O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a dar vazão ao seu autoritarismo ao ameaçar um repórter do jornal O Globo que o questionou sobre os depósitos feitos Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na tarde do domingo (23).
Depois de presidente afirmar que tinha vontade de encher a boca de uma repórter de ‘porrada’, uma avalanche de críticas ao mandatário inundou as redes sociais entre a tarde de ontem e a manhã desta segunda-feira (23). Jornalistas, famosos e parlamentares da oposição iniciaram uma corrente, refazendo a pergunta feito pelo jornalista, enquanto nomes do Centrão calaram diante de mais um ataque à imprensa.
Líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon (RJ) afirmou que a atitude de Bolsonaro é uma nova ameaça à democracia. “O que se espera de um presidente é que ele se comporte à altura do cargo que ocupa. Ameaças à imprensa são ameaças à própria democracia. Além disso, Bolsonaro tenta esconder o que aos poucos está vindo à tona: seu envolvimento num esquema criminoso”.
Vice-líder do PCdoB, o deputado federal Márcio Jerry (MA) afirmou que o desequilíbrio do presidente diante de questionamentos relacionados às denúncias é uma ‘confissão de culpa’ de seus crimes e que o caso precisa ser levado à Justiça. “Bolsonaro mostra total desequilibro quando o assunto é a relação dele e familiares com Queiroz e milicianos. Uma espécie de confissão de culpa! Esta ameaça é criminosa, atenta contra o cargo que exerce. Por isso, requer acionamento da Justiça”, disse.
A deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP) reiterou o pedido feito por seu partido para investigar os crimes cometidos pelo presidente e sua família. “O PSOL tem pedido de CPI para apurar os cheques depositados na conta de dona Michele Bolsonaro desde 7 de agosto. Esse gesto violento do Jair só revela que é preciso mesmo trazer a verdade à tona”, afirmou.
Pedido no STF contra Bolsonaro
Natália Bonavides (PT-RN) afirmou que recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para registrar uma denúncia contra Jair Bolsonaro. “Acabo de protocolar no STF denúncia contra Bolsonaro por crime de constrangimento ilegal. Hoje ele ameaçou agredir um jornalista para impedi-lo de fazer seu trabalho. Bolsonaro é um delinquente contumaz! (A propósito, por que Michelle Bolsonaro recebeu R$ 89.000,00 de Queiroz?)”, questionou a deputada.
Por sua vez, o ministro da Corte, Gilmar Mendes, usou as redes sociais para lançar um manifesto pela liberdade de imprensa. “A liberdade de imprensa é uma das bases da democracia. É inadmissível censurar jornalistas pelo mero descontentamento com o conteúdo veiculado. G. Orwell: ‘Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade’”, escreveu.
Violência contra a imprensa
No Senado, o líder da oposição, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) declarou que irá recorrer à Organização dos Estados Americanos (OEA). “Superamos a ditadura, somos uma democracia e Bolsonaro tem que respeitar os direitos adquiridos. Iremos apresentar denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA para que o órgão acompanhe a violência contra a liberdade de imprensa no Brasil”.
Bolsonaro de volta ao ataque
Sem mencionar diretamente o episódio, Jair Bolsonaro usou as redes na manhã desta segunda para tentar justificar seu comportamento. “Há pelo menos 10 anos o sistema Globo me persegue e nada conseguiram provar contra mim. Agora aguardo explicações da família Marinho sobre a delação do “doleiro dos doleiros”, onde valores superiores a R$ 1 bilhão teriam sido repassados a eles”, questionou, na tentativa de criar um novo fato.
A postagem logo gerou uma onda de perguntas ao presidente. O músico Caetano Veloso, a jornalista Mônica Waldvogel, o influenciador digital Felipe Neto, a cartunista Laerte e o humorista Fábio Porchat foram alguns dos nomes a retrucarem o mandatário com a pergunta “Presidente Jair Bolsonaro, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?”.
Entenda o caso
Durante visita à Catedral de Brasília, Bolsonaro foi perguntado por um repórter do jornal O Globo sobre o motivo dos depósitos feitos a Michelle. Em resposta, o mandatário afirmou: “A vontade que eu tenho é de encher sua boca de porrada”. Após a ameaça, jornalistas perguntaram se a afirmação do presidente era direcionada para toda imprensa ou apenas para a repórter que fez a pergunta. “Isso é uma ameaça presidente?”. Ele, no entanto, não respondeu.
A informação sobre os depósitos feitos por Queiroz foi revelada pela revista Crusoé no último dia 7 de agosto. De acordo com a reportagem, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), primogênito entre os filhos do presidente, fez depósitos que totalizam R$ 89 mil entre 2011 e 2016 na conta da primeira-dama.