
Ao reconhecer a derrota para Bruno Covas (PSDB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo na noite deste domingo (29), Guilherme Boulos (PSOL), 38, avaliou que sua campanha conquistou uma vitória política em 2020 e que esta servirá de inspiração para o Brasil. Além de críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Boulos também fez acenos nacionais ao falar de seu futuro político.
“Vou trabalhar […], para que o que a gente conseguiu construir e unir em São Paulo sirva de inspiração para o Brasil. Para ajudar a derrotar o atraso e o autoritarismo. Vou estar à disposição, como sempre estive, das lutas do nosso povo, em São Paulo e no país, por democracia, justiça e direitos sociais”, afirmou em breve fala transmitida online.
Boulos foi diagnosticado com Covid-19 na sexta (27), na reta final do segundo turno, e segue em isolamento, em casa. Ele não pôde votar neste domingo.
“Nessa campanha nós não construímos apenas uma onda de esperança para a eleição desse domingo. Nós construímos muito mais, nós apontamos para o futuro. […] Hoje não é o fim de uma caminhada, é o começo”, afirmou.
Boulos teve 2,2 milhões de votos
A fala corroborou a avaliação entre políticos, tanto adversários como aliados, de que o resultado da campanha cacifou Boulos para voos mais altos em 2022. No segundo turno, ele obteve quase 2,2 milhões de votos – 40,62% do eleitorado da capital. No primeiro turno, ele obteve 1 milhão de votos na capital paulista, mais do que os 617 mil alcançados no Brasil em 2018, quando concorreu ao Planalto.
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“Os mais de dois milhões de votos que a gente recebeu hoje são a energia que a gente precisa para seguir lutando. […] É a força, é o ponto de partida para que a onda de esperança que a gente viu aqui não fique só aqui. Que seja exemplo e inspiração para milhões de pessoas lutarem por um país mais justo, democrático e diverso”, afirmou Boulos em seu discurso.
“Olhando para a história e para o futuro, não tenho dúvida alguma de que, apesar de a gente não ter ganho essa eleição, a gente saiu vitorioso. É o início de um ciclo que se anuncia”, completou.
Fortalecimento do campo progressista
No discurso, Boulos agradeceu ainda todos os partidos e nomes que o apoiaram, citando o ex-presidente Lula (PT), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o governador Flávio Dino (PCdoB).
“Nós vamos seguir lutando por uma sociedade onde ninguém more na rua, onde ninguém vire o lixo para poder comer. Uma sociedade onde ninguém seja morto pela cor da sua pele, onde as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens, onde todas as formas de amor sejam respeitadas”, disse.
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) conseguiu aglutinar em torno de si uma frente de partidos de esquerda que também serve de ensaio para a eleição nacional, daqui a dois anos.
Apesar da derrota, a campanha do PSOL acabou fortalecendo o campo progressista. Não sem crises, é claro. O resultado da eleição vai exigir uma reacomodação entre PT e PSOL na cidade.
O período eleitoral foi marcado por pressão ao candidato do PT, Jilmar Tatto, sempre atrás de Boulos nas pesquisas, para que desistisse, mas ele só aderiu a Boulos no segundo turno.
‘Articulação da oposição’
Para o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, Boulos “sai credenciado como o principal nome da esquerda em São Paulo”.
“É um feito extraordinário superar as dificuldades materiais, o preconceito, todas as adversidades e chegar a esse resultado. Estamos muito satisfeitos”, afirmou. O dirigente disse ainda que a legenda fecha a eleição em São Paulo com um vitória política, apesar de ter perdido para o PSDB. “O PSOL saiu maior, mais legitimado politicamente.”
Ele afirmou que o fortalecimento do partido o torna “um ator decisivo na articulação das oposições para derrotar o retrocesso representado por Jair Bolsonaro em nível nacional”.
O presidente nacional do PSOL despista ao ser questionado sobre o futuro de Boulos. De acordo com Medeiros, ainda é prematuro discutir qualquer projeção sobre 2022. “Agora vamos nos debruçar sobre os ensinamentos dessa linda campanha para só depois pensar os próximos passos.”
Aliados também comemoraram a performance de Boulos ao lembrar que o PSDB, além de mais recursos e um tempo superior na propaganda eleitoral (17 segundos contra 3min29s no primeiro turno), controla as máquinas municipal e estadual. Enquanto Covas gastou mais de R$ 19 milhões na campanha, Boulos teve disponíveis cerca de R$ 6,4 milhões.
Com informações da Folha de S.Paulo