Único convocado, em edital que abriu 4 vagas para trabalhar em comunidades indígenas em Roraima, o médico Gusthavo Cândido Alves não chegou ao local que deveria servir por falta de transporte.
A Folha informou que, ao entrar em contato com o Ministério da Saúde, Alves foi informado que não há transporte disponível para a localidade.
De acordo com o jornal, a negativa do órgão está em desacordo com o próprio edital, segundo o qual o transporte dos profissionais é responsabilidade do Programa Mais Médicos.
O médico atuaria no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Leste Roraima, que é responsável pelo atendimento a cerca de 51 mil pessoas, distribuídas 342 comunidades.
Ao saber do edital de emergência por causa do novo coronavírus, o médico mineiro, de 27 anos, pediu licença do trabalho, em Uberlândia, e se inscreveu para trabalhar com indígenas em Roraima, numa região que inclui o ponto mais setentrional do Brasil.
Mesmo assim, Alves insistiu e tentou, sem sucesso, acessar as comunidades por conta própria.
Tanto por terra, por meio de transporte rodoviário para Manaus, como pelo ar em voos para Boa Vista, os acessos foram cancelados por conta das restrições sociais impostas pela pandemia.
A maioria das comunidades fica na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, onde o acesso é feito, muitas vezes com dificuldades, por via terrestre, fluvial ou aérea.
Para se protegerem do covid-19, muitas comunidades indígenas bloquearam acessos locais. Ao todo são sete povos na região: macuxi, wapichana, ingarikó, taurepang, sapará, patamona e wai-wai.
Caso não chegue a tempo, o médico mineiro que já atuou com saúde indígena será automaticamente excluído do programa.
Sesai desconhece situação
Palmas/TO
O secretário Especial da Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, Robson Silva, disse à reportagem da Folha desconhecer a situação de Alves, mas que buscará uma solução por meio de voo militar.
“Ele é uma pessoa importante neste momento, ninguém vai dispensar a mão de obra dele. É realmente [um problema] administrativo, porque não tem voo”, afirmou à Folha.
Atualmente, o Dsei Leste conta com 15 médicos do Programa Mais Médicos. O número é insuficiente, 7 a menos do que o ideal em condições normais, sem a pandemia.
Além disso, os poucos profissionais ainda sofrem com a falta de EPIs (equipamentos de proteção individual), apurou o jornal.
Além da pouca estrutura de saúde, essa população é considerada de alta vulnerabilidade por viverem em áreas próximas às fronteiras com a Venezuela e Guiana.