Uma campanha reuniu informações sobre mais de mil mães solo que não conseguiram acesso ao auxílio emergencial e passam pela pandemia sem apoio desde o início da crise sanitária. Intitulado como “Campanha Renda Básica” o movimento tem apontado desde o ano passado para as denúncias dessas mulheres que não recebem o benefício.
“Efetivamente, hoje, no Brasil a gente tem muitas mães que não sabem o que vão dar para os filhos comer porque não têm auxílio emergencial”, afirmou a diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, Paola Carvalho, que também é uma das organizações integrante da Campanha Renda Básica que Queremos.
Ela afirmou que é preciso união de todas para que as denúncias de de privação de direitos faça efeito.
“Nós precisávamos achar um jeito de fazer o governo funcionar a partir das nossas denúncias. Seja por processo coletivo, por denúncias na imprensa ou por relatórios técnicos que apontassem para esse cenário. Por isso que nós começamos a sistematizar essas denúncias”.
Paola Carvalho
A percepção é de que os problemas de implementação do benefício atingem as mães que criam os filhos sozinhas de maneira ainda mais cruel. A campanha tem recebido centenas de relatos que confirmam o cenário. Há casos de mulheres que receberam valores abaixo do que têm direito e até mesmo situações em que benefício foi bloqueado ou suspenso e situações em que elas estão com o cadastro pendente há meses.
Valor insuficiente
A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) afirmou que além de existir mães solo que tiveram o acesso ao auxílio emergencial negado ou bloqueado, aquelas que recebem conseguem um valor “irrisório” diante do aumento dos preços.
“É um valor absolutamente insuficiente em um momento em que a pandemia não passou. A pandemia segue. E o desemprego e o desalento sobretudo no caso das mulheres? É a menor participação das mulheres na População Economicamente Ativa (PEA) desde a década de 80. É um retrocesso gigante”.
Fernanda Melchionna
Os organizadores da campanha ressaltam esses casos precisam ser revistos e corrigidos com urgência. Além disso, há a demanda para abertura de um canal de comunicação e contestação, com possibilidade de encaminhar documentos para facilitar a comunicação com o Ministério da Cidadania. Para pedir providências ao governo, o movimento enviou um ofício à pasta.
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Mães solo no Brasil
Em 2020, as latino-americanas sofreram um retrocesso histórico em termos financeiros e profissionais por causa da pandemia da covid-19. No Brasil, o oitavo país mais desigual do mundo, os impactos foram ainda profundos: quase 8,5 milhões de mulheres saíram do mercado de trabalho no terceiro trimestre, e sua participação caiu a 45,8%, o nível mais baixo em três décadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dentro desse universo feminino, as mães solo, que somam mais de 11,5 milhões no Brasil, passaram não somente a enfrentar mais riscos e dificuldades financeiras em decorrência da pandemia como também sofrem uma sobrecarga mental e um maior acúmulo de tarefas devido ao fechamento de escolas e creches.
Em abril do ano passado, o governo federal aprovou uma renda mínima emergencial de R$ 600 ao mês para trabalhadores autônomos e desempregados durante a pandemia, sendo o dobro desse valor no caso das mães solteiras, mas milhares de mulheres tiveram suas solicitações rejeitadas.
Segundo dados recentes de um relatório das ONGs Gênero e Número e da Sempreviva Organização Feminista (SOF), 50% das brasileiras passaram a cuidar de outra pessoa durante a pandemia. Quase 40% das entrevistadas na pesquisa afirmaram que o isolamento social pôs em risco o sustento de seu lar; dessas mulheres, 55% eram negras, geralmente as mais afetadas.
No Brasil há mais de 11 milhões de mulheres que são mães solteiras e, por mais que suas realidades sejam diversas e atravessadas por diferentes questões regionais e de classe, assemelham-se em alguns aspectos. Para a maioria das mães, especialmente para as que são as únicas encarregadas do lar, as dificuldades relativas ao cuidado e a sobrecarga de tarefas persistem, aprofundadas pela crise, sem atenção nem solução.
Assista à entrevista do Brasil de Fato na íntegra:
Com informações do Brasil de Fato e El País