
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou postagens nas redes sociais para defender a cloroquina e o chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19, em média, uma vez por semana desde o início da pandemia. Mesmo quando a prioridade deveria ser a compra de vacinas.
Bolsonaro defendeu cloroquina e fez pouco caso da vacina
O levantamento foi feito pela Folha de S.Paulo no Facebook e YouTube em parceria com o estúdio de análise de dados Novelo Data. Foram ao menos 67 postagens diferentes sobre o tema no Facebook, YouTube e Twitter desde 26 de fevereiro de 2020, quando foi notificado o primeiro caso de covid no Brasil. No levantamento, só foi considerada uma vez a postagem, mesmo que ela tenha sido publicada nas três plataformas.
No YouTube, foram contabilizados somente os vídeos que continham nome ou descrição com menção aos medicamentos. No Twitter foram consideradas as postagens e os retuítes na página oficial do presidente.
Ao mesmo tempo que defende esses medicamentos, Bolsonaro resiste a se vacinar contra a Covid e não respeita medidas restritivas que podem reduzir a circulação do vírus, causando aglomerações e não sendo adepto ao uso de máscaras.
“Tratamento precoce” de Bolsonaro na mira da CPI da Pandemia
As ações do governo Bolsonaro em relação aos medicamentos sem eficácia comprovada entraram na mira da CPI da Pandemia no Senado.
Com a CPI ainda em curso, o presidente respondeu a senadores da comissão que criticam medicamentos sem eficácia comprovada que “não encham o saco”. O tema está entre os principais assuntos abordados pelo colegiado até o momento.
“Resposta aos inquisidores da CPI sobre o tratamento precoce: 1- Uns médicos receitam Cloroquina; 2- Outros a Ivermectina; e 3- O terceiro grupo (o do Mandetta), manda o infectado ir para casa e só procurar um hospital quando sentir falta de ar (para ser entubado)”, publicou Bolsonaro neste mês.
Nas suas contas oficiais do Facebook, Twitter e YouTube, Bolsonaro usou o nome de instituições, médicos e do próprio Ministério da Saúde para defender o uso da cloroquina.
Em abril de 2020, o presidente usou as redes sociais para informar que o “Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas acaba de publicar Resolução 101 recomendando que o médico possa indicar uso da cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes com Covid-19, em casos LEVES, moderados ou graves”.
Naquela época, mesmo com estudos em andamento sobre a cloroquina, as entidades médicas pediam cautela e criticavam Bolsonaro por desrespeitar regras sanitárias.
O chefe do Executivo passou a publicar também todos os passos do governo para conseguir ampliar a oferta de cloroquina. Insumos liberados pela Índia para a fabricação do produto, impostos zerados para a importação do remédio, aumento e retomada da produção do medicamento por parte do Exército são alguns exemplos.
Cinco ministérios mobilizados para distribuir cloroquina
A Folha mostrou que o governo federal mobilizou pelo menos cinco ministérios, uma estatal, dois conselhos da área econômica, Exército e Aeronáutica para distribuir cloroquina, incluindo também a hidroxicloroquina doada pelos Estados Unidos no governo Donald Trump.
Bolsonaro defende o uso não só da cloroquina, mas da ivermectina, vitamina D e a utilização desses medicamentos no chamado “tratamento precoce”.
A defesa dos medicamentos sem eficácia, nas redes sociais, transcorreu durante a permanência dos três ex-ministros da Saúde e do atual, Marcelo Queiroga. Muitas postagens costumam ser feitas até mesmo em momentos delicados para o governo.
No dia em que o ex-ministro da Saúde Nelson Teich pediu demissão, houve uma postagem nas contas oficiais do presidente sobre o tema. A divergência sobre o protocolo do uso da cloroquina no combate ao coronavírus foi considerada a gota d’água para a saída de Teich.
Defesa da cloroquina e descaso com a vacina
Bolsonaro defendeu a cloroquina até mesmo em períodos em que o governo deixava de negociar vacina. Como no intervalo de um mês, de 14 de agosto a 12 de setembro de 2020, foram ao menos dez emails enviados pela farmacêutica Pfizer discutindo e cobrando resposta formal do governo da oferta de doses.
Nesse período, por exemplo, Bolsonaro fez uma postagem fazendo chamada para uma live em que um dos assuntos seria “a China recomenda o uso da cloroquina”.
Com informações da Folha de S.Paulo