A menos de uma semana para a decisão da eleição presidencial na Colômbia, o tabuleiro de alianças e manifestações de apoio continua em movimento constante, depois da derrota das forças tradicionais no primeiro turno. A disputa opõe um nome da esquerda, campo de rejeição tradicionalmente alta no país, a um populista que se vende como outsider e tenta manter a pose de independente.
No próximo domingo (19), Gustavo Petro, que teve 40,3% dos votos no último dia 29, enfrenta Rodolfo Hernández, que nos dias antes do primeiro turno ultrapassou nomes inicialmente mais bem cotados e foi a opção de 28,2% do eleitorado. Entre diferenças e até algumas semelhanças, os dois dividem não só a classe política local.
Em editorial recente, a revista britânica The Economist afirmou que ambos “colocam a Colômbia em risco” e representam “um passo rumo ao desconhecido”, citando a possibilidade de o novo presidente não ter governabilidade —a exemplo do que se dá no Peru com Pedro Castillo. Ainda assim, segundo a publicação, o ex-guerrilheiro de esquerda “parece que aceitaria melhor freios e contrapesos institucionais”.
O ex-guerrilheiro Petro, ex-prefeito de Bogotá e senador, tem buscado mobilizar a militância a buscar votos. Ele travou conversas com políticos de todo o país e amealhou o apoio de lideranças de esquerda do continente. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, deu seu endosso ainda antes do primeiro turno, citando a defesa da democracia —Petro agradeceu chamando o petista de “futuro presidente do Brasil”, indicando sua preferência para o pleito brasileiro.
O candidato viu ainda o Grupo de Puebla assinar documento em seu favor. O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, afirmou que se solidarizava com o político por causa da “guerra suja” patrocinada por uma direita “indigna e covarde”. E acrescentou: “Tudo o que já padecemos no México agora ocorre com Petro: chamam-no de comunista, de guerrilheiro, dizem que a Colômbia vai ser como a Venezuela”.
Gabriel Boric (Chile) também se manifestou, bem como os ex-presidentes do Uruguai Pepe Mujica e da Bolívia Evo Morales, que citou ameaças ao candidato —o esquerdista interrompeu a campanha mais de uma vez e, no segundo turno, tem optado por encontros com pequenos grupos; Hernández fez o mesmo.
1º turno
A “guinada” à esquerda na Colômbia se torna cada vez mais uma realidade. Após os eleitores colombianos terem ido às urnas no dia 29 de maio para eleger o próximo presidente da República do país, o resultado não poderia ser diferente: com as urnas apuradas, o segundo turno vai contar com o senador e ex-guerrilheiro Gustavo Petro, seguido pelo candidato de extrema-direita, Rodolfo Hernández.
Petro somou 40,34% dos votos, ante aos 28,17% de Hernández.
Agora, o país sul-americano se prepara para o segundo turno, que acontecerá 19 de junho. A expectativa é que a Colômbia se junte à esquerda que ‘gravita’ na maioria dos países da América do Sul e que em outubro pode trazer de volta o ex-presidente Lula (PT) ao cargo máximo do Executivo brasileiro.
Cenário
Com a proximidade da eleição de um novo presidente, o povo colombiano também clama por mudanças diante de uma série de problemas enfrentados pelo país: estragos econômicos da pandemia, o aumento da violência, a corrupção, a desigualdade e as feridas deixadas pela repressão de protestos.
Além disso, o descontentamento com a direita é um sentimento em comum do país. O atual presidente Ivan Duque deixará a Casa de Nariño, sede do poder executivo na Colômbia, com alta rejeição e o legado de ter “aprofundado” ainda mais as carências do país.
Soma-se a isso o clima de tensionamento e violência que marca o pleito presidencial. De acordo com a Fundação Paz e Reconciliação (Pares), entre 13 de março e 13 de maio, 222 pessoas foram vítimas de violência eleitoral na Colômbia, sendo 29 assassinatos e 193 ameaças.
Também houve uma série de denúncias de ameaças de morte contra Petro e a Francia Márquez, candidata a vice-presidência, durante a campanha eleitoral. Por conta deste histórico, segundo o poder eleitoral colombiano, Gustavo Petro tornou-se uma das dez pessoas mais custodiadas pela polícia nacional.
Francia Márquez
Pela primeira vez na história da Colômbia, uma mulher negra pode chegar ao Executivo e ser vice-presidente do país. Com reais chances de vitória, a advogada e ativista ambiental Francia Márquez está na chapa do senador de esquerda e ex-guerrilheiro Gustavo Petro, da coalizão Pacto Histórico e favorito em todas as pesquisas eleitorais.
Em 2018, ela ganhou o Prêmio Goldman, conhecido como o “Nobel do Meio Ambiente”, por sua luta ambiental na região. Também foi representante legal do Conselho Comunitário de La Toma, entidade que exige a proteção dos territórios ancestrais negros da Colômbia. No ano seguinte, em 2019, a advogada foi alvo de um atentado com granadas e rajadas de fuzil em represália à sua militância.
Formada pela Universidade Santiago de Cali, Márquez trabalhou na adolescência como garimpeira na mineração de ouro — assim como seus pais. Depois, exerceu o ofício de trabalhadora doméstica para pagar seus estudos e sustentar sua família. Ela é mãe solo e tem dois filhos —teve o primeiro aos 16 anos.
Em discursos durante a campanha, Márquez afirmou que, em caso de vitória, vai trabalhar pelas mulheres, negros, indígenas, camponeses e pela população LGBTQIA+.
Mesmo sob ataques, Márquez permanece como a revelação política desta campanha na Colômbia e tem assumido papel importante na reta final das eleições, já que Gustavo Petro, cabeça da chapa, foi ameaçado e deixou de participar de alguns eventos públicos no último mês.
Em entrevista ao jornal El Espectador, um dos principais da imprensa colombiana, Petro afirmou que a figura de sua candidata à vice está crescendo. “Ela acumulou uma luta social, mas não era visível para a sociedade. Quanto mais visível se torna, mais simpatia acumula. Ela é uma figura em ascensão”, disse.
Com informações da Folha de S. Paulo