
Desde o início da pandemia, o Brasil produziu mais estudos sobre a Covid-19 do que a Holanda, Suíça e Japão. Até 17 de outubro, foram ao menos 168.546 publicações científicas relacionadas à doença em todo o mundo. Dessas, 4.029 são assinadas por pesquisadores que trabalham no país, posicionando a produção brasileira na décima primeira posição no ranking mundial.
Leia também: Das dez melhores universidades da América Latina, três são do Brasil
As informações fazem parte de um levantamento feito pela Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica, a pedido da pró-reitoria de pesquisa. A Universidade usou dados da plataforma Dimensions, uma base de dados internacional com atualização diária. Segundo o pró-reitor de Pesquisa da USP, Sylvio Canuto, os números confirmam a tendência de bom desempenho da produção científica brasileira.
“A ciência brasileira se desenvolveu muito. Estamos em um estágio de desenvolvimento muito bom. Nos últimos cinco anos, o Brasil vem aparecendo como o 13º país do mundo que mais publicou artigos científicos e revisões de pesquisa”, afirmou Canuto. “Neste ano, em um período de oito meses, os pesquisadores brasileiros conseguiram melhorar sua performance no caso específico da covid-19.”
Brasil liderou artigos
Os números do Brasil mostram que entre as publicações sobre a Covid-19, a maior parte foi de artigos científicos (3.542) e preprints, versões prévias dos trabalhos (468). A maioria é de ciências médicas e da saúde (2.204). Mas há também produção de outras áreas. São artigos sobre ciências biológicas (207) e sociologia (183).
Entre os pesquisadores residentes no Brasil, os dois que mais publicaram artigos trabalham na Fiocruz. São a virologista Marta Giovanetti, da Fiocruz (26 publicações), e o infectologista Júlio Henrique Rosa Croda (20). Os dois também lideram em número de citações. Tiveram 633 e 475 menções, respectivamente.
“Trabalhamos sem parar, no Brasil e na Itália, foi muito cansativo”, conta Marta Giovanetti. Ela é italiana e trabalha no Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz. “Caracterizamos os primeiros genomas, buscamos a história da progressão do patógeno, queríamos entender a dinâmica de dispersão da Itália para o Brasil; comparamos a situação em Minas, São Paulo e Rio, os principais ‘hot spots’ do País, para entender a dispersão do patógeno.”
Capacitação com a epidemia de zika
Para a pesquisadora italiana, a boa posição do Brasil não foi surpresa. “Como europeia, fico à vontade para dizer que o Brasil é uma potência emergente, com um potencial gigantesco, excelentes profissionais”, afirmou. “Além disso, a epidemia de zika permitiu que nos capacitássemos nas mais novas técnicas de monitoramento e vigilância genômica. E como o vírus demorou um pouco mais para chegar aqui, já estávamos esperando, não entrou de forma silenciosa como na Europa.”
Croda, que também trabalha na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, lembra que o Brasil já se destacara na produção científica durante a epidemia de zika. “No caso da zika, foi declarada uma emergência global, mas o epicentro da epidemia era no Brasil, natural que tivéssemos esse protagonismo”, ponderou o infectologista, autor do primeiro estudo nacional confirmando a toxicidade da cloroquina. “Na covid, temos uma pandemia de impacto global. Podermos produzir ciência de forma competitiva, nas condições em que o País se encontra, é uma grande vitória da academia.”
O levantamento mostrou também que a USP teve a maior produção científica entre as instituições brasileiras. Foram 729 publicações, o que representa 18,5% do total nacional. Na sequência, estão a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com 261, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 237.
Com informações do Estadão