
Lideranças do Centrão aumentaram nos últimos dias a pressão pelo desmembramento do Ministério da Economia, com o respaldo de setores da Esplanada antagônicos ao ministro Paulo Guedes. O plano é recriar as pastas da Previdência, Trabalho e o antigo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), esvaziando o superministério arquitetado na transição, em 2018.
A ideia de dividir o ministério ganhou força em meio a uma onda de “ataques especulativos” contra Guedes. Ela tem sido discutida no contexto de uma “distribuição de carga política” do governo e de uma tentativa de acomodar interesses às vésperas da disputa pela Presidência da Câmara.
Na última quinta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro usou o Twitter para classificar como “fake news” e “mais uma mentira” a possibilidade de separação das pastas. Mais tarde, em sua live semanal nas redes sociais, reforçou a negativa.
“Não existe da nossa parte neste momento nenhum interesse em recriar nenhum ministério”, disse Bolsonaro. “É para tentar tumultuar, para tentar desgastar o Paulo Guedes. É Fake News”, afirmou.
Conversa fiada? Parece que não
Guedes, por sua vez, chamou os rumores de “conversa fiada” e disse que “não existe nada disso”. O ministro foi socorrido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com quem tem um histórico de desavenças, mas com quem se reconciliou recentemente.
“Não tem ministro da Economia fraco, muito menos o ministro Paulo Guedes”, disse Maia. “Tenho certeza que ministro tem todo o apoio do governo.”
O jornal Valor Econômico apurou, no entanto, que essa discussão ocorre, sim, inclusive dentro do governo.
Guedes, relatam fontes na Economia e no Palácio do Planalto, não se opõe ao desmembramento de seu ministério, mas somente aceita a hipótese de perder as áreas de Previdência e Trabalho. Ele quer manter o controle sobre a área hoje comandada pelo secretário de Emprego, Competitividade e Produtividade, Carlos Da Costa.
Um primeiro movimento, segundo os debates que correm na ala política do governo, seria apartar a área de Previdência e Trabalho. Isso não é visto como dramático ou um sinal de enfraquecimento de Guedes, desde que a formulação de uma política de emprego continue sob seu comando.
Brecha
O ministro tem falado em várias palestras sobre a “rampa de ascensão social“, que passa pela Carteira Verde-Amarela e a desoneração da folha. É uma agenda totalmente atropelada pela formulação do Renda Cidadã, mas que ganhará importância quando os efeitos do auxílio emergencial passarem e a nova realidade do mercado de trabalho se revelar.
Carlos Da Costa, porém, está prestes a ir para o BID Invest, braço de investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Para alguns setores da Esplanada dos Ministérios, a mudança, avalizada pelo próprio Guedes, abre uma brecha para a recriação do MDIC.
“Carlos Da Costa é o MDIC. Faz todo o sentido recriar o ministério agora”, diz uma fonte do governo.
Desmembramento da Economia
A informação sobre o desmembramento do ministério parte sobretudo de parlamentares do Centrão, de olho em cargos na Esplanada. Há também diferentes grupos de pressão, encabeçados pelos ministros que seriam “gastadores” – Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Tarcísio Freitas (Infraestrutura).
Segundo relatos, Rodrigo Maia também faz parte do grupo, apesar da declaração de ontem.
Há também uma avaliação de caráter técnico em defesa do desmembramento: a de que houve um “erro de concepção” na criação do Ministério da Economia. Por esse raciocínio, misturaram-se ministérios meio (Fazenda e Planejamento) com áreas fim (MDIC, Previdência e Trabalho).
Com informações do Valor Econômico