Startups brasileiras trazem respostas efetivas para muitos dos problemas que criamos ao meio ambiente. A onda de inovação que estamos vivendo fez com que essas empresas pensassem em soluções para amenizar ou sanar esses efeitos nocivos do desenvolvimento humano junto ao ecossistema.
Recentemente a ONU emitiu um alerta sobre a crise climática global e avisou que Terra está esquentando mais rápido do que
nunca e se prepara para atingir 1,5ºC acima do nível pré-industrial já em 2030. Com isso, os eventos climáticos extremos
acontecerão com ainda mais frequência, como os que temos visto pelo Brasil e pelo mundo.
Startups mostram que iniciativas como, por exemplo, o reflorestamento contra a mudança global do clima podem contribuir com a melhoria da qualidade de vida das pessoas do planeta.
Abaixo seguem alguns exemplos de startups que estão trabalhando para salvar o planeta.
Startups se preocupam com a arborização das cidades
Entre as startups engajadas em encontrar soluções ambientais, a Quiron Digital se destaca no Sul do país. A empresa catarinense é especializada no monitoramento de ameaças florestais. Diogo Machado, cofundador da startup, acredita que a crise ambiental precisa de duas frentes de combate: a preventiva e a reativa.
“Por um lado, temos as tecnologias mais avançadas de predição e monitoramento, que otimizam e direcionam o planejamento estratégico de ações, porém se em terra, apenas iremos observar as dificuldades de longe. A união de monitoramento e ação é o caminho para mitigar perdas causadas pela crise.”
Diogo Machado
A empresa desenvolve soluções de sensoriamento remoto por meio de dados de satélites e nano satélites que atuam de forma precisa em qualquer parte do globo. Todo o trabalho foca em diminuir ameaças como incêndios, pragas, doenças e supressões, preservando propriedades e o sistema em que habitamos – fauna, flora e população.
Este ano, a startup conseguiu prever um grande incêndio na Califórnia com 4 dias de antecedência. Esse incêndio, chamado de Caldor Fire, já está com 57km² de área em chamas e, se não houvesse o monitoramento e o alerta, a situação estaria ainda mais grave. A Quiron possui clientes privados e governamentais no Brasil, Portugal, Estados Unidos e Marrocos e recém recebeu um aporte no valor de R$ 750 mil de investidores anjos do Brasil.
Já a Arboran, fundada pelo biólogo paranaense Paulo Garbugio, surgiu para acelerar a arborização urbana. Para ele, o Brasil passou da hora de ouvir os seus cientistas. “Temos milhares de soluções dentro dos laboratórios que não são aplicadas. Hoje estamos tirando esse conhecimento técnico que tivemos dentro da academia e levando para as cidades”, disse. A arborização pode diminuir as ilhas de calor que influenciam no microclima da cidade, impactando todas as regiões em cadeia.
Para Paulo, é preciso políticas públicas de incentivo às startups. Os governos precisam pensar nas cidades como organismos vivos. Segundo ele, as cidades podem voltar a encontrar o seu ponto de equilíbrio com a natureza evitando a extinção de animais em massa.
“Precisamos mudar essa cultura de separar o humano da natureza, é possível conviver em harmonia com ela. As aves, por exemplo, podem controlar as pragas urbanas como ratos, aranhas, escorpiões e até mesmo o aedes aegypti. Sou a favor de trazermos um pouco da fauna nativa para dentro das cidades, obviamente de maneira logística e com planejamento” , esclareceu.
Na opinião do biólogo, para impedirmos grandes pandemias é preciso o contato mais próximo com a natureza para reequilibrar o nosso ecossistema e fortalecer o nosso organismo, assim estaríamos mais preparados para novas ondas de vírus e outras doenças.
A hora e a vez da Energia Limpa
Em Minas Gerais, mais precisamente no município histórico de Matias Cardoso, temos em desenvolvimento o maior projeto de energia solar do mundo. A Aurora Energia se destaca entre as startups quem lideram o negócio, ocupando uma área de 25 mil hectares que combina energia solar e eólica em um mesmo espaço, resultando em um parque híbrido de pelo menos meia Binacional Itaipu, além de gerar centenas de empregos e transformações socioeconômicas. Onde antes era pasto com atividade poluente, hoje está sendo preparada uma atividade renovável, com alta preservação ambiental e conexões de corredores ecológicos.
O investimento total é acima de R$ 20 bilhões e até mesmo companhias tradicionais estão de olho nesse mercado. No ano passado, a Vale adquiriu um dos clusters da Aurora. O CEO da empresa, Fabrício Lopes, explicou que A energia solar e eólica estão cada vez mais pujantes, ganhando grande destaque a nível nacional.
“ Isso é importante num país com tanto sol e vento como o nosso, mostrando que é possível que o Brasil seja suficiente em energia sustentável. Temos um potencial gigantesco que pode ser transformador a nível social, econômico e de enorme contribuição da matriz energética, garantindo energia de alta qualidade, em abundância e barata para o país por décadas. Precisamos aproveitar mais este valioso potencial do Brasil.”
Fabrício Lopes
Hoje já existe também um mercado de crédito solar. A Solfácil, fintech paulistana, é a primeira plataforma digital para investimentos em energia solar do Brasil.
Para Fábio Carrara, CEO da empresa, o crédito solar tem o reconhecimento do mercado de capitais e da sociedade. “As projeções da EPE e os números recentes da Aneel confirmam a capacidade da energia solar de endereçar o crescimento do setor e do país, puxada pelo financiamento como protagonista. Com essa perspectiva é que o Brasil tem a oportunidade de se diferenciar porque conta com gente empreendedora, tecnologia e inovação para liderar essa retomada globalmente”, explicou.
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Além disso, um sistema de geração distribuída de energia solar dá um retorno sobre o capital investido superior a 10 vezes o rendimento atual da poupança. Nesse modelo, o consumidor final (residencial, PMEs ou produtor rural) tem economia imediata ao substituir grande parte da conta mensal de energia elétrica por uma prestação ainda menor – a parcela do financiamento chega a ser 30% inferior à conta de energia tradicional. O compromisso da startup é democratizar esse entendimento e o acesso ao financiamento para acelerar a adoção de geração de energia distribuída no Brasil.
Até o final deste ano, a Solfácil espera atingir R$ 1 bilhão em financiamentos de projetos de energia solar, chegando a R$ 2,5 bilhões até 2022, impulsionados pela inovação em tecnologia, aumento de canais, novas áreas de negócios e pelo próprio crescimento do mercado que continuará em alta.
Startups para redução dos poluentes
Outro grande desafio é o controle da emissão de poluentes. Entre as startups que trabalham com o tema, a MOSS se insere nesse contexto de cumprir com as metas globais para conter o aquecimento global, sendo uma facilitadora no acesso ao crédito de carbono florestal para as empresas. A startup criou o primeiro token de crédito de carbono, que é uma solução imediata para a redução de emissões de gases poluentes e também trouxe uma grande inovação ao colocar esses ativos em blockchain.
A General Manager da startup MOSS, Fernanda Castilho, afirmou que enquanto as mudanças estruturais e de modos de produção são desenvolvidas e implementadas, a empresa tem que cumprir a meta global de dobrar a compensação de gases até 2030 para evitar um cenário de grande impacto para a produção de alimentos e ameaça do aumento do nível dos oceanos em cidades litorâneas
Hoje, a startup atende empresas como Cia. Hering, GOL Linhas Aereas, iFood, Neooh, Bionexo e C6 Bank. Também atende negócios de pequeno porte em diferentes setores, como hotelaria, educação, escritórios de advocacia e negócios internacionais, como o fundo de investimentos SkyBridge. Em um ano de existência, a empresa já transacionou mais de R$ 70 milhões que ajudaram a conservar, aproximadamente, 500 milhões de árvores na Amazônia em projetos certificados e auditados internacionalmente.
Outras iniciativas prometem reduzir a emissão de carbono na atmosfera, como a Créditos do Carbono, idealizada e liderada pela estudiosa Ana Arsky. Ela desenvolveu uma plataforma que une metodologia e tecnologia para fazer um monitoramento remoto dos resíduos e gerar indicadores ESG e créditos de carbono para empresas – os conhecidos Grandes Geradores Urbanos.
Após a covid-19, a empreendedora passou a alertar que as Mudanças Climáticas são uma pandemia em câmera lenta. “A solução para este cenário é complexa, e nós estamos reunindo esforços para contribuir com a parte que temos expertise: os resíduos. Embora sejam responsáveis por 5 a 15% das emissões (dependendo do país) é, na minha visão, a forma mais imediata, fácil e de menor custo que uma empresa pode implantar para começar a sua jornada para emissão zero até 2050”, disse.
Especialista em Reabilitação Urbana Sustentável na área de resíduos desde 2008, Ana já havia detectado em 2006 que resíduos eram um grande desafio para o Brasil. Após a regulamentação da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei 12.305/2010) acreditava-se que haveria alguma mudança nos indicadores de reciclagem, mas isso não aconteceu. Há mais de 20 anos, permanecemos com o índice de 3% de reciclagem de resíduos, que regrediu ainda mais na pandemia.
Na PNRS está prevista a desobrigação do setor público de coletar e destinar resíduos do setor privado, os chamados Grandes Geradores. Mais de 200 municípios criaram leis municipais neste sentido que caracterizam como grandes geradores os estabelecimentos que geram lixo acima de valores variáveis entre a geração de 100 a 300 litros por dia.
“Nosso propósito é colaborar não só com a redução das emissões de GEE por meio dos resíduos, mas gerar os agora tão falados indicadores ESG com a redução da degradação ambiental e empoderamento social com o aumento de renda para as cooperativas da comercialização de recicláveis e do fortalecimento da cultura sustentável dentro das empresas, porque iniciamos a nossa atuação no momento do descarte.”
Ana Arsky
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos 2020 da ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública) foram geradas 79 milhões de toneladas de resíduos no Brasil em 2019. 36% desse montante ainda foi destinado a lixões a céu aberto ou os chamados aterros controlados. Os custos ambientais e de tratamento de saúde gerados pela destinação inadequada são estimados em US$ 1 bilhão por ano neste estudo.
Além disso, são R$ 20 bilhões em perda de matéria prima orgânica e de recicláveis que poderiam ter voltado para a cadeia produtiva. E também 24 milhões de toneladas de Créditos de Carbono que poderiam ter sido gerados com uma gestão sustentável desses resíduos.
“Validamos o nosso MVP em 2019, atuando numa empresa de transporte público do Distrito Federal, a Viação Pioneira, onde 50% do lixo gerado vinha de dentro dos ônibus. Após a estruturação da estratégia, tivemos o resultado de desvio de aterro de 93% em apenas 28 dias. Esse resultado só foi possível com a participação da população que foi muito estimulada a participar do processo”, disse.
Para a empreendedora, embora o Brasil tenha grandes desafios na área de logística reversa e economia circular pela sua dimensão continental e pelas suas características geográficas como a área da Amazônia legal, é muito possível aliar a tecnologia à capilaridade de grandes empresas e começar a fazer diferente agora mesmo. Neutralizar as emissões com os resíduos impacta na redução de custos operacionais, valorização da marca com os indicadores ESG e economia com investimentos em créditos de carbono para a redução das emissões das empresas.
Muitas soluções incríveis como essas têm sido criadas por startups aqui no Brasil, mas é preciso mais apoio por parte dos investidores, governo e colaboração de toda a sociedade. Nos próximos textos, vamos trazer mais cases e entrevistas exclusivas que trazem soluções efetivas para a crise que vivemos hoje.
Com informações da Gazeta do Povo