Em meio a alta dos preços que tem feito a população brasileira, especialmente, os mais vulneráveis, a invasão da Rússia à Ucrânia pode piorar ainda mais a situação por aqui. Do total de fertilizantes utilizados na produção agrícola do Brasil, 85% são importados. Desse percentual, 23% são da Rússia.
O potássio, um dos principais nutrientes dos fertilizantes, corre o risco de sumir do mercado mundial, o que preocupa os produtores nacionais e, também, os analistas.
O Brasil é um dos maiores consumidores de fertilizantes do mundo, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos.
Até 2017, a dependência do Brasil de insumos importados era de 76%, conforme Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
De acordo com o pesquisador da Embrapa Solos, José Carlos Polidoro, “o solo brasileiro precisa muito de fertilizantes porque ele é naturalmente pobre em nutrientes”, disse à BBC.
Ele explica que a realidade aqui é diferente do que ocorre nos EUA e Europa, que contam com solos naturalmente férteis.
“Nossos solos são de baixa fertilidade, principalmente no Cerrado, onde estão nossos melhores solos para agricultura — têm muita água, são solos profundos, planos, mas têm essa limitação natural de nutrientes, que é algo próprio da natureza tropical”, afirma Polidoro.
Leia também: Deputados comunistas russos são contra guerra
A soja tem o maior percentual de consumo de fertilizantes. Junto com milho, cana-de-açúcar e algodão, ficam com 90% desses insumos – tanto os que são produzidos aqui como os que vêm de fora.
Aumento da dependência do Brasil
As importações do mercado russo têm crescido a cada ano. Em 2020, houve aumento de 12%. No ano seguinte, 14%. Somente em 2021, somaram US$ 15,2 bilhões (R$ 78,4 bilhões).
A distância do valor das importações russas é quase 70% maior do que o segundo colocado nas importações, a China, de onde importamos US$ 2,1 bilhões em fertilizantes em 2021.
“A Rússia atualmente é o maior exportador de NPK mundial”, observa Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da consultoria StoneX.
NPK é a sigla para nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), os três macronutrientes mais importantes para a nutrição das plantas.
A maior preocupação é de fato como potássio. Isso porque ao lado do Canadá, Rússia e Belarus respondem por 80% da oferta mundial. Este último, aliado da Rússia contra a Ucrânia e que já anunciou que, por conta da guerra e o fechamento de fronteira pela Lituânia, o envio dos insumos está suspenso.
Jair Bolsonaro (PL) afirmou no domingo (27) que “para nós, a questão do fertilizante é sagrada” para tentar justificar a posição reticente do Brasil no conflito. Enquanto isso, a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, tentar acalmar os produtores. Disse que o país tem alternativas no mercado para recorrer e estoques para chegar à próxima safra.
Com informações da BBC