As favelas vivem uma “situação alarmante” com os impactos da pandemia, diz o fundador da Central Única das Favelas (Cufa), Celso Athayde. Ele teme uma piora ainda maior nas condições de vida da população de baixa renda, registra o Valor.
Com as fontes de renda paralisadas pelas restrições de combate ao vírus, que vão desde a suspensão de trabalhos autônomos até atividades formais de serviços e comércio, os moradores lidam diariamente com a fome na quarentena. A organização presta apoio e orientação a moradores em cerca de 5 mil comunidades pelo país.
A população, cuja visibilidade só ganha a atenção do governo federal quando o assunto é o aumento da carga tributária e as perdas trabalhistas, está ainda mais vulnerabilizada pelo covid-19, em especial no acesso à saúde.
“A grande dúvida que tenho agora é se apenas postergamos o caos que vai acontecer no setor de saúde ou se isso foi realmente evitado. Estamos vendo hospitais superlotados e as pessoas começando a morrer dentro de casa, já que não há mais leitos suficientes”, analisou o coordenador da Cufa.
Resposta do Governo Federal
Athayde avalia que a resposta do governo federal à parcela mais pobre da população pode não ter sido rápida, atribuindo isso à posição contrária ao isolamento horizontal assumida por Jair Bolsonaro.
“Não tinha como o governo federal atuar rapidamente se não estava alinhado com o desejo de quem comanda o país”, acrescentou.
Contudo, o coordenador da Cufa afirma que o auxílio emergencial de R$ 600 abriu um horizonte de renda para a população mais pobre. Desde 9 de abril foram liberados pelo governo federal R$ 23,5 bilhões para 33 milhões de pessoas, segundo dados divulgados pela Caixa.
Solidariedade
A onda de solidariedade das últimas semanas, que uniu empresas e artistas, possibilitou que a Cufa mobilizasse mais de R$ 69 milhões em doações de cestas básicas para as comunidades.
A organização calcula que as cestas básicas beneficiaram de 1,5 milhão a 2 milhões moradores das favelas até o momento. Apesar de impressionarem, os números ainda são insuficientes para aplacar a fome dessa população.