Devido o crescimento de casos registrados de coronavírus no Brasil, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) prevê que a desaceleração da economia brasileira poderá causar um impacto de R$ 46,5 bilhões em perdas e um encolhimento de 24% no setor da cultura e da indústria criativa em 2020.
O estudo projetou um cenário hipotético de três meses críticos, de abril a junho – em que o volume das atividades tem uma queda para 20% -, e uma gradual recuperação até dezembro, quando estariam retomados os patamares anteriores à crise.
Dependente das aglomerações públicas e receitas de bilheteria, anunciantes e patrocínios, o segmento é um dos mais afetados com a suspensão das operações de casas de shows, salas de cinema, teatros, museus, feiras, festivais, produções audiovisuais e livrarias.
Cultura em xeque
Associações de segmentos como audiovisual, música, artes cênicas, circo e do livro já enviaram ofícios ao governo federal e BNDES solicitando medidas como abertura de linhas de crédito e liberação de recursos atualmente congelados.
Entre os principais entraves legais está a atual situação da Secretaria Especial de Cultura. Depois de perder o status de ministério, a secretaria foi alocada na pasta da Cidadania e, em seguida, subdividida com a do Turismo. Assim, órgãos e autarquias tradicionalmente veiculados à cultura estão espalhados.
“Estamos no limbo, vivendo uma crise iniciada antes do coronavírus e precisando de um respiro”, afirma o produtor de cinema Leonardo Edde, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual (Sicav).
Os aportes do governo federal estão sendo reduzidos desde administrações anteriores. Os valores desembolsados por meio do Fundo Nacional de Cultura (FNC) caíram de R$ 345 milhões em 2010 para R$ 26 milhões em 2014 e apenas R$ 990 mil no ano passado. O recuo foi acompanhado de uma crescente polarização com a classe artística, uma das cruzadas ideológicas deste governo também observada em áreas como a Educação.
“O setor é um dos mais afetados porque, depois de sofrer cortes, agora perde talvez sua única fonte de sustentabilidade econômica: a oportunidade de vender seu produto diretamente ao público”, diz Leandro Valiati, pesquisador de economia da cultura da UFRGS e da Queen Mary University de Londres.
Como forma imediata de injetar recursos, o Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura solicitou o destravamento dos recursos do FNC e do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).
“O setor cultural parou completamente em todo país”, diz Ursula Vidal, presidente do fórum e secretária de Cultura do Pará. “O descontingenciamento de R$ 300 milhões do Fundo Nacional de Cultura e dos recursos do fundo do audiovisual seria uma solução rápida que ampararia os Estados”, afirma.
Com informações da Valor Econômico.