
A pandemia da Covid-19 evidenciou um dos grandes problemas na saúde do Brasil: a falta de estrutura dos hospitais municipais. Dados do Conselho Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), referentes a fevereiro, revelam que não chega nem à metade (37,4%) o número de municípios (2.085) que consegue atender mais de 10% de seus habitantes que precisaram de internação, de qualquer grau de gravidade, e apenas 741 (13,3%) dos 5.570 municípios brasileiros apresentam capacidade de atendimento de alta complexidade para Covid.
Leia também: Covid-19: pesquisa mostra reinfecção com sintomas piores
Registros do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), de abril de 2020 a fevereiro de 2021, também indicam que apenas 18,5% dos municípios conseguiram atender a mais de 10% dos casos de seus habitantes com necessidade de UTI ou de unidades de cuidados intermediários.
Com base nesses dados apresentado na reportagem do jornal O Globo, fica claro um movimento que já havia sido notado durante esse primeiro ano da pandemia, o brasileiro com Covid precisar se deslocar de sua cidade para conseguir atendimento. Esse deslocamento pode ocasionar maior número de óbitos pela demora para conseguir atendimento especializado, além de sobrecarregar outros hospitais e camuflar focos da pandemia.
“Um prefeito não consegue resolver nada. É preciso ação coordenada em nível estadual e nacional. Governadores precisam trabalhar coordenando seus municípios e em conjunto com os estados conectados ao seu”, afirmou Diego Xavier, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde e do Monitora Covid-19.
Isolamento social
Outro motivo que agrava o colapso no sistema de saúde segundo o estudo são as medidas diferentes de isolamento social adotadas pelos estados e municípios. Exemplos são os municípios fluminenses Duque de Caxias e São Gonçalo, “exportadores” de pacientes com Covid-19 para Rio e Niterói, respectivamente, revelam dados do Sivep-Gripe analisados por Xavier, referentes ao período de 3 de março de 2020 a 2 de fevereiro de 2021.
“O município do Rio internou mais pacientes de UTI de Duque de Caxias do que a própria cidade Caxias. Quase metade dos pacientes de UTI de São Gonçalo foram para Niterói, que absorveu também grande parcela dos casos de Covid-19 de menor complexidade do município vizinho”, salienta Xavier.
Ele acrescenta que, sem medidas conjuntas, Rio e Niterói, por exemplo, não conseguirão reduzir a demanda por leitos porque parte significativa da pressão vem de fora.
Conexões semelhantes acontecem no nível estadual. Há relevante fluxo doentes do sudoeste de Minas para o norte de São Paulo e, de lá, para a capital paulista. O oeste de Santa Catarina e o sudoeste do Paraná têm intercâmbio de pacientes. E, em outro exemplo, o sul do Amazonas exporta pacientes para Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC).
“Adotar o sistema de redes é o caminho para conter a pandemia. O Ministério da Saúde precisa orientar e negociar com os governadores. Por vezes, há interesses conflitantes. É preciso uma coordenação nacional, e outra nos estados”, enfatiza Xavier.
Com informações do jornal O Globo