
A colunista da Folha de S.Paulo Tatiana Prazeres assina artigo sobre as altas apostas da China em tecnologia. No texto, ela fala sobre a alta dependência do gigante asiático com a importação de semicondutores. Ciente da fragilidade dos chineses, os Estados Unidos anunciaram medidas para restringir a exportação desses insumos para o concorrente vermelho.
Tatiana analisa que o governo dos EUA foi além e criou dificuldades para que empresas estrangeiras, mesmo fora dos país, vendessem para a China equipamentos e software para a produção de chips.
“Ainda que em escala menor, histórias parecidas se repetem em outras tecnologias. É extensa a lista de empresas chinesas proibidas de fazer negócios com firmas americanas. Com isso, limita-se o acesso chinês a certos insumos estratégicos.”
Tatiana Prazeres
A especialista concluiu que a consequência desses atos dos EUA é que o estado-investidor chinês aumenta o apetite pelo risco. Embora avalie que os investimentos em política industrial, em tecnologia e mesmo em autossuficiência não são novidade na China, agora Pequim mais que dobrou a aposta.
Ela cita a análise feita na última quinta-feira (31) num webinário organizado pelo Cebri e Conselho Empresarial Brasil-China, por Arthur Kroeber. O diretor de pesquisa da Gavekal Dragonomics avaliou que depois de emergir com sucesso da crise do coronavírus, a China se prepara para uma nova era de crescimento.
Essa nova faser chinesa, aponta Kroeber, será impulsionada por amplo apoio estatal a indústrias de alta-tecnologia, entre as quais semicondutores, baterias e carros elétricos, energia renovável e biotecnologia.
Na China, Estado é parte da solução
No artigo, Tatiana comenta a intervenção do governo comunista chinês na economia. Ela pondera que se o intervencionismo estatal tem seus riscos, a lógica do relacionamento entre Estado e mercado na China, no entanto, sempre foi diferente.
“O setor público é visto sobretudo como parte de solução e não como o problema na economia. Expressões como China Inc. e capitalismo de Estado, por exemplo, representam o esforço de capturar a essência deste modelo híbrido — e que também se transforma. Mas enquanto o resto do mundo aponta para as contradições, os chineses enxergam as sinergias da relação.”
Tatiana Prazeres
Tecnologia na base da economia
A análise de Tatiana vai ao encontro da do professor Elias Jabbour. Nesta semana, o especialista em economia da China participou de uma live promovida pelo PSB, Instituto Pensar e Socialismo Criativo, na qual comentou que o processo de reindustrialização brasileira pode passar por acordos econômicos, políticos e geopolíticos com os chineses.
Em sua fala, Jabbour destacou a característica de projetamento do governo chinês, que só é possível por que a economia é controlada pelo Estado e não pelo mercado. Ele percebeu que a China, ao pegar essas plataformas tecnológicas novas a partir das suas estatais, passou a aplicar isso tudo à economia real e a partir disso elevou-se a capacidade de planificar a economia.