Consulta pública realizada pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) aponta que apenas 17,3% das classes C e D, que representam 28,5% da população, foram ao cinema pelo menos uma vez em 2017. Em função disso, a agência estuda reformular o benefício da meia-entrada.
A análise da Ancine foi corroborada pelo Ministério da Economia, que defendeu o fim da meia-entrada. De acordo com o Estadão, o órgão alega que a meia-entrada acaba sendo uma ilusão, uma vez que os preços elevados não compensam a queda das receitas dos exibidores. Por outro lado, conclui a pasta, aqueles que pagam a inteira são lesados.
Limitar a meia-entrada a jovens atendidos por programas sociais do governo, segundo a Ancine, atingiria 16,8 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, ou 7,9% da população.
“Pessoas de famílias com menor renda, em média, estudam por menos tempo do que pessoas de famílias com maior renda. O que significa que jovens de famílias de menor renda ficam menos anos na condição de estudante, tendo assim acesso a ‘meia-entrada’ por menos tempo que jovens de famílias com maior renda.”, argumenta a agência.
Ao olhar para a escolaridade, a avaliação apresenta cenário semelhante. Segundo a pesquisa da Ancine, quanto maior a escolaridade mais as pessoas frequentam cinemas com mais constância, mesmo aquelas com menos renda.
As salas de cinema se baseiam em uma lógica de atuação semelhante à das empresas aéreas, com preços acompanhando a demanda. Nas segundas, terças e quartas as salas costumam trabalhar com preços mais acessíveis, enquanto os mais altos são reservados para o sábado à noite.
O órgão regulador defende que beneficiar pessoas por critérios como deficiência, idade ou ainda pela situação de estudante é mais eficiente. Em relação aos estudantes, a Ancine estima que se trata de um universo de quase 60 milhões de pessoas, ou 31,2% da população, abrindo espaço para distorções.
Apesar de, na análise, não se posicionar em relação a uma solução para corrigir as distorções, a Ancine apresenta três cenários que poderiam subsidiar uma decisão do Executivo ou do Legislativo: manter a política atual, restringir o alcance da meia-entrada ou extingui-la.
Ancine e prejuízos ao setor
Enquanto a agência de fomento ao cinema e o audiovisual brasileiros planeja arranjo para estimular a arrecadação dos cinemas e ampliar o acesso de classes menos favorecidas às salas, o setor reclama acesso aos recursos do Fundo Setorial Audiovisual (FSA), paralisado há pelos menos 1 ano.
Com os cinemas fechados e grande parte das produções audiovisuais suspensas por conta da pandemia, já em maio, o setor projetava perdas em torno de R$ 1,2 bilhão, até o fim de junho.
Sem liberar o fundo, hoje com recursos estimados em R$ 724 milhões, recentemente a Ancine lançou linha de crédito para produtores, junta bancos, no valor de R$ 400 milhões para a retomada do setor.
Com informações do Estadão