
A venda de Cannabis medicinal pode movimentar mais de R$ 2 bilhões até 2025 no Brasil, de acordo com o Relatório Cannabis na América Latina e Caribe (em tradução livre), realizado pela consultoria independente Prohibition Partners, com sede em Londres, no Reino Unido. A legislação conservadora e a questão moral, no entanto, são barreiras para o desenvolvimento desse mercado.
Para falar sobre o assunto, o Socialismo Criativo Entrevista conversou com o deputado federal Luciano Ducci (PSB-PR). O socialista foi relator do Projeto de Lei (PL 399/2015), que autoriza a plantação da Cannabis para fins medicinais, veterinários, industriais e científicos.
“O preconceito atrapalha muito, especialmente, as famílias que dependem desse tipo de medicação para garantir o bem-estar de crianças que tem 30 ou 40 convulsões por dia.”
Luciano Ducci
Confira a entrevista
Projeto aguarda decisão da Mesa para seguir tramitação
Aprovado em Comissão Especial da Câmara dos Deputados, o projeto de lei aguarda deliberação da Mesa Diretora da Casa para ser votado em plenário ou encaminhado ao Senado. Na ocasião da aprovação, o projeto sofreu uma forte oposição de parte dos deputados; e o resultado terminou empatado com 17 votos contra e 17 a favor. O desempate ficou por conta do relator, o socialista Ducci, que votou a favor do próprio relatório.
A legislação é aguardada por associações brasileiras que já desenvolvem assistência a famílias que utilizam de medicamentos à base de Cannabis, algumas, inclusive, com decisões judiciais favoráveis ao acesso. “Praticamos a desobediência civil porque acreditamos que a lei de drogas existe para coibir a violência, mas não pode proibir pessoas que fazem uso de substância controlada, muitas vezes como a única alternativa para uma melhoria de vida”, explica o advogado Antônio de Pádua, da Associação Flor da Vida, sediada em Franca, no Estado de São Paulo.
Até 2020, segundo relatório da Prohibition Partners, 23.121 pacientes brasileiros utilizavam produtos, farmacêuticos ou não, à base de Cannabis com fins terapêuticos. O número pode crescer mais de 11 vezes e chegar a 262.088 em 2025.
As estimativas da empresa de dados e inteligência sobre a planta indicam que há um enorme potencial para o mercado de cannabis no Brasil. A Prohibition Partners afirma que o país é “de longe, o maior mercado da América Latina”. Somente a Flor da Vida possui 1,5 mil associados e está ampliando a atuação com apoio financeiro das famílias que atende, mantendo, inclusive laboratório para produção de medicamentos e clínica para atendimento aos pacientes.
“Estamos ampliando nosso atendimento para associados e colaborados devido aos nossos próprios resultados. Não fazemos propaganda, as pessoas chegam até nós recomendadas pelos membros. Temos duas unidades para atendimento para associados e colaborados e estamos criando uma terceira numa chácara para desenvolver ecoterapia, com tratamento multidisciplinar”, explica Pádua.
A regulamentação brasileira ainda é restritiva e impede o cultivo da planta, o que faz com que os produtos custem de R$ 1.500 a R$ 2.000 na farmácia. Os custos para a importação também são altos. Por isso, as associações são a única chance para parte dos pacientes brasileiros fazem uso da Cannabis medicinal, conforme explica Pádua. “A gente tenta acolher essa família da melhor maneira possível. Com a contribuição voluntária dos membros, podemos oferecer o tratamento para atender também a quem não pode pagar por eles”.
Atualmente, produtos à base de Cannabis podem ser vendidos em farmácias no Brasil. A liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aconteceu em 2019. Depois disso, a agência regulatória liberou novas fórmulas e produtos, mas as opções disponíveis ainda são poucas.
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A Cannabis medicinal já começou a ser testada também contra a Covid-19. Atualmente, o Núcleo de Insuficiência Cardíaca e Dispositivos Mecânicos para Insuficiência Cardíaca do Instituto do Coração, de São Paulo realiza o primeiro estudo clínico do Brasil com canabidiol para o tratamento de pacientes com Covid longa, aquela com efeitos prolongados. dadoença.
A pesquisa, com duração prevista de três meses, contará com a participação de 290 pacientes que apresentam fadiga muscular, insônia, ansiedade, depressão e alterações cognitivas por pelo menos noventa dias após o diagnóstico.
Com informações do Poder360 e Veja