Criador do “Monstrans: experimentando horrormônios“, Lino Arruda é uma pessoa não-binária transmasculina que se tornou referência para a comunidade LGBTQ+
Em entrevista ao Ponte Jornalismo, o quadrinista Lino Arruda, 34 anos, conversa sobre a sua vivencia no mundo como uma pessoa não-binária transmasculina — quem não se encaixa na binaridade dos sexos (homem ou mulher), mas que reivindica o gênero masculino.
Nascido no interior de São Paulo, em Campinas, Lino é criador do “Monstrans: experimentando horrormônios“, um projeto autobiográfico originado de sua tese de doutorado em Literatura.
Após se tornar destaque nas redes sociais em junho, mês que se comemora o Dia Internacional do Orgulho LGBT+, Lino venceu do Rumos Itaú com Monstrans e promete que em 2021 o projeto ganhará uma HQ física.
Como surgiu o Monstrans?
Lino – O Monstrans é um desdobramento da minha tese de doutorado em Literatura. Como eu trabalhei com zines de pessoas trans e travestis eu queria dar uma contribuição com esse trabalho acadêmico e fiz a tese contando uma história pessoal e autobiográfica sobre uma visita que eu fiz ao meu avô e ele não me reconheceu por conta das transformações hormonais. Aí ganhei o edital do Rumos para transformar isso em livro. Ele vai ser publicado no ano que vem e são três histórias autobiográficas que relacionam deficiência, lesbianidade e transmasculinidade.
Desde muito cedo, o artista aprendeu a lidar com outro preconceito: ele nasceu com uma deficiência congênita nas pernas. Apesar disso, ele dá o recado: “Sempre querem me encaixar em uma narrativa de nascer menina, odiar meu corpo… narrativas de sofrimento. Mas não é só isso que existe. Temos muitas outras narrativas”, avalia.
Ponte – Como é estar no universo dos quadrinhos?
Lino –Eu não me sinto no mundo dos quadrinhos. Eu comecei fazendo para as lésbicas, não para o mundo dos quadrinhos. Eu tenho tentado me inserir agora, nas bancas e congressos de quadrinistas. O que eu tenho sentido é que existem iniciativas muito bacanas, como a Poc Con, que reúnem um leque de pessoas LGBTs. Na minha trajetória, eu não consigo e não quero tentar me inserir enquanto homem nos quadrinhos. O que eu comunico é para a minha comunidade.
Não quero ser lido como um homem cis, você tem que vir de um lugar de homem cis que eu já não vim, eu fui mulher e lésbica 95% da minha vida. Sendo mulher, eu fiz parte da construção de um movimento autônomo, lésbico e separatista em relação a espaços só para mulheres. Agora eu não posso mais participar disso. Tem exposições só para as mulheres, que finalmente abarcam mulheres trans e travestis. Somos deixados para trás enquanto homens trans.
Confira a entrevista completa aqui.