A pandemia de covid-19 intensificou o uso de tecnologias digitais no Brasil. No país, o número de domicílios com acesso à internet saltou de 71% dos domicílios em 2019 para 83% em 2020, o que corresponde a 61,8 milhões de domicílios brasileiros conectados à internet. Com isso, e embora tenham crescido as desigualdades, também cresceu o uso de telefones celulares para conectar à internet, inclusive, como o recurso mais simples e fácil para ler notícias.
Os dados são da Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros (TIC Domicílios) 2020, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), órgão do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
De acordo com o coordenador do CGI.br, Márcio Migon, a internet e dispositivos móveis passaram a desempenhar papel central durante a pandemia, permitindo o desenvolvimento de atividades empresariais como o home office, das vendas on line, prestação de serviços públicos, atividades educacionais com o ensino remoto e telemedicina.
“Ao mesmo tempo, a vida digital permite muitas possibilidades, inclusive abrindo fronteiras para uma parcela da sociedade, por um lado. Por outro lado, as diferenças e as dificuldades de acesso se mostraram ainda mais graves, agravando as fraturas sociais e as desigualdades. É preciso diagnóstico para que possamos implementar políticas públicas que venham ao encontro de reduzir essas diferenças”.
Migrações dos setores de ensino, trabalho, lazer e serviços públicos para o mundo online são apontados como impulsionadores do aumento da conectividade nos domicílios no ano passado.
Leia também: Qual é a importância do 5G no cenário político da América Latina?
O aumento mais expressivo foi sentido na classe C, onde em 2015 pouco mais da metade dos domicílios contavam com internet, passando dos 90% em 2020. Nas classes D e E, em que a diferença em relação às classes A e B era de 83 pontos percentuais, isso reduz em 2020 para 36 pontos percentuais.
Embora a pesquisa mostre que a redução das desigualdades entre as regiões do país, a desigualdade ainda é real em todo o país, onde 81% da população é usuária da internet. Nesse contexto, a presença do computador se tornou uma questão relevante, com acesso muito desigual. Enquanto o equipamento está presente em 100% dos domicílios da classe A, ele está em apenas 13% das classes D e E.
“O Brasil tem um modelo bastante desigual, com 20% da população sem qualquer acesso à Internet e mais da metade dependendo do acesso móvel, caracterizado por altos preços, franquias e bloqueios ao fim destas”, explica o pesquisador Jonas Valente, do Laboratório de Políticas de Comunicação da Universidade de Brasília, ressaltando que a expectativa de melhor conectividade pelo 5G não implica na redução das desigualdades.
“O modelo de introdução do 5G do governo federal não só não se preocupa com isso como pode ampliar as desigualdades com tecnologias mais caras e menos acessíveis. O 5G tem sido trabalhado muito mais com uma preocupação para os setores econômicos, como indústria e agronegócio, do que para resolver os problemas de conectividade da população brasileira”. Jonas Valente
Por fim, mais um dado positivo ocorrido durante a pandemia. A presença da fibra ótica chegou a 56% das casas em 2020, sendo de 59% nos domicílios urbanos e 29% nos rurais. Por classe social, a fibra está em 83% da classe A e em 38% das classes D e E. Já o acesso exclusivamente pelo telefone celular foi de 11% na classe A e chegou a 90% nas D e E, ficando numa média geral de 58%.
Usuários buscam notícias pelo celular
“Estive internada na UTI em estado muito grave e depois na maternidade. Depois meu esposo precisou se internar para uma pequena cirurgia. O celular nos manteve em contato mútuo e com familiares e amigos, ansiosos por notícias, bem como nos permitiu ter acesso a informações, para saber coisas do mundo, como reportagens sobre aquilo que estávamos vivendo, mas também acesso a vídeos. Também me tirou do isolamento da UTI, me possibilitou ouvir uma música e me distraiu do som cansativo das máquinas deste ambiente. Sem contar na maternidade onde precisei de medicamentos e outras necessidades, assim como meu esposo na enfermaria. Se não tivesse a praticidade e portabilidade do celular não teríamos como falar um com o outro e com nossos amigos. Um laptop seria inviável pelo tamanho e peso que meu momento pós cirúrgico não permitia”.
Elisângela Alvarenga de Souza, 41, professora
“Sou moradora do município de Presidente Figueiredo, no interior do Amazonas, e frequentemente vou para áreas remotas, já que somos conhecidos como a ‘terra das cachoeiras’. Atualmente, busco notícias sobre meio ambiente, economia e bastante sobre política, além de questões minoritárias. Também gosto de ver algumas bobagens sobre celebridades para me distrair, mas também informações gerais sobre o funcionamento do município. Com isso, o celular tem papel central na minha vida porque é por meio dele que eu sempre acesso a internet e, consequentemente, notícias. Geralmente, nos intervalos do trabalho, ao acordar e em momentos de espera de algo, como em consultórios, também utilizo o celular para ler notícias. Geralmente é aquele tempo de um espaço pro outro que a gente faz isso”.
Hellen Priscilla de Souza Melo, 40, bancária