“É inaceitável tentar envolver as Forças Armadas em uma ruptura.” A frase foi dita pelo tenente-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, mas lembra o exemplo de outras, ouvidas nos Estados Unidos: “Quando me tornei militar, há 50 anos, fiz um juramento de apoiar e defender a Constituição”.
“Nunca sonhei que tropas que fizeram o mesmo juramento que eu pudessem receber a ordem, sob quaisquer circunstâncias, de violar os direitos constitucionais de seus compatriotas.” Quem as disse foi o general James Mattis, ex-secretário da Defesa de Donald Trump.
Pela primeira vez na história recente dos EUA, um presidente quis usar o Exército para controlar manifestações populares, garantidas pela Primeira Emenda. O exemplo de Mattis frutificou. Quase uma centena de líderes militares assinou manifesto contra Trump.
Atrito político
Desde que começaram os atritos de Bolsonaro com o Supremo Tribunal Federal ou de quando seus filhos e amigos são alvo de investigações, quase duas dezenas de manifestos foram feitos por militares brasileiros que só tiveram olhos para decisões do STF, mas não disseram palavra sobre as denúncias contra o bolsonarismo.
É nesse contexto que surge o exemplo do tenente-brigadeiro Ferolla. Ex-presidente do Superior Tribunal Militar, ele mandou mensagens aos amigos, alertando-os sobre as iniciativas dos militares ligados ao Planalto. “Quem gera as crises é o presidente.”
Ferolla representa o distanciamento do governo de parte dos brigadeiros, ainda mais após o decreto, que acabou revogado, que dava ao Exército o direito de ter aviação de asa fixa, enquanto os aviões da FAB ficam em solo por falta de combustível.
Reunião ministerial
Ferolla conta sua impressão sobre o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril: “Dentro de um prostíbulo seria imoral”. E Ferolla explica por quê. “Cria-se um ambiente em que ninguém respeita nada. Isso é falta de liderança. O chefe tem de dar o exemplo.” É aqui onde Trump e Bolsonaro falham miseravelmente: o exemplo. O caso de Bolsonaro seria agravado por lideranças militares que o cercam e assistem a tudo em silêncio.
Esse é o caso da pasta da Saúde, onde está o general Eduardo Pazuello, que parece acreditar que a Nação não precisa saber da gravidade do momento. Para tanto, alguém lhe deu o “bizu” de que bastaria não contar os mortos pelo coronavírus ou contar de forma diferente. Esse é o exemplo que Bolsonaro dá à Nação. E, assim, as críticas ao presidente vão se avolumando entre os militares.
Com informações do Estadão.