
O clã Bolsonaro voltou a dar mostras de seu próprio autoritarismo na última sexta-feira (12). Durante o discurso de despedida da presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) agradeceu nominalmente ao príncipe saudita Mohammed bin Salman, acusado de assassinar e mutilar o jornalista Jamal Khashoggi, crítico de seu regime.
Além de defender suas ações e as do governo, Eduardo destacou um anúncio de 2019, durante visita do presidente à Arábia Saudita, de que o fundo público do país árabe investiria US$ 10 bilhões (R$ 55,7 bilhões) no Brasil. “Exemplo objetivo deste trabalho é o acordo com o fundo de investimento público saudita para explorar oportunidades no Brasil, com investimentos mutuamente benéficos em até US$ 10 bilhões. Obrigado, príncipe Mohammad bin Salman”, disse o deputado.
MbS, sigla pela qual o príncipe é conhecido, é acusado de ser o mandante do assassinato de Jamal Khashoggi, colunista do jornal americano The Washington Post. Ele foi morto dentro do consulado saudita em Istambul, em outubro de 2018. Relatório divulgado neste ano pela inteligência dos Estados Unidos responsabilizou o príncipe pela morte do jornalista.
Aceno à extrema direita
O filho 03 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também agradeceu ao premiê da Hungria, Viktor Orbán, de ultradireita e que vem atuando contra a oposição e a imprensa local, afirmando que o país é “referência”. “Também agradeço a deferência do chanceler da Hungria, Péter Szijjártó, e o premiê Viktor Orbán, que tão bem me receberam em minha visita à Hungria, país que, para mim, é referência em várias áreas”, disse, citando a liderança criticada na Europa por suas investidas contra a imprensa livre e a oposição em seu país.
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Eduardo Bolsonaro também exaltou a atual relação do Brasil com Israel, que ele afirma ter sido duramente abalada no período de Dilma Rousseff na Presidência. Durante a administração petista, o governo recusou as credenciais do embaixador israelense designado para atuar no Brasil.
O parlamentar afirmou, misturando as ações da comissão com as do governo outra vez, que houve uma ruptura com uma diplomacia permeada pelo que chamou de “atrasos” e que o Brasil é tratado como um pária internacional, mas vem recebendo investimentos estrangeiros em nível elevado.
“A nossa política externa rompeu com vícios e atrasos e hoje prioriza os verdadeiros interesses nacionais. Os resultados são tangíveis apesar da campanha sórdida levada a cabo especialmente no exterior, não contra esse governo, mas contra o país”, afirmou o deputado. “Sim, a imagem do Brasil lá fora tem sido objeto de uma ofensiva perpetrada por aqueles que se proclamam democráticos, mas que não aceitam a vontade expressa nas urnas em 2018 por quase 60 milhões de brasileiros.”
A Comissão de Relações Exteriores da Câmara elegeu na sexta-feira (12) Aécio Neves (PSDB-MG) para a presidência do órgão em 2021, com 25 votos a favor e seis contrários. Aécio substituirá o filho de Bolsonaro, que esteve por dois mandatos à frente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Em 2020, a Comissão não funcionou em razão da pandemia.
Com informações da Folha de S.Paulo