
A CPI da Pandemia no Senado ouve nesta quinta-feira (15) o procurador da empresa Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho. O depoimento dele, pedido por Humberto Costa (PT-PE), tratará de investigações sobre suposto caso de propinas envolvendo compra de vacinas AstraZeneca.
Para depoente, Blanco era ‘assessor oficioso’ de Roberto Dias
Cristiano Carvalho apontou o tenente-coronel Marcelo Blanco, ex-diretor-substituto de Logística do Ministério da Saúde, como elo importante entre a Davati e a pasta. Ele disse que Blanco teria continuado a exercer influência sobre o diretor de Logística, Roberto Dias, mesmo depois de deixar o cargo, como um “assessor oficioso”. Segundo Carvalho, Blanco chegou a ele no dia 1º de março e se apresentou como um funcionário “recentemente exonerado” da Saúde que teria passado a trabalhar como representante de vendas de insumos hospitalares, com negócios no Ministério.
Carvalho disse que não chegou a acertar com Blanco nenhum valor de comissionamento pela venda de vacinas à Saúde, mas informou ao tenente-coronel que a empresa ficaria com 20 centavos de dólar por dose de vacina. Munido dessa informação, Blanco teria respondido que levaria o assunto a Roberto Dias.12h53
Franco não sabia que vacina vinha sendo negociada por Dias, diz Carvalho
O vendedor Cristiano Carvalho relatou à CPI que, no dia 12 de março, quando esteve no Ministério da Saúde, comunicou ao então secretário-executivo Elcio Franco que já vinha negociando as vacinas com o então diretor do Departamento de Logística, Roberto Dias. Entretanto, Franco, que era a maior autoridade da pasta depois do ministro Eduardo Pazuello, desconhecia tal fato, disse Carvalho. 12h48
Para Carvalho, Dominguetti foi ‘ingênuo’ ao divulgar áudio de deputado
Cristiano Carvalho classificou Dominguetti Pereira como “ingênuo” ao reproduzir o áudio do deputado Luis Miranda (DEM-DF) durante depoimento à CPI. Ele contou que, logo após a divulgação, mandou mensagem ao cabo da PM e vendedor da Davati para informar que o áudio era antigo e que o parlamentar falava sobre negociações relacionadas a luvas e não a vacinas. Cristiano disse acreditar que Dominguetti não “agiu de má fé” e que em nenhum momento o orientou para que divulgasse o material.
Carvalho diz que inicialmente não acreditava nas intenções do governo
Questionado sobre o motivo de Roberto Ferreira Dias, então diretor de Logística do Ministério da Saúde, ter iniciado as tratativas com a empresa Latin Air Supplies, Cristiano Carvalho afirmou que inicialmente não acreditava na intenção do governo brasileiro de comprar vacinas.
“Indiquei uma pessoa dos EUA para tratar disso com Roberto Dias, Rafael Alves, Dominguetti e reverendo Amilton. O Roberto começou a pressionar pedindo uma empresa mais encorpada que pudesse fazer esse tipo de operação. Foi aí que eu procurei o sr. Guerra nos EUA e ele me apresentou ao Herman Cardenas [dono da Davati].”
Depoente nega citação a Ricardo Barros em negociação da Covaxin
Cristiano Carvalho negou que o líder do Governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), tenha sido citado em negociações para a compra da vacina Covaxin. Ele disse, no entanto, que outros parlamentares assinaram cartas de apoio para que a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), ONG presidida pelo reverendo Amilton, intermediasse a aquisição do imunizante indiano.
“Peço desculpas pela ignorância, mas só descobri quem era Ricardo Barros através da CPI. Nunca me citaram o nome dele em nenhuma negociação dessas aqui”, disse.
Requerimentos apreciados na CPI
Também está na pauta da reunião a análise de 40 requerimentos. Os senadores querem acesso, por exemplo, ao depoimento que a diretora-executiva da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, prestou à Polícia Federal, e ao contrato entre a Precisa e o laboratório indiano Bharat Biotech. A reunião desta quinta deve ser a última antes do recesso parlamentar, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já anunciou a prorrogação da CPI por mais 90 dias.
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CPI quer esclarecer pedido de propina
Em seu requerimento, Humberto Costa cita reportagem da Folha de S.Paulo de 29 de junho, dando conta que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, teria condicionado fazer negócio com a Davati em troca de propinas no valor de U$ 1 por dose de vacina. Para o senador, a denúncia é “gravíssima” e precisa ser mais investigada.
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Segundo relato feito ao jornal pelo PM Luiz Paulo Dominghetti, que se apresentou como representante da Davati, a proposta da propina se deu em 25 de fevereiro, em encontro com Dias no restaurante Vasto, em Brasília. Dias teria sido indicado ao cargo no ministério pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), de acordo com a reportagem citada pelo senador.
Inicialmente a proposta da Davati seria vender 400 milhões de vacinas da AstraZeneca contra a covid-19 por U$ 3,50, mas o preço acabou inflado para U$ 15,50, devido aos “bastidores asquerosos e tenebrosos” de Roberto Dias, segundo relato de Dominghetti na reportagem. A matéria da Folha de S.Paulo esclarece que chegou a Dominghetti devido a informação repassada por Cristiano Carvalho. Ainda segundo o jornal, o valor da propina chegaria a R$ 1 bilhão.
Dominghetti acabou se reunindo com Dias no ministério no dia seguinte ao encontro no Vasto, em 26 de fevereiro, quando, pelo relato do PM, a proposta de propina foi reiterada. Mas como não houve acerto, a pasta teria se desinteressado pelo negócio.
Com informações da Agência Senado