Antes de embarcar para a China, a Embaixada do país no Brasil me orientou a instalar no meu telefone o aplicativo WeChat, pois é uma ferramenta imprescindível para o dia a dia aqui no gigante asiático.
O WeChat está para os chineses como o WhatsApp está para os brasileiros. É o aplicativo de mensagens mais usado por aqui e tem mais de um bilhão de usuários ativos globalmente. Só na China as estimativas indicam que sejam mais de 700 milhões de usuários ativos. Outras 70 milhões de contas ficam localizadas fora do país. Atualmente, a versão para Android e iOS estão disponíveis em português. É uma mão na roda!
O serviço multiplataforma de mensagens instantâneas foi lançado em 2011 pela Tencent, uma gigante de tecnologia chinesa que controla o maior portal de serviços de internet do país. Essa big tech é a dona da Riot Games, criadora do League of Legends (LoL), o game mais jogado no mundo.
O WeChat nasceu para fazer as vezes de um aplicativo comum de mensagem, como o WhatsApp e o Facebook Messenger. Só que o sucesso entre os usuários chineses foi tanto que a plataforma cresceu e se tornou uma ferramenta usada para basicamente tudo o que se possa imaginar quando pensa em internet: conversar com amigos por texto, áudio ou vídeo; traduzir instantaneamente as mensagens que recebe em outro idioma que você quiser; fazer compras e pagamentos; enviar dinheiro para outras pessoas; compartilhar conteúdos entre amigos e familiares; jogos pelo celular; chamar táxis e usar o transporte público; reservar hotéis; e até acessar serviços do governo.
Embora muito similar ao WhatsApp, que também já é mais do que um aplicativo para troca de mensagem, o WeChat é pioneiro em agregar todo tipo de serviço digital que, geralmente, a gente costuma fazer em mais de um aplicativo. Não à toa, a ferramenta é a mais usada da China, já que, por aqui, ela reúne em um só lugar todos esses recursos em uma seção chamada “Mini Programas”.
Fica nesta seção o meu Health Kit, que os chineses chamam de “Tesouro da Saúde”. É por meio dessa plataforma do município de Beijing que eu comprovo estar livre de covid. Lá estão reunidos os resultados de todos os testes PCR que eu realizo a cada dois dias aqui na China; o registro dos lugares por onde passei e meu histórico de vacinação.
Todas as vezes que eu entro em qualquer lugar da cidade, preciso apresentar o meu passaporte verde. Os estabelecimentos e os transportes públicos deixam em local visível um QR Code cuja leitura é feita pelo mini programa e acessa o meu status verde para circular por Beijing. O WeChat também tem um leitor sempre à mão para esses códigos bidimensionais que são muito populares na China.
Leia também: De Mao a Xi: o marxismo está no dia a dia do povo chinês
No último domingo, meu terceiro dia em Beijing, eu passei por um sufoco. Eu saí do complexo onde moro para comprar comida. Embora o local fosse dentro dessa comunidade similar a um condomínio fechado no Brasil, eu optei por contornar a área cercada para cortar caminho. Na volta, meu tesouro da saúde estava bloqueado. Como havia estado em Chengdu, capital da província de Sichuan, onde cumpri dez dias de quarentena e foram registrados casos de covid, meu status ficou em alerta. Eu só consegui entrar de volta para casa depois de troca de mensagens e telefonemas e graças à gentileza dos guardas da portaria.
Com a ajuda dos meus anfitriões do programa do qual estou participando, foi feito contato com a autoridade de saúde pública de Beijing e fui orientada a permanecer dentro do complexo, aguardar os resultados dos mais recentes PCR e a mudança de status que seria feita de forma automática. Na tarde de terça-feira (2) eu recebi meu tesouro de saúde verde novamente. Um alívio!
Outra área bastante popular no WeChat é a seleção de notícias em grupos que fornecem boletins informativos sobre determinados assuntos. É algo bem parecido ao que o Telegrama faz com as comunidades, em que os usuários não podem interagir, apenas visualizar o que os administradores enviam em seus grupos. Eu acompanho, desde a escalada do conflito em Taiwan, os comunicados do Exército de Libertação Popular, por exemplo. Assim como as páginas dos principais veículos de imprensa chineses.
Uma das funcionalidades mais eficientes que eu uso é a de tradução chamada Weixin. Como meu WeChat é em português, basta um clique para eu traduzir de qualquer idioma para o meu. Imprescindível. Uso também o Google Tradutor, mas acho o Weixin muito mais amigável.
A seção ‘Momentos’, que eu só passei a usar esta semana, você pode compartilhar fotos com legendas e links. Bem similar ao Facebook e ao Instagram.
Em ‘Descobrir’, você pode acessar canais de notícias nas seções “Principais Histórias” e “Pesquisar”, embora tudo o que estiver lá esteja escrito em chinês, o que é facilmente solucionado com o Weixin. Depois de muito fuçar aprendi como fazer essas traduções.
Além da experiência de conhecer uma cultura milenar pela qual tenho enorme admiração e acredito que possa inspirar o Brasil na busca das soluções como a inclusão digital e o enfrentamento à fome, por exemplo, esse encontro com o WeChat tem sido bastante divertido. Todos os dias eu aprendo algo novo.