Bolsonaro insiste, mas pesquisas científicas demonstram que a dose maior de cloroquina pode causar sérios danos à saúde
Esse foi um dos resultados preliminares do estudo feito com a cloroquina pela Fiocruz e pela Fundação de Medicina Tropical, apontando 13% de letalidade em pacientes com Covid-19 em estado grave. Foram a óbito 11 dos 81 doentes internados que tomaram o medicamento.
De acordo com a Folha, o percentual é parecido com o de estudos internacionais em que a droga não foi aplicada em pacientes nas mesmas condições, 18%.
A proximidade entre os dois índices ainda não permite afirmar uma eficácia preponderante da cloroquina no tratamento dos doentes infectados pelo novo coronavírus.
“Os otimistas podem achar que [a taxa com o uso da cloroquina] é menor. Os pessimistas podem achar que é igual. Estatisticamente, é igual, na margem de confiança”, disse o infectologista Marcus Lacerda, da Fiocruz, que participa do estudo.
Crise sanitária politizada
O estudo converge com as orientações feitas pelo ministro da Saúde, Luiz Mandetta e pela OMS, para evitar o uso generalizado da cloroquina, sem os devidos testes científicos. Por outro lado, a pesquisa contraria Bolsonaro, que avesso a testes científicos mais conclusivos, defende a liberação do remédio.
Recentemente, até o principal órgão de saúde estadunidense recuou em relação ao uso da substância. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) retirou de seu site recomendações para os médicos sobre como prescrever a substância para os pacientes para coronavírus.
Assim como Bolsonaro, o presidente dos EUA, Donald Trump, insiste na defesa da cloroquina.
E, enquanto a população clama por clareza das informações e segurança sanitária, com posturas como a de Mandetta reiterando o cuidado com a substância, Bolsonaro politiza a crise pandêmica.
Em seu twitter, o presidente mantém a defesa, argumentando que dois médicos se recusam a divulgar que fizeram tratamento com cloroquina para se recuperarem da covid-19. Para o presidente, os profissionais não divulgam as informações por “questões políticas”.
– O médico David Uip tomou, ou não, HIDROXICLOROQUINA para se curar? pic.twitter.com/RsfNKAv6qM
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 7, 2020
Conclusões seguras
Para o pesquisador da Fiocruz, “achismos” não têm lugar na ciência, que tem nas questões e nas hipóteses o ponto de partida para realizar investigações com conclusões seguras. A pesquisa terá continuidade até que os dados ganhem robustez e sejam conclusivos.
“Tudo pode. Mas não podemos achar nada”, disse ele, reiterando a importância de aguardar conclusões científicas e seguras do estudo.
Segundo Lacerda, o estudo, que pode durar de 2 a 3 meses, deve ser aplicado em 440 pacientes, de diferentes hospitais do país, sejam testados.
O hospital Incor de São Paulo integra o grupo de pesquisa com as contribuições da cardiologista Ludhmila Hajjar.
A ideia inicial do estudo era administrar uma dose de 10g de cloroquina em metade dos doentes e 5g em outro grupo. Entretanto, a dose maior se mostrou tóxica, com reações indesejadas nos pacientes, como arritmia e “outras complicações graves”, relembrou Marcus Lacerda.
Os testes mostraram que a dose maior do medicamento pode causar danos. Justamente por isso, as conclusões preliminares já foram enviadas para publicação numa revista científica.