
As seleções árabes conquistaram vários resultados surpreendentes contra gigantes na história da Copa do Mundo, mas nada como a campanha de Marrocos no Mundial do Catar. O desempenho da seleção árabe tem o potencial de alimentar as esperanças de mais representação em torneios futuros.
Marrocos eliminou Bélgica, Espanha e Portugal, todos classificados entre as dez melhores seleções do mundo no ranking da FIFA, para se tornar o primeiro time árabe a chegar às semifinais e agora espera derrotar a atual campeã mundial França na quarta-feira (14).
Desde 1930, quando começou, a Copa do Mundo nunca pisou no mundo árabe. Na região compreendida entre Norte da África e Ásia Ocidental, os mais de 300 milhões de árabes estimados no mundo nunca tiveram um contato com o torneio em casa.
A primeira Copa do Mundo em país árabe leva o esporte a um novo local onde ele é amado, mas não é visto pelo mundo. Além disso, o país enfrenta uma série de polêmicas relacionados ao autoritarismo da monarquia absolutista que vive. Entretanto, ao menos na história futebolística, o cenário parece estar mudando.
O futebol mundial também é árabe
Riyad Mahrez, da Argelia, Mohamed Salah, do Egito, Haikimi e Ziyech, do Marrocos. Os nomes são alguns exemplos de jogadores do mundo árabe badalados na Europa. Assim como os brasileiros que brilham e são protagonistas no continente, árabes também estão na prateleira alta do futebol.
Isso fica evidente na Copa do Mundo. Marrocos, apesar de não ter história de conquistas no esporte, tem a principal geração da história, se classificou em primeiro da fase de grupos e eliminou a Bélgica. Nas oitavas, passou por cima da poderosa Espanha, campeã mundial.
As eliminações protagonizadas pelo Marrocos é a prova que o futebol não é dominado somente pela Europa.
Manchester City, Newcastle, PSG, Aston Villa são alguns dos clubes que fazem parte da carteira de investimento de figurões do mundo árabe. Os famosos “sheiks” compram times e jogadores conhecidos e idolatrados na Europa e se inserem neste universo cada vez mais.
É mais uma prova da presença cada vez mais forte do Oriente Médio no esporte. Infelizmente, alguns motivos para isso são obscuros.
Além do futebol: o lado obscuro do Marrocos
Apesar do desempenho louvável do país árabe na Copa do Mundo, o Marrocos ainda sofre com controvérsias sociais e políticas dentro do país, que vão desde a criminalização da homossexualidade ao número assustador de casos de assédio contra mulheres.
O país também enfrenta uma série de manifestações contra a corrupção no governo e a repreensão policial. Os manifestantes protestam também contra a forte inflação no país, que provocou um aumento no número de pessoas vivendo em níveis de pobreza e vulnerabilidade.
A situação do povo marroquino é refletina na Copa do Mundo. Durante as partidas, marroquinos usaram a torcida como um instrumento para jovens torcedores evidenciarem suas insatisfações políticas e evitarem, dessa forma, a repressão política.
As organizadas do futebol marroquino possuem canções politizadas, em que gritam contra a polícia, o governo e a corrupção no país.
Paixão pelo futebol e pela militância
Além do Mundial, o mundo árabe se rende cada vez mais ao futebol e comemora a maior participação dele no esporte. Após se classificar, a imprensa marroquina mostrou orgulho pelo país na Copa.
Torcedores e jogadores dos times que fazem parte do mundo árabe abraçam a causa da Palestina e protestam a favor do país que luta pela independência. Um bandeirão com a mensagem “Liberte a Palestina” chegou a ser exibida na partida da Tunísia contra a Austrália.

Marrocos sediará Copa do Mundo?
Com o amor pelo esporte e os resultados excelentes da seleção árabe, o Marrocos tenta sediar uma Copa do Mundo da Fifa. É claro que o país também possui inúmeras polêmicas, como a criminalização da homossexualidade, a colonização do Saara Ocidental e a opressão dos saarauís.
Contudo, um torneio globalizado pode ajudar a jogar luz nas mazelas e provocar mudanças, de alguma forma, nas práticas conservadoras e ultrapassadas, como acontece no Catar.
Tudo isso marca a história do Oriente no futebol. Então se a Copa é do Mundo, que o mundo possa fazer parte dela. E que o motivo para isso seja simplesmente a inclusão e aceitação de todos no esporte.