Por Marcelo Hailer
O inesquecível professor Paulo Freire, em “Educação como prática da liberdade”, afirma que “toda vez que se suprime a liberdade, fica ele (as pessoas) um ser meramente ajustado ou acomodado”. A obra foi publicada em 1967 e segue até hoje como um clássico norteador para todos aqueles que trabalham com educação.
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Neste dia 15 de novembro é celebrado o Dia do Professor que, por motivos óbvios, não há muito para celebrar.
Na política nacional temos um ministro da Educação completamente inapto e que já fez declarações homofóbicas, que também afirmou que a “universidade deveria ser para poucos”.
Além disso, desde o governo” de Michel Temer foi iniciado um processo de corte nas bolsas de Iniciação Científica (IC) e da pós-graduação como toda. Política que se aprofundou na gestão de Jair Bolsonaro (sem partido).
Mais recentemente, um novo corte de verbas no CNPq foi anunciado pelo governo Bolsonaro. Algo tão grave que levou o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, a se queixar publicamente sobre o fato.
Enfim, o obscurantismo tomou conta das políticas educacionais, programas de intercâmbio na pós-graduação foram cortados e em vários estados os governos locais obrigaram os professores a retornarem às salas de aulas, mesmo que parte deles não estivessem imunizados.
O fato é que, os últimos anos o Brasil vive sob uma política da destruição da educação em seu todo. O governo que diz se pautar pela “Pátria amada”, destrói justamente aquela ferramenta que poderia fazer do Brasil ser a grandeza que é… mas, fascistas, como sempre, buscam tudo, menos a construção de cidadãos críticos.
Porém e apesar dos detratores da educação, há milhares de trabalhadores que, apesar das perseguições, desvalorização de carreira de professor e cortes sistemáticas no apoio à pesquisa, fazem da educação um trabalho-militância.
Por conta disso, separamos algumas obras (filmes, series e livros) que vão nesse sentido e mostram o potencial transformador e emancipador da educação e de cada professor.
M-8 (filme, Netflix)
Dirigido por Jefferson De, o longa conta a história Maurício, jovem negro e de origem pobre que ingressa na Universidade Federal de Medicina.
O longa aborda várias questões a partir da trama central: racismo, elitismo e o fato de que todos os corpos utilizados na aula de anatomia são negros.
Juntamente com isso, o jovem estudante é a todo momento questionado se o lugar é naquela universidade.
Segunda Chamada (Série/ Globoplay)
Série produzida pela Rede Globo e que acaba de lançar a sua segunda temporada, conta o dia a dia de um professores que dão aula em escola pública no período noturno, que é voltada para adultos (EJA).
A trama mostra que, apesar de todas as adversidades e falta de estrutura material do ambiente, os professores encaram aquilo como uma profissão e ação política.
Além disso, a série também mostra o papel da educação como ferramenta de emancipação na vida de jovens e adultos.
Que horas ela volta? (Filme)
Jéssica, filha da pernambucana Val, vai para São Paulo ao encontro de sua mãe para se preparar para o vestibular de Arquitetura na Universidade de São Paulo (USP).
Além de todo o preconceito de classe retratado no filme, o longa mostra o quão importante é o acesso universal às universidades como ferramenta para romper com o ciclos de pobreza.
Sex Education (Série/ Netflix)
Ainda que não seja uma produçao brasileira, a série Sex Education (Reino Unido) traz uma série de questões em suas três temporadas que são pertinentes ao momento histórico atual do Brasil, bem como de todo o Ocidente: o falar sobre sexualidade na sala de aula; como a questão de raça, sexualidade e gênero é recebida por professores; em sua temporada mais recente, a série aborda a chegada de uma nova diretora que quer impor a abstinêcia sexual como disciplina sobre educação sexual, a partir daí inicia um embate dos professores (contrários a tese) e dos alunos.
Cabe destacar que, recentemente a minsitra da Família Damares Alves, defendeu tal política.
Educação como prática da liberdade, Paulo Freire (livro/1967)
Neste clássico da educação, Paulo Freire, que é o Patrono da Educação no Brasil, traz para o debate a necessidade de, a partir da educação e o meio onde está inserida, incutir a crítica e a liberdade, caso contrário, teremos uma sociedade de “acomodados”.
Além disso, Freire faz um debate com alguns projetos “radicais” de educação e afirma que, para a efetivação de um projeto pedagógico transformador, é preciso estar junto e conversando com o povo.
Ensinando a transgredir – A educação como prática da liberdade, Bell Hooks (livro/ 1994)
Bell Hooks é uma educadora popular dos Estados Unidos que aplica os métodos de Paulo Freire, mas não de maneira direta. A autora faz uma adaptação feminista e pautada pelas questões de raça aos texto do educador brasileiro.
Nesta obra ela conta a passagem da educação segregada para a não segregada, e como foi o seu encontro com Paulo Freire, que primeiramente se deu pelo livro “Pedagogia do Oprimido” e que, a partir daí um novo sentido para a educação surgiu à sua frente.
O professor Paulo Freire e Bell Hooks se conheceram e trocaram muitas cartas. Atualmente, a autora é considerada uma das educadoras “paulo freireana” mais popular fora do Brasil.