
O aumento no número de candidaturas que levam no nome títulos policiais ou militares já era registrado. A larga maioria é de homens, apesar disso, foram as candidaturas de mulheres policiais e militares que mais cresceram entre 2016 e 2020 – mais de 300% no caso delas, 65% no deles. As informações são do Observatório das eleições.
Elas continuam a ser minoria nesse grupo, uma vez que os homens que ocupam nesses casos uma fatia muito maior que a do conjunto total de candidaturas. Se considerarmos que as mulheres são cerca de 12% dos efetivos das polícias militares, e menos que isso nas carreiras nas Forças Armadas.
Mas, enquanto em 2016 elas correspondiam a 3% do grupo que pretende mobilizar o eleitorado usando junto a seu nome um título policial ou militar, hoje são 5,8%. O maior crescimento se deu entre as candidaturas ao cargo de vice-prefeita, em que passaram de 2,2% em 2016 para 8,1% em 2020.
Leia também: Eleições 2020 um a cada dez candidaturas a prefeito é de mulheres
Nesse caso, o crescimento mais acentuado acompanha o quadro geral do aumento de candidaturas femininas e pode indicar que os partidos viram nas vices uma possibilidade de beneficiar os homens que estão na cabeça da chapa com recursos que, por lei, deveriam ser dirigidos às mulheres, aproveitando brechas na lei.
Candidatas a prefeita e títulos militares
Entre as candidatas a prefeita, 321 levam esses títulos junto a seu nome, algumas delas disputando as prefeituras das capitais. Na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a Delegada Marta Rocha (PDT) está em segundo lugar nas pesquisas, empatada com o atual prefeito e candidato à reeleição Marcelo Crivella (Republicanos).
Em Goiânia (GO), o terceiro lugar está com a candidata Delegada Adriana Accorsi (PT). Com filiação partidária e agenda de esquerda, elas têm um perfil distinto da maioria das mulheres que recorreram à força e à segurança para construir sua relação com o eleitorado.
Na corrida pela prefeitura de Campo Grande (MS), a Delegada Sidnéia Tobias (Podemos), em quinto lugar nas pesquisas, foi a primeira mulher a comandar o Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos no estado.
A maior parte das candidaturas está ainda à direita das candidatas mencionadas acima, concentrando-se principalmente no Partido Social Liberal (PSL), seguido pelo Partido Social Democrático (PSD) e pelo Republicanos. Olhando de modo agregado, nota-se que o aumento dessas candidaturas foi sustentado, principalmente, pelos partidos de direita.
A esquerda, que já apresentava um percentual baixo, teve um aumento mais sutil, enquanto o centro teve um declínio considerável. Esse padrão acompanha as taxas vistas para o total de candidaturas femininas, que subiu apenas entre os partidos de direita, acompanhando o aumento desse grupo de partidos dentro do total de candidatos lançados em 2020.
Trata-se, assim, de candidaturas que se associam à agenda da “ordem”, característica da direita. A agenda não é nova, mas os perfis predominantes têm relação com dois fenômenos que ganharam peso no Brasil, a Operação Lava-Jato, iniciada em 2014, e a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018.
Em um contexto no qual os partidos se viram mais pressionados a cumprir a legislação, as cotas também podem ter aberto espaço a uma inclusão que vem junto com a aderência às identidades com apelo eleitoral no momento.
Mas a noção de “ordem” à qual mulheres candidatas, em sua maioria de direita, se associam não fica restrita à força e à segurança. A identidade religiosa também é expressiva no apelo à ordem, nesse caso à ordem moral, junto ao eleitorado.
Identidade religiosa e ordem moral
Em 2016, as mulheres representaram 21,7% das candidaturas que levam títulos religiosos junto a seus nomes; em 2020, chegaram a 26,8%. Nesse caso, o aumento foi maior na disputa pelo cargo de vereador, em que elas são 27,3%, seguido do cargo de vice-prefeito, em que correspondem a 19,3% das candidaturas com identidade religiosa.
Na corrida para prefeito, elas era 8,2% em 2016 e são hoje 6,2%, ampliando ainda mais a predominância masculina de candidatos pastores e bispos, assim como daqueles que se identificam como “irmãos”.
Diferenças entre mulheres candidatas com títulos militares e religiosos
Se entre as policiais-militares as chaves para o aumento das candidaturas são a Lava-Jato e Bolsonaro, as religiosas remetem a outros processos – que, claro, se entreluzam com estes. Relacionam-se a um fenômeno que tem correspondentes em outros países latino-americanos e vem se desenhando há mais tempo, no qual têm destaque as candidaturas evangélicas conservadoras, como apresentado no livro “Gênero, neoconservadorismo e democracia“, de Flávia Biroli, Maria das Dores Campos Machado e Juan Vaggione.
É possível trabalhar com a hipótese de que as igrejas evangélicas estejam se tornando um caminho para a participação política das mulheres, que são maioria entre os fiéis. Diferentemente do que se deu em períodos anteriores da história brasileira, em que mulheres encontraram caminhos para a política associadas às Comunidades Eclesiais de Base católicas e, portanto, na oposição à ditadura e em movimentos com potencial progressista, nesse caso o que se destaca é o conservadorismo.
Classificação dos partidos:
Esquerda – PCdoB, PCB, PCO, PDT, PMN, PPL, PROS, PSB, PSOL, PSTU, PT, PV, Rede e UP. Centro – MDB, PPS, PSDB. Direita – Novo, PAN, Patriota, PTB, DEM, PGT, PHL, PL, PMB, PP, PRN, PR, PRB/Republicanos, Prona, PRP, PRTB, PSC, PSDC/DC, PSL, PST, PTdoB/Avante, PTC, PTN/Podemos e Solidariedade.
Com informações do Observatório das Eleições