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Em depoimento à CPI da Pandemia no Senado na terça-feira (25), Mayra Pinheiro, apelidada de ‘Capitã Cloroquina’, mentiu pelo menos 11 vezes. A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde usou informações falsas para defender a própria gestão e o uso da cloroquina no tratamento de pacientes com a infecção pelo coronavírus.
A secretária é uma das principais defensoras do uso de medicamentos sem comprovação científica em pacientes com Covid-19, como o “kit covid” com cloroquina ou hidroxicloroquina e azitromicina.
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Críticos ao ‘tratamento precoce’ cometem genocídio
Em fevereiro, Mayra escreveu em artigo que críticos do “tratamento precoce” podem ter cometido genocídio. Ela também foi apontada pelo ex-ministro Eduardo Pazuello como a responsável pelo aplicativo TrateCov, lançado em meio à crise em Manaus e que prescrevia “tratamento precoce” indiscriminadamente.
A equipe do senador Renan Calheiros (MBD-AL), relator da CPI, listou até o momento 11 “destaques contraditórios” no depoimento de Mayra
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Os exemplos de mentiras nas respostas de Mayra, que poderiam configurar o crime de falso testemunho, vão desde falas sobre o tratamento precoce contra a covid-19 — ela declarou que “é utilizado no mundo inteiro” — ao TrateCov — a depoente se contradisse ao alegar que a plataforma foi retirada do ar apenas para fins de investigação, sem que tenha havido deturpação ou alteração de dados.
11 mentiras de Mayra
- É falso que o Ministério da Saúde nunca indicou tratamentos para a covid. Notas editadas pela pasta com protocolo de uso de medicamentos sem eficácia comprovada indicavam, na prática, o “tratamento precoce”, segundo documento do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que fiscaliza as ações do ministério;
- Também é falso que a hidroxicloroquina seja eficaz como tratamento no início da covid. Estudos feitos desde o ano passado mostram que, além de não impedir o agravamento da doença, o remédio pode até aumentar a mortalidade de pacientes;
- Não é verdade que os 22 pacientes acompanhados em estudo sobre a cloroquina em Manaus morreram por causa de doses tóxicas de cloroquina. As mortes não têm relação comprovada com a droga e teriam ocorrido em decorrência da covid;
- É falso ainda que este mesmo estudo só tenha obtido o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para ser executado depois que já estava pronto. A autorização foi concedida em 23 de março de 2020 e a pesquisa foi iniciada logo em seguida;
- Também é falso que o aplicativo TrateCov, que receitava cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid, não tenha sido lançado, como afirmado por Mayra Pinheiro. Em cerimônia no dia 11 de janeiro em Manaus, a própria secretária anunciou que a plataforma já estava disponível no site do Ministério da Saúde.
- É falsa a alegação de Pinheiro de que evidências científicas comprovam a eficácia da hidroxicloroquina, da ivermectina, da cloroquina, e da colchicina contra a covid. Além de não haver estudos que atestem a ação dos medicamentos, autoridades sanitárias negam que elas sejam capazes de tratar a doença;
- É falso, ainda, que um jornalista fez extração indevida de dados da plataforma TrateCov. O sistema foi apenas testado e analisado por jornalistas e outros cidadãos antes de ser retirado do ar porque ficou disponível no site do Ministério da Saúde entre 11 e 21 de janeiro.
- É exagerado sugerir que a OMS teria reconhecido que o lockdown pode ser responsável por fome e miséria. Apesar de fazer ressalvas sobre potenciais efeitos negativos da medida, a entidade nunca deixou de destacar sua importância e eficácia para conter a disseminação da covid-19.
- Mayra foi imprecisa ao dizer que a OMS recomenda que mulheres com HIV amamentem. A organização orienta que os países avaliem o risco de contaminação da criança em comparação ao de morte por desnutrição e dá uma série de recomendações para que a amamentação aconteça de maneira mais segura para o bebê.
- Também é impreciso dizer que a hidroxicloroquina tem ação antiviral. O remédio só teve essa ação comprovada até hoje em células em laboratório, não em estudos com seres vivos.
- A afirmação de Mayra de que o Ministério da Saúde tem um repositório de evidências científicas que surgem sobre tratamentos e vacinas contra covid é imprecisa, porque o painel passou cerca de sete meses sem ser atualizado, o que voltou a ocorrer em 17 de maio deste ano.
CPI reconvocará Pazuello e Queiroga
A CPI da Pandemia em reunião realizada na manhã desta quarta-feira (26) aprovou uma série de requerimentos. A próxima reunião será nesta quinta-feira (27) para ouvir o diretor presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, a partir das 9h.
O colegiado aprovou os pedidos para convocação de 9 governadores e 1 ex-governador: Antonio Garcia (RR), Carlos Moisés (SC), Helder Barbalho (PA), Ibaneis Rocha (DF), Marcos Rocha (RO), Mauro Carlesse (TO), Walder Goés (AP), Wellington Dias (PI), Wilson Lima (AM) e Wilson Witzel (ex-RJ). Também será ouvida pela comissão a vice-governadora de Santa Catarina, Daniela Reihner.
Foram aprovados ainda os requerimentos para novos depoimentos do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e do ex-ministro Eduardo Pazuello. Do Ministério da Saúde também serão ouvidos a ex-secretária de enfrentamento à covid no Ministério da Saúde, Luana Araújo; e o ex-assessor de comunicação na gestão de Pazuello, Markinhos Show.
Do Palácio do Planalto, sobre o “gabinete paralelo”vão depor à CPI Filipe Martins, assessor internacional; Arthur Weintraub, ex-assessor da Presidência da República. O empresário Carlos Wizard também será ouvido.
Para falar sobre o colapso em Manaus, será ouvido o representante da empresa White Martins, Paulo Baraúna.
O requerimento do vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, para convocar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como testemunha não foi apreciado. O tema é controverso. Não foram apreciados requerimento de convocação de prefeitos. A votação deverá ocorrer na próxima semana.
A CPI vai realizar duas reuniões para debater a eficácia de tratamentos contra covid-19 com drogas como a cloroquina. Os parlamentares devem ouvir quatro especialistas, dois a favor e dois contra o procedimento.
Com informações do Aos Fatos, Metrópoles e Veja