
No mesmo momento em que atos antirracistas ganham proporção mundo afora, em reação manifestações racistas também se intensificam. Nesta sexta-feira (14) vence o prazo para que dirigentes de uma ONG e três deputadas negras de partidos de esquerda de Portugal, ameaçados de morte, abandonem o país.
De acordo com a Folha, as ameaças, também direcionadas a familiares, foram feitas pela organização de extrema-direita nacionalista Resistência Nacional, na quarta-feira (12).
No ultimato, enviado por email, os extremistas ordenaram que os ameaçados abandonassem o país no prazo de 48 horas.
O grupo é o mesmo que promoveu uma passeata em Lisboa, no sábado (8), com máscara e tochas, em alusão ao movimento supremacista branco Ku Klux Klan. Os participantes se concentraram em frente à sede da ONG SOS Racismo.
Segundo a mensagem, caso não saiam de Portugal no prazo estipulado, “medidas serão tomadas […] de forma a garantir a segurança do povo português”. “O mês de agosto será mês da luta contra os traidores da nação e seus apoiantes. O mês de agosto será o mês do reerguer nacionalista”, dizem os extremistas.

Mamadou Ba, um dos principais porta-vozes da associação sobre questões raciais no país, foi um dos que receberam mensagem eletrônica.
Ao todo, dez pessoas foram ameaçadas. Joacine Katar Moreira (sem partido) e Beatriz Gomes Dias, deputadas negras do bloco de esquerda, nascidas no exterior, estão entre as pessoas intimidadas. Do mesmo partido, a parlamentar Mariana Mortágua também foi alvo.
O grupo também ofende homossexuais e transgêneros.
A Polícia Judiciária portuguesa está investigando o caso, e o Ministério Público também abriu um inquérito sobre as ameaças recebidas.
Racismo negado
Em Portugal, onde é comum dirigentes políticos negarem haver grandes tensões raciais, o censo não recolhe informações sobre raça/cor. Assim, não há dados oficiais sobre o tamanho da população negra no país, o que dificulta tratar o tema do racismo como política de Estado.
Mesmo assim, o país não ficou de fora das manifestações do Black Lives Matter (antirracismo), com atos realizados em várias cidades. Estátuas de figuras ligadas ao passado colonial e escravocrata do país, como a do padre António Vieira, chegaram a ser atacadas.
Com o assassinato do ator negro Bruno Candé, 39, em 25 de julho, as tensões reacenderam o debate sobre racismo no país.
O artista foi morto perto de casa, com quatro tiros à queima-roupa. O autor dos disparos era vizinho do ator e teria proferido ofensas racistas. Segundo testemunhas, o assassino disse “preto, vai para a tua terra” antes de disparar.