
Recorde diário de mortes. Uma nova cepa do coronavírus super contagiosa fora de controle. Hospitais à beira do colapso. E um presidente que se recusa a controlar situação. “O Brasil é uma ameaça à humanidade”, concluiu Jesem Orellana, epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz Amazônia, nesta quarta-feira (10) à agência de notícias francesa AFP, antes de afirmar que “a luta contra a Covid-19 foi perdida em 2020 e não há a menor chance de reverter esse trágico cenário no primeiro semestre de 2021”.
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“O máximo que podemos fazer é esperar o milagre da vacinação em massa ou uma mudança radical no manejo da pandemia. Hoje o Brasil é uma ameaça à humanidade e um laboratório a céu aberto, onde a impunidade na gestão parece ser a regra”, sentenciou
Preocupação internacional
O alerta de Orellana chega no momento em que o mundo reforça a preocupação com a situação no Brasil. Na última sexta-feira (5), o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que o avanço da pandemia da Covid-19 no país é “muito preocupante” e pediu que o governo federal tome medidas “agressivas” para deter a epidemia.
“O Brasil deve levar esta luta muito a sério”, disse Ghebreyesus, acrescentando que são fundamentais medidas para interromper a transmissão.
Na mesma linha de Tedros, Mike Ryan, principal especialista em emergências da OMS, disse que “agora não é hora de o Brasil ou qualquer outro lugar relaxar”.
“Achamos que já saímos disto. Não saímos”, disse Ryan. “Países regredirão para um terceiro e um quarto surto se não tomarmos cuidado. A chegada da vacina traz esperança, mas não devemos achar que o pior já passou. Isso só faz o vírus se espalhar mais”, disse.
Na mesma semana, o jornal americano The New York Times, em reportagem, tratou a crise da Covid-19 no Brasil como um alerta para o mundo todo. “Nenhuma outra nação que sofreu um surto tão grande ainda está lidando com um número recorde de mortes e um sistema de saúde à beira do colapso. Muitas outras nações duramente atingidas estão, pelo contrário, tomando medidas em direção a uma aparente de normalidade”, escreveu o jornal.
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Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, também na semana passada, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis pediu ao mundo que se “pronuncie com veemência sobre os riscos que o Brasil representa” no combate à pandemia.
Brasil e as novas variantes
Preocupa especialmente especialistas e autoridades no exterior a variante de Manaus. Descoberta no fim de 2020, ela é chamada de P.1 e está associada ao novo ápice da pandemia no Brasil. Foi devido a ela que inúmeros países restringiram a entrada de viajantes brasileiros.
Mesmo diante desse quadro, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) tem agido para enfraquecer medidas de isolamento impostas por estados e municípios, alegando que isso prejudica a economia. Na semana passada, Bolsonaro afirmou que é preciso parar de “frescura” e “mimimi” em meio à pandemia e perguntou até quando as pessoas “vão ficar chorando?”. Ele ainda chamou de “idiotas” as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.
Ao longo da pandemia, Bolsonaro minimizou frequentemente os riscos do coronavírus, além de promover curas sem eficácia e tentar sabotar iniciativas paralelas de vacinação lançadas em resposta à inércia do seu governo na área.
A campanha de vacinação do Brasil está progredindo lentamente. Cerca de 8,6 milhões de pessoas (4,1% da população) receberam uma primeira dose de vacina, e cerca de 3 milhões receberam uma segunda dose.
Vacinação a passos lentos
Na terça-feira, o governo reconheceu que a campanha nacional de imunização contra a Covid-19 corre o risco de ser interrompida no Brasil por falta de vacinas. O Ministério da Saúde enviou uma carta ao embaixador da China em Brasília pedindo que ele interceda junto à estatal Sinopharm para liberar 30 milhões de doses de seu imunizante ao Brasil.
Na terça-feira, registrou quase 2 mil mortes em menos de 24 horas, um recorde. A ocupação dos leitos de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) destinados a pacientes com a doença já supera os 80% em 20 unidades da federação.
Com informações da AFP, Clarín e DW Brasil