Deixados à própria sorte durante a pandemia, sem infraestrutura sanitária e vivendo em condições precárias, moradores de periferias observam no avanço da Covid-19 a oportunidade de construir uma chapa eleitoral. A situação de vulnerabilidade pode “virar um capital político para candidaturas periféricas conectadas com o território”, avalia Wellington Amorim, 25 anos.
Morador do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, Amorim é colaborador de comunicação na candidatura coletiva criada por um grupo de cinco moradores e militantes negros das zonas Leste e Sul da capital.
A ausência e omissão do Estado em áreas carentes não é novidade, mas a crise sanitária acabou realçando ainda mais esse abandono do poder público. Por outro lado, essas condições deram impulso a iniciativas como a que acontece em São Paulo.
O Valor destaca que na cabeça de chapa da candidatura coletiva está Elaine Mineiro, 36 anos, geógrafa, arte-educadora e coordenadora de núcleo da Uneafro. A chapa reúne pessoas que vivem, trabalham e militam em coletivos nesses territórios.
“Nós consideramos ser desse território. Somos pessoas pretas e periféricas que estão dentro de organizações e movimentos de periferia. Não somos representantes. Nós somos essa população, somos essas pessoas”, explica Elaine Mineiro.
O grupo não tem um histórico de atuação na política institucional e partidária, mas optou por se filiar ao Partido Socialismo e Liberdade (Psol) para fazer a primeira tentativa de ocupação de um espaço formal de poder na Câmara Municipal de São Paulo.
“Na maior dificuldade que a gente passou na história, os partidos políticos, os políticos que a gente elegeu, não vieram fazer nada pela gente aqui não. Foram apenas as entidades de base que se moveram, e uma rede toda, estruturada, com várias frentes, que deu assistência para a nossa comunidade”, diz o jornalista e educador físico Antonio Erick, 32 anos, morador do Jardim São Luís, um dos integrantes da candidatura coletiva.
A chapa liderada por Elaine também tem como integrantes: Alex Barcellos, Debora Dias, Júlio César e Erick Ovelha (Antonio Erick).
Os integrantes da ação coletiva, de viés transformador, reconhecem que o momento é desafiador. Além do aumento das mortes pela Covid-19 e o avanço da fome e do desemprego, em especial entre pessoas negras, o grupo aponta o trabalho político de algumas igrejas evangélicas ligadas ao bolsonarismo, como um dos principais obstáculos.
Periferia e eleições 2020
O cientista político Marcos Agostinho Silva, diretor do Instituto MAS, observa que quem tiver envolvimento comunitário ou base eleitoral encontrará mais chances de eleição. “Nas últimas eleições, o mote foi ‘atirar para matar’, mas agora veio à tona um debate racial e social que pode propiciar mais mulheres na política partidária”, avalia ele. Agostinho disse acreditar em uma maior participação das mulheres negras na política.
A eleição 2020 definirá prefeitos e vereadores para mandatos entre 2021 e 2024. Segundo a Agência Mural, só na Grande São Paulo, a disputa envolve os cargos de 39 prefeitos e vice-prefeitos, além de 664 vereadores. Só a capital paulista deve eleger 55 parlamentares. A pandemia do novo coronavírus levou à alteração do calendário eleitoral pelo Congresso Nacional.
Confira o calendário eleitoral para 2020:
- A partir de 11 de agosto: proibição de veiculação de programas apresentados ou comentados por pré-candidato transmitidos por emissoras, sob pena de cancelamento do registro do beneficiário;
- De 31 de agosto a 16 de setembro: autorizadas as convenções partidárias e à definição sobre coligações;
- Dia 26 de setembro: prazo final para registro das candidaturas;
- A partir de 26 de setembro: prazo para que a Justiça Eleitoral convoque partidos e representação das emissoras de rádio e TV para elaborarem plano de mídia;
- Após 26 de setembro: início da propaganda eleitoral, também na internet;
- Dia 27 de outubro: final do prazo para partidos políticos, coligações e candidatos divulgarem relatório discriminando as transferências do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (Fundo Eleitoral), recursos em dinheiro e os estimáveis em dinheiro recebidos, assim como os gastos realizados;
- Dia 15 de novembro: primeiro turno da eleição;
- Dia 29 de novembro: segundo turno da eleição;
- Até 15 de dezembro: prazo para encaminhamento à Justiça Eleitoral do conjunto das prestações de contas de campanha dos candidatos e dos partidos políticos, referentes ao primeiro turno e, onde houver, ao segundo turno das eleições;
- Até 18 de dezembro: Data da diplomação dos candidatos eleitos em todo país, salvo nos casos em que as eleições ainda não tiverem sido realizadas.
Com informações do Valor, Agência Mural e G1