
Sem apresentar dados, novamente, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) gabou-se neste sábado (19) que, “na parte econômica, o Brasil foi o que melhor se saiu” durante a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.
“Passamos uma grande provação. Ou melhor, estamos no final dela. Na parte econômica, o Brasil foi o que melhor se saiu. Quis o destino também que na área de saúde, aos poucos, ao se deixar de politizar a única alternativa que nós tínhamos, começou a se salvar mais vidas”, disse Bolsonaro.
A fala, feita diante de uma plateia de evangélicos, em um evento da igreja Assembleia de Deus em Brasília, no entanto, não podia estar mais longe da verdade. Segundo o mais recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o “clube dos países ricos” do qual o governo Bolsonaro tanto almeja fazer parte, o Brasil na verdade se saiu pior do que o resto mundo do ponto de vista da economia este ano.
Com o título “Coronavirus: Living with Uncertainty” (“Coronavírus: Vivendo com a Incerteza”), o relatório, divulgado na última quarta-feira (16), estima que o Brasil vai fechar 2020 com uma redução de 6,5% no PIB, enquanto o mundo, na média, enfrentará uma queda de 4,5%.

Em uma comparação com outros 18 países, o Brasil mantém-se na média da amostra, ou seja, situa-se exatamente no meio do ranking da estimativa da variação do PIB em 2020 – com um desempenho melhor do que nações como Argentina e México, mas pior do que Estados Unidos e Turquia, por exemplo.
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O único país da amostra que registrará crescimento em 2020, ainda que modesto, é a China, o local de origem da pandemia. O pior desempenho na crise é o da África do Sul.
Na comparação com a média dos países do G20, o Brasil também perde: a estimativa para o grupo que reúne as oito maiores economias do mundo, a União Europeia e onze nações emergentes é de queda de 4,1% no PIB (diante da variação negativa de 6,5% prevista para o Brasil).
Os números, portanto, desmentem o presidente Bolsonaro. O Brasil não foi o país que melhor se saiu no enfrentamento à crise econômica provocada pela pandemia.
Crise e críticas ao Judiciário
No mesmo evento, Bolsonaro declarou que foi obrigado a tomar decisões importantes, mesmo “sendo tolhido pelo Poder Judiciário”.
“Eu tive que tomar decisões, mesmo sendo tolhido pelo Poder Judiciário. Se, naquele momento, a chacota se fez presente, hoje vemos que estamos no caminho certo. Se Deus quiser, voltaremos à normalidade ainda no corrente ano. O meu trabalho, como chefe de Estado, é produzir o bem-estar e a felicidade para os seus”, declarou.
Aceno aos conservadores
Bolsonaro também fez um aceno aos eleitores conservadores e afirmou que o Brasil foi tomado por pessoas que querem destruir o ideal de família.
“Aqui, nesse recinto, se prega diuturnamente a importância da família para todos nós. A família quase deixou de existir há poucos anos. O Brasil foi tomado pelo politicamente correto, onde tudo se podia desde que não se criticasse aqueles que queriam destruir a família”, afirmou.
Brasil na pandemia
O Brasil contabiliza mais de 136 mil mortes pelo novo coronavírus, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa. Com 708 novos óbitos por covid-19 registrados entre sexta e sábado, o número oficial mostra que 136.565 pessoas perderam a vida no Brasil após contraírem a doença. Também foram registrados 30.913 novos testes positivos nas últimas 24 horas, totalizando 4.528.347 infectados pelo vírus no país.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país com maior registro de mortes por causa da Covid-19 no mundo, atrás apenas do Estados Unidos, que soma mais de 196 mil óbitos. No ranking de contaminados, o Brasil segue em terceiro lugar, atrás de EUA e Índia, com 6,7 milhões e 5,4 milhões de contaminados, respectivamente.
Com informações da coluna de Diogo Schelp e UOL