A cúpula da CPI da Pandemia no Senado já tem uma estratégia para fazer com que as denúncias contra Jair Bolsonaro (sem partido) cheguem ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso o procurador-geral da República, Augusto Aras, se recuse a encaminhar as investigações.
A informação foi divulgada com exclusividade pela jornalista Malu Gaspar, de O Globo.
Desde que assumiu o cargo, Aras resiste em dar seguimento a ações contra o presidente da República, como a que tentou vedar a campanha “O Brasil não pode parar”, que ia contra o isolamento social, ou a que propõe a responsabilização criminal de Bolsonaro por não usar máscara.
Por lei, após a entrega do relatório no dia 21 de outubro, Aras tem 30 dias para dar um encaminhamento ao documento. No entanto, se o PGR arquivar o relatório ou não enviar as denúncias ao STF, pela estratégia da CPI, entidades de direito privado entrarão com ações diretamente no STF.
Atualmente, membros da CPI já vêm discutindo essa alternativa com membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que podem assumir a causa em nome de associações de vítimas da Covid, por exemplo.
“Em caso de eventual desídia do Ministério Público, a parte legítima da ação, ou seja, o público ou parentes de vítimas, tem a possibilidade de ofertar uma ação direta privada ao STF”, afirma o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues. O instrumento legal para isso é a ação penal subsidiária da ação civil pública.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), já está decidido a incluir Bolsonaro entre os responsáveis pela trágica marca de mais de 600 mil mortes pela Covid. Além do presidente, cerca de 30 pessoas devem ter o indiciamento proposto no relatório final, entre eles o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Calheiros ainda avalia incluir Carlos e Eduardo nessa lista.
Renan vai entregar o relatório final no próximo dia 19. O documento será votado na CPI no dia 20, quando os senadores esperam também apresentar o monumento em homenagem às vítimas. O memorial será instalado no espelho d’água em frente ao prédio do Congresso Nacional.
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A apreensão com a inação de Aras e a possibilidade de as denúncias caírem no vazio fez os senadores planejarem a formação de uma espécie de “observatório da CPI” – um grupo de parlamentares que vai continuar atuando após o encerramento da comissão.
Uma das principais tarefas do grupo é desmembrar as acusações para apresentá-las em diferentes instâncias do Legislativo, do MP e da Justiça.
Segundo a programação já definida, o primeiro a receber o relatório será Aras, no dia 21 de outubro. A seguir, os senadores vão levar à Procuradoria da República do Distrito Federal os pedidos de indiciamento de pessoas que não têm foro privilegiado, como Pazuello e seu secretário-executivo na Saúde, Élcio Franco. Depois disso, eles irão à força tarefa do Ministério Público Federal de São Paulo, que já conduz os processos contra a Prevent Sênior.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, também será visitado, uma vez que cabe a ele pautar a abertura de processos de impeachment por crime de responsabilidade.
Outra instância a que a CPI pretende recorrer para amplificar o alcance de suas descobertas é o Tribunal Internacional Penal, em Haia, onde Bolsonaro já responde a três acusações. Para isso, contará com a ajuda do grupo de juristas que assessora a CPI, entre os quais o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Junior. “O relatório não é o fim, é um novo começo. As mais de 600.000 famílias brasileiras que perderam um amor de suas vidas exigem essa resposta de nós”, diz Randolfe.
Com informações de O Globo