O candidato do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, enfrentou nessa terça-feira (28) uma sabatina conduzida por empresários na Associação Comercial Paulista (ACSP), grupo com viés de atuação liberal.
Apesar de perguntas espinhosas, como sobre de onde tira seu sustento, o professor e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) adotou um tom moderado. Disse que o objetivo era desfazer “estereótipos” de que seria um “invasor de casas” ou um inimigo do setor privado.
Sem elevar o tom de voz e mantendo o semblante sorridente, o candidato do Psol foi entrevistado por duas horas por dirigentes da associação, afirma o Valor Econômico.
“Minha trajetória é mais conhecida no movimento social do que como professor, o que me rende a fama de invasor, ‘vai tomar a casa dos outros’, dizem. Acho que essa é uma oportunidade de desmitificar isso”, disse o candidato do Psol.
Discurso de esquerda
Um dos coordenadores da ACSP disse a Boulos que o discurso dele estava tão “redondo” que ele parecia “até candidato de direita“.
“Agradeço por dizer que o discurso está redondo. Justamente por isso ele é de esquerda. Isso não é característica da direita”, respondeu Boulos. “Talvez imaginassem que ia chegar aqui um cara com boné vermelho gritando ‘companheiros e companheiras’. Esse estereótipo tem a ver com o fato de que muitas pessoas não me conhecem ou me conhecem pela caricatura.”
Boulos tomou o combate à desigualdade como ponto de convergência com os empresários que o ouviam. “Minha trajetória é de combate à desigualdade. É bom para todo mundo. Ativa o comércio e a economia, deixa a cidade mais segura.”
Promessas de Boulos
O candidato do Psol prometeu, se eleito, manter o diálogo com a iniciativa privada. Deixou claro ser contrário às privatizações e ter críticas à forma como hoje são feitas as parcerias público-privadas (PPP), mas prometeu não “demonizar” o setor privado. Para Boulos, privatizar serviços públicos de saúde, educação e lazer os torna menos inclusivos.
“Não dá para pensar São Paulo sem diálogo com o setor privado”, afirmou. Para Boulos, incentivos fiscais são ineficientes para atrair investimentos. No lugar disso, ele sugere aquecer a demanda local, por meio do pagamento de renda solidária aos vulneráveis e geração de emprego em frentes de trabalho. “Ninguém vai investir em um lugar em que não tem gente com condições de comprar o seu produto. Fortalecer economicamente São Paulo e combater a desigualdade são coisas que coincidem.”
Outro sinal de moderação do candidato foi a forma como pretende tratar ações da prefeitura de que discorda.
“Não tenho condições de desmontar a operação delegada, porque não tem o que colocar no lugar. Defendo que a Guarda Civil Metropolitana retome o papel que é jurisdição dela e isso é um processo de longo prazo. Precisa abrir concurso, equipar. Não acabarei em janeiro com operação delegada, da mesma forma não tenho condições de chegar e dizer que acabaram as OS que gerem equipamentos de saúde”, afirmou. “São processos de transição.”
No fim do evento, ao agradecer o convite para falar, Boulos disse que “democracia é a capacidade de conversar com quem discorda da gente”. “Vivemos um tempo no país em que a discordância descamba para a agressão. Não tenho objetivo de destruir ninguém.”
Com informações do Valor Econômico