Com mais de 11 mil mortes, o Brasil tem a maior taxa de letalidade por covid-19 na América do Sul
A apreensão com a situação no Brasil, o maior e mais populoso da América Latina, que faz fronteira com dez países, tem rendido críticas dos governos e jornais das nações vizinhas, que mesmo com as fronteiras fechadas demonstram preocupação.
Na ultima sexta-feira (8), o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, disse que não tem previsão para a reabertura das fronteiras e afirmou que o Brasil é “a principal ameaça” na luta contra a pandemia. Uma das medidas adotas pelo governo é isolar em albergues os paraguaios que chegam do Brasil.
Fernando Masi, do Centro de Análises e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep) Membro-Investigador, entende que o Paraguai não tinha outra alternativa.
“Politicamente, percebemos uma hegemonia dura por parte do governo Bolsonaro. Muito diferente da linha que era exercida, por exemplo, na época do ex-presidente Lula, apesar de, no atual governo brasileiro, muitas das obras que estavam paradas terem sido retomadas”, disse Masi.
Argentina
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse que o Brasil é um mau exemplo no combate à covid-19. Durante entrevista, Fernández chegou a mandar clara indireta ao governo Bolsonaro, afirmando que “os que deram prioridade à atividade econômica acabaram juntando mortos em caminhões frigoríficos e enterrando corpos em fossas comuns”.
O ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá, seguiu a mesma linha, dizendo que o Brasil “escolheu manter a economia em marcha e assumiu um risco enorme. Nós optamos por não colocar a vida dos argentinos em risco”
A postura argentina levou o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Sergio Danese, a escrever um artigo no La Nación, em abril, dizendo que os argentinos estavam sendo induzidos “a um medo extra”
Uruguai
O secretário da Presidência do Uruguai, Álvaro Delgado, informou que o governo uruguaio está “preocupado” com a situação de algumas localidades na fronteira, principalmente do lado brasileiro. Ele disse que o presidente, Lacalle Pou, orientou todos os ministros a aumentarem a presença de suas equipes na região fronteiriça.
Bolívia
O analista boliviano Javier Gómez, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (Cedla, na sigla em espanhol), disse que a “preocupação” é com a extensa fronteira da Bolívia com o Brasil, o que torna o controle na fronteira complicado. “A situação no Brasil nos leva a pensar que talvez tenhamos mais casos da covid-19 do que os registrados e, principalmente, nas populações que moram ao lado do Brasil”, disse Gómez.
Peru e Colômbia
No Peru, a Organização Regional de Povos Indígenas do Oriente (Orpio) destacou num comunicado, na semana passada, a vulnerabilidade dos povos indígenas da região de fronteira com o Brasil e a Colômbia.
O médico Omar Montes, do centro de saúde de Bella Vista de Callarú, no Departamento de Loreto, na Amazônia peruana, disse à imprensa local que estima que os primeiros casos foram importados de Tabatinga, no Brasil, ou de Leticia, na Colômbia, na fronteira, onde moradores estiveram fazendo compras.
Seguindo a linha do governo peruano, a preocupação na Colômbia em relação ao aumento de casos de coronavírus no Brasil reside, principalmente, na Amazônia colombiana, onde está Leticia. Na sexta-feira, a Organização Nacional Indígena da Colômbia (Onic) informou que 55 indígenas de diferentes povos indígenas tiveram resultado positivo para o novo coronavírus. E que seis morreram nos últimos dias.