O conceito de cidades criativas e as primeiras teorias a respeito do tema surgiram nos anos 1990, mas somente após 2002, com a publicação da teoria da classe criativa o debate se intensificou e recebeu destaque global. A capacidade criativa de um local depende de sua história, cultura, forma e condições operacionais, formando um conjunto que define o caráter da cidade. Recursos culturais como a linguagem, a gastronomia, as opções ou preferências de lazer e as tradições estabelecidas formam o background criativo que particulariza cada espaço urbano.
Para incentivar a troca de experiências entre governos que conseguiram alcançar esses objetivos usando a criatividade, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) criou a Rede Mundial de Cidades Criativas, em 2004.
A Rede foi criada para promover a cooperação entre cidades que identificaram a criatividade como um fator estratégico para o desenvolvimento urbano sustentável. Ela serve como uma plataforma internacional de intercâmbio e colaboração entre cidades para a implementação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas, mais especificamente o objetivo 11, sobre cidades e comunidades sustentáveis.
Ao todo, 246 cidades fazem parte dessa rede, que premiou iniciativas ligadas ao artesanato e à arte popular, design, cinema, gastronomia, literatura, mídia e música. Destas, dez são brasileiras: Belém (PA), a única da região Norte; Fortaleza (CE), João Pessoa (PB) e Salvador (BA), do Nordeste; Brasília (DF), do Centro-Oeste; Santos (SP), Belo Horizonte (MG) e Paraty (RJ), do Sudeste; e Florianópolis (SC) e Curitiba (PR), do Sul.
Conheça um pouco de cada uma delas a seguir:
Belém, PA
Belém recebeu o título de cidade criativa da gastronomia em 2020. A culinária paraense é uma das mais reconhecidas do mundo, mas o título da Unesco premiou as práticas sustentáveis, como o projeto Educando com a Horta Escolar e Gastronomia, que atende 37 escolas municipais, e o Festival Ilhas e Sabores, que destacou a produção e o beneficiamento de iguarias regionais, como açaí, farinha e cupuaçu, nas ilhas de Combu e Cotijuba.
Brasília, DF
A capital do país, projetada pelos renomados arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, não poderia ficar de fora da lista e recebeu o título de cidade criativa do design. A capital do país recebeu o título em 2017. Criada do zero, Brasília é um marco do planejamento urbano do Brasil, e, por isso, recebeu também da Unesco o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1987.
João Pessoa, PB
Em 2017, João Pessoa entrou na rede de cidades criativas na categoria artesanato e artes populares. No trabalho de seus artesãos, a capital paraibana encontrou maneiras de manter vivas as tradições e também de incentivar o empreendedorismo sustentável. Um dos projetos que contribuem para que a cidade permaneça com o título é o Anima Centro, que promove atividades culturais no centro histórico de João Pessoa.
Salvador, BA
A capital baiana é a única cidade brasileira que faz parte da rede de cidades criativas na categoria música. Ela recebeu o título em 2019. A terra de Gil, Caetano, Gal e Caymmi é rica de ritmos e melodias, e promove um grande número de iniciativas culturais ligadas à música, como festivais e oficinas, que, além de manter viva a memória e a história de uma das cidades mais antigas do Brasil, incentiva a inclusão e a economia sustentável.
Fortaleza, CE
Fortaleza foi escolhida como cidade criativa em design em 2019. A candidatura de Fortaleza foi um dos projetos incluídos no portfólio do Masterplan de Economia Criativa, elaborado pelo Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e acompanhado pelo Museu da Indústria, equipamento do Serviço Social da Indústria (SESI Ceará).
O dossiê da candidatura foi fortemente elogiado pelos representantes da Comissão. Ao avaliarem Fortaleza, os membros da Comissão realçaram a presença da economia criativa nos projetos da cidade, a sua relação com os objetivos de desenvolvimento sustentável e o interesse em cooperar com outras cidades dentro da Rede Global.
Santos, SP
Santos é a única cidade do Brasil que está entre as oito cidades criativas no mundo no segmento cinema da Unesco. O Município foi anunciado pela instituição internacional, em 2015, entre 47 novos integrantes, de 33 países, em sete campos criativos (cinema, artesanato e arte popular, design, gastronomia, literatura, artes de mídia e música).
O setor audiovisual envolve a cidade, que possui 22 salas comerciais e três salas públicas de cinema: o Posto 4 Cine Arte (praia do Gonzaga), o Cine ZN (Centro Cultural da Zona Noroeste) e o Museu da Imagem e do Som de Santos (Miss).
Além de exibir conteúdo audiovisual com qualidade, Santos conta com festivais culturais ao longo do ano, como o Curta Santos, que promovem o intercâmbio cultural entre os artistas locais e de outras partes do Brasil e do mundo. Também possui a Santos Film Commission, facilitadora de produções audiovisuais pela Prefeitura em outubro de 2007. A Cidade já foi cenário de mais de 300 produções audiovisuais, entre filmes publicitários, novelas, longas-metragens, que movimentaram mais de R$ 7 milhões da economia local. Além disso, o município abriga cineclubes, projeto de cinema itinerante e cursos de graduação e pós graduação em audiovisual.
Belo Horizonte, MG
Belo Horizonte é Cidade Criativa da Unesco pela Gastronomia. A cidade começou a se preparar para concorrer ao título de Cidade Criativa em abril de 2018. Foram realizados três encontros para mobilização da cadeia produtiva da gastronomia e construção do dossiê. O primeiro, o “Encontro das Cidades Criativas: Turismo e Gastronomia”, reuniu representantes das três cidades que já foram designadas pela Unesco no mesmo campo criativo: Belém (PA), Florianópolis (SC) e Paraty (RJ). Em 2019 foram dois encontros, com a presença de cerca de 240 lideranças governamentais e da sociedade civil.
Paraty, RJ
A cidade de Paraty, no Sul fluminense, tornou-se o primeiro município do Rio de Janeiro a integrar a Rede de Cidades Criativas da Unesco. O título concedido na categoria gastronomia foi anunciado em 2017.
Com mais de 200 anos de experiência e uma grande diversidade cultural na área, com destaque para as culinárias quilombola, caiçara e indígena, Paraty é a única cidade-membro do país localizada no interior.
Florianópolis, SC
Florianópolis foi a primeira cidade brasileira a integrar o grupo de cidades brasileiras da rede da Unesco em 2014, que reconhece e apoia a criatividade como estratégia impulsionadora do desenvolvimento sustentável, por meio de parcerias mundiais.
Os frutos do mar são as especialidades da região. Quem visita a capital catarinense não resiste ao sabor de uma boa tainha, escalada ou feita de outras maneiras, de uma anchova ou de outros peixes da região. As ostras, os camarões, os siris, os berbigões e os mariscos também são atrações culinárias regionais.
Curitiba, PR
Uma iniciativa de três jovens designers, que contou com a liderança do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), resultou na escolha da capital paranaense para integrar a Rede de Cidades Criativas da UNESCO na categoria Design.
A movimentação para isso começou em meados de 2013, quando os designers Juliana Mayumi Ogawa, Bruno Patias Volpi e Thiago Alves procuraram o Ippuc para sugerir que o Município se candidatasse junto a UNESCO. Coordenados pelo presidente Sérgio Póvoa Pires, o grupo formado por Luisiana Paganelli Silva (Assessora de Relações Externas), Daniele Coutinho Moraes (Assessoria de Relações Externas do Ippuc) e José Merege (Assessor de Design da Presidência do Ipuuc) começou a preparar o dossiê da candidatura de Curitiba.
Recife quer estar entre as Cidades Criativas
A cidade do Recife (PE), administrada pelo socialista João Campos, está na disputa para uma vaga na Rede de Cidades Criativas da Unesco na categoria Música. A capital pernambucana representa o Brasil na última etapa da avaliação ao lado de Campina Grande (PB), que concorre na categoria Mídia.
Caso seja escolhida, Recife precisará assumir o compromisso de compartilhar boas práticas, desenvolvendo parcerias para promover desenvolvimento urbano a partir das indústrias da cultura e da criatividade. O resultado deve ser anunciado em outubro deste ano.
“Passamos no teste inicial e agora esperamos a avaliação final, que deverá acontecer em outubro, na sede da Unesco. O título considera a criatividade como fator estratégico para o desenvolvimento cooperativo e sustentável nos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais.”
João Campos
O prefeito socialista comemorou pelo Twitter a indicação da capital pernambucana.
Leia Também: Recife concorre a vaga na Rede de Cidades Criativas da Unesco
Duas candidaturas por país
A Unesco estabeleceu limitação de apenas duas candidaturas por país, concorrentes em duas especialidades distintas. Para serem admitidas à rede, as candidatas deverão submeter-se a processo de avaliação por parte de peritos dos setores de cultura e indústria criativa, no âmbito da Unesco, com ênfase na área de especialização escolhida.
As cidades candidatas deverão reconhecer a importância do desenvolvimento urbano sustentável e inclusivo e comprometer-se a promover o papel da cultura e da criatividade na implementação da Agenda 2030.
Cidades Criativas e a Autorreforma do PSB
A Autorreforma do PSB considera a Cultura de maneira abrangente e como fator fundamental para a definição de um verdadeiro Projeto Nacional de Desenvolvimento para o Brasil.
De acordo com a tese 488, na era em que as novas tecnologias de informação e comunicação tendem a disseminar em escala global as manifestações artístico culturais e políticas, é preciso refletir sobre os fatores que podem configurar a cultura brasileira e a identidade nacional.
“A cultura brasileira e a identidade nacional serão tão mais universais quanto mais brasileiras puderem ser, pois é no mundo e, em certa medida, para o mundo, que as identidades nacionais e culturais se afirmam. “
Autorreforma do PSB
Com informações de Embarque na Viagem, Veja e VIA