Poucos meses após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmar que o governo não deveria ir atrás de farmacêuticas, o Ministério da Saúde pediu ajuda à Embaixada da China, em Brasília, para obter 30 milhões de doses da vacina BBIBP-Corv, produzida pela Sinopharm, ainda no primeiro semestre deste ano.
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O ofício foi enviado na segunda-feira (8) pelo secretário-executivo do ministério, Élcio Franco, ao Embaixador da China, Yang Wanming. No apelo ao país, que já foi criticado pelo presidente e seus aliados mais próximos, o governo admite que “por falta de doses, dada a escassez da oferta internacional”, a campanha nacional de imunização pode parar.
“A principal estratégia brasileira para conter a pandemia e, em particular, essa variante P1 é intensificar a vacinação. Até a presente data, já foram vacinadas mais de 9 milhões de pessoas. A campanha nacional de imunização, contudo, corre risco de ser interrompida por falta de doses, dada a escassez da oferta internacional. Por conta disso, o Ministério da Saúde vem buscando estabelecer contato com novos fornecedores, em especial a Sinopharm, cuja vacina é de comprovada eficácia contra a Covid-19”, escreve o secretário.
Diferente do que afirma o governo, no entanto, a falta de doses ocorre após o Ministério da Saúde negar negociações e não dialogar com fornecedores. O imunizante produzido pela Sinopharm, por exemplo, não está entre as doses negociadas ou em sondagem já anunciadas, apesar da eficácia média de 79% e de estar sendo utilizado na China, junto com as vacinas produzidas pela Sinovac, que tem parceira com o Instituto Butantan.
Franco também disse ao embaixador que a variante brasileira da Covid-19 tem rapidamente levado pacientes a quadros graves.
“O Ministério da Saúde está ciente da importância de conter essa cepa e de impedir que se espalhe pelo mundo, recrudescendo a pandemia”, declara.
A aprovação do seu governo do governo de Jair Bolsonaro começou a minar após o presidente minimizar a pandemia e empenhar pouco esforço na compra de vacinas. Com o aumento da rejeição ao seu nome nas pesquisas, Bolsonaro passou a demonstrar maior interesse em aumentar a oferta de imunizantes. Ele chegou a elogiar a Pfizer, em reunião com a empresa na segunda-feira (8), mesmo tendo rejeitado por meses as ofertas da farmacêutica. O governo, agora, espera fechar a compra de 100 milhões de doses da Pfizer.
Conflitos com a China
A postura contrasta com declarações de Bolsonaro durante a pandemia. Ele já afirmou que não compraria doses da Coronavac, desenvolvida na China, em razão da sua “origem”, desautorizando o ministro Eduardo Pazuello, que havia negociado a aquisição de 46 milhões de doses do imunizante.
Um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), chegou a culpar a China pela disseminação do coronavírus. Na ocasião, a embaixada chinesa reagiu ao responder ao deputado: “As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental que está infectando a amizade entre os nossos povos”, publicou a embaixada em uma rede social.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo e G1