No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a doença que se espalhou rapidamente pelo mundo no início daquele ano era uma pandemia. Em dois anos, muita coisa mudou em relação à covid-19. Para alguns especialistas, a onda de infecções pode ser dividida em duas fases: antes e depois das vacinas.
Apesar disso, a variante ômicron – mais contagiosa, porém, menos letal – levou à média móvel de infecções em todo o planeta para 3,4 milhões de casos por dia, em janeiro deste ano, e um grande número de mortes associadas à doença.
Antes desse período, os maiores números da média móvel de infeções haviam sido registrados em abril e maio de 2021, com 700 mil e 800 mil casos registrados.
As mortes tiveram média móvel acima de 10 mil mortes por dia no período mais crítico das infecções causadas pela ômicron. Em janeiro, abril e maio do ano passado, eram quase 15 mil mortes por dia.
A variante anterior – gama – fez com que o Brasil registrasse mais de 70 mil novos casos todos os dias e a média de mortes chegaram a 3 mil óbitos por dia.
As vacinas tiveram papel fundamental no enfrentamento à doença, apesar de ainda registrar um grande número de mortos.
Em janeiro deste ano, o Brasil bateu recorde de novos casos com média móvel de 188.451 em um dia. A média das mortes, apesar de alta, foi bem menor do em quem 2021, com quase 900 pessoas que vieram a óbito por conta da doença.
Para Renato Kfouri, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, a vacinas têm papel fundamental.
“Elas mostram, mais uma vez, como são capazes de reduzir a carga da doença. Como estaríamos se não tivéssemos as vacinas fazendo esse papel?”, afirmou à Folha.
Doença política
No Brasil, além da covid, a população sofreu com ondas de desinformação propagadas por quem tem a obrigação legal de coordenar o combate à doença.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou a pandemia em um embate político anti-ciência. Ele e seus apoiadores disseminaram fake news contra o uso de máscaras, trabalhou para atrapalhar a vacinação e defendeu o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid.
“Medidas simples de controle viraram um objeto de disputa política”, analisa Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo à Folha.
Ela lembra que o país sempre teve uma política de saúde verticalizada, com a esfera federal à frente das ações e orientando os municípios.
Na pandemia, ela afirma que houve uma desestruturação desse sistema, o que pode ter prejudicado, principalmente, os municípios que não contavam com corpo técnico adequado para a tomada de decisões fundamentais.
Vacinas salvam
Em São Paulo, por exemplo, o número de mortes de não vacinados é 26 vezes maior do que as pessoas que completaram o ciclo de imunização.
O dado é de um levantamento inédito do governo de São Paulo feito a pedido da jornalista Mônica Bergamo, da Folha, entre 5 de dezembro de 2021 e 26 de fevereiro de 2022, quando houve uma explosão de casos da covid causados pela ômicron.
Foram 7. 942 mortes registradas no sistema Sivep-Gripe pelos 645 municípios de São Paulo. O número de mortes chegou a 2.377 mil entre as 716,8 mil pessoas não imunizadas no estado. São 332 por 100 mil habitantes.
Já entre os 38,3 milhões de paulistas que cumpriram o ciclo vacinal (88,5% da população do estado), os óbitos foram 4.903. Ou seja, 13 mortos por 100 mil habitantes.
E, entre os 2,9 milhões que foram parcialmente imunizados, 662 mortes foram registradas – 22 para cada 100 mil habitantes.
“É mais uma evidência da importância da vacinação. As pessoas podem escolher entre estar no grupo mais protegido, amplamente majoritário entre os paulistas, ou naqueles mais vulneráveis”, disse o secretário-executivo da Secretaria de Estado da Saúde, Eduardo Ribeiro Adriano, à jornalista.
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O consórcio dos veículos de imprensa formado para a reunião e divulgação de dados sobre a covid, registrou 146 mortes neste domingo (13). O Brasil chegou a 655.139 vidas perdidas pela doença e 29.365.238 casos.
Apesar de considerada precoce por muitos especialistas, cidades começaram a flexibilizar o uso da máscara, inclusive, em locais fechados.
Enquanto isso, 157.634.168 de brasileiros estão totalmente imunizados. Este número representa 73,38% da população total do país. A dose de reforço foi aplicada em 69.242.621 pessoas, o que corresponde a 32,23% da população. Mais de 400 milhões de doses foram aplicadas desde o começo da vacinação, em janeiro de 2021, também conforme o consórcio de imprensa.
Já no site do Ministério da Saúde, os dados mais recentes sobre a imunização são de 28 de janeiro deste ano.