
O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, confirmou as acusações já feitas contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante o depoimento prestado à Polícia Federal, no último sábado (2). O relatório, com a íntegra de suas falas, foi divulgado nesta terça-feira (5) e nele, o ex-chefe da Justiça reafirma as tentativas de interferência de Bolsonaro no comando da Superintendência da PF no Rio de Janeiro, principal queixa de Moro para deixar o cargo, no dia 24 de abril.
“A mensagem tinha, mais ou menos o seguinte teor: ‘Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro‘”, de acordo com termo de declarações da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado de Curitiba. Segundo Moro, Bolsonaro também afirmou, em reunião gravada e diante de outros ministros que “se não pudesse trocar o Superintendente do Rio, trocaria o Diretor-Geral da PF e o próprio Ministro da Justiça”.
Repercussão
As declarações não tardaram a repercutir entre políticos dos mais diferentes partidos.
Líder do PSB, Alessandro Molon (RJ) voltou a ver provas de crimes nas confirmações de Moro. Reproduzindo o testemunho do ex-ministro, Molon questionou a razão do interesse de Bolsonaro pela comarca da instituição no Rio, onde está a base de apoio de Bolsonaro. “Por que será?”, ironizou. No pedido de impeachment protocolado há duas semanas pelo parlamentar junto a colegas do partido, Molon recordou que Bolsonaro cometeu 11 crimes de responsabilidade contra a democracia e as instituições brasileiras.
Milícias
Já a deputada Érika Kokay (PT-DF) foi mais além, respondendo diretamente sobre o interesse do presidente. “Por que a PF do Rio de Janeiro? Por que é lá que estão investigações sobre o assassinato de Marielle e o esquema dos filhos com a milícia! É gravíssimo!”, apontou.
Representante do PSOL, Marcelo Freixo (RJ) também recorreu ao suposto envolvimento do clã Bolsonaro com as milícias no estado para comentar o caso. “Das 27 superintendências da PF no Brasil, o único comando que entrou na mira de Bolsonaro foi a do RJ. Será que isso tem a ver com as relações da família com milícia e matador profissional?”, perguntou, irônico.
Nem um nem outro
No senado, Humberto Costa (PT-PE) não poupou nem Moro nem o presidente de críticas. “Os crimes de Jair Bolsonaro foram confirmados no depoimento de Sérgio Moro à PF. É vergonhoso, no entanto, que o ex-juiz, mestre em condenar sem provas, tenha evitado classificar como criminosa a postura do ex-chefe diante de tantas barbaridades relatadas”, comentou.
Para o ex-ministro do Esporte, deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), as falas que vêm à público agora evidências dos crimes do clã Bolsonaro. “Só isso já é prova mais do que suficiente que Bolsonaro usa a presidência para proteger a si e familiares de investigações que levem a seus crimes”, comentou.
Watergate tupiniquim
Já o senador Renan Calheiros (MDB-AL) recorreu à história norte-americana do escândalo de Watergate para definir o fim da saga presidencial. “Moro sai atirando no fascismo que defende e ajudou a fabricar. Os crimes de responsabilidade apontados por ele são estarrecedores e gravíssimos: controlar investigações, blindar filhos, interferir na PF, para ter acesso a relatórios sigilosos são o fim da linha. Com Nixon foi assim”.
Cereja do bolo
Ex-deputado e mais novo aliado do Governo Bolsonaro, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson levantou as razões pela qual os advogados de Moro pediram a divulgação de seu depoimento. “Sérgio Moro está com pressa de fritar o presidente Bolsonaro. O advogado dele peticionou no STF para que o depoimento que o ex-ministro deu à PF seja logo de conhecimento público. Moro quer colocar logo mais uma cereja no bolo do impeachment”.
Contra-ataque
Planejando o contra-ataque , Bolsonaro disse a aliados que pensa em divulgar áudios e mensagens de conversas com Moro. A ideia é que as informações possam ser usadas em sua própria defesa.