecida sugeriu aos manifestantes do QG que fosse instalada uma bomba na subestação de energia em Taguatinga (região administrativa do Distrito Federal) para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”, disse George no depoimento.
Flávio Dino diz que posse de Lula pode ser alterada
Flávio Dino, futuro ministro da Justiça, afirmou que os procedimentos relativos à posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) serão revistos nesta semana, após a ameaça de um atentado a bomba feito pelo militante bolsonarista George Washington, que já está preso.
“Tudo vai ser revisto, tudo repassado, passo a passo, para fortalecer a segurança do presidente e da posse. Estamos diante de um fato novo muito grave, envolvendo um homem com fuzis e bombas, que afirma não ter agido sozinho”, disse Dino ao Painel, da Folha.
De acordo com o futuro ministro, tanto os horários e as programações dos shows quanto o trajeto de Lula na Esplanada dos Ministérios poderão ser mudados: “Estamos em outro patamar, de terrorismo”, alertou.