O crescimento do empreendedorismo feminino só tem avançado e as mulheres não pretendem retroceder!
A quantidade de mulheres consideradas empreendedoras no Brasil só tem crescido, a despeito de todas as dificuldades enfrentadas por elas.
Transformações sociais e econômicas tem provocado muitas mudanças no perfil do empreendedor brasileiro, que hoje abarca, além dos homens, mulheres e jovens.
De acordo com balanço divulgado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), nos últimos 14 anos o empreendedorismo feminino cresceu 34%.
Até o ano de 2014, 7,9 milhões de mulheres eram consideradas empreendedoras.
Contudo, embora estes números sejam animadores e esteja ocorrendo um crescimento considerável na quantidade de mulheres que empreendem, a real situação da mulher, empreendedora ou não, no Brasil ainda é lamentável.
Para entender a relevância destes números e a importância da manutenção de seu crescimento, é preciso que se faça uma análise sócio-histórica da situação da mulher no Brasil.
Situação atual da mulher na sociedade brasileira
A questão da mulher tem sido pauta constante em diversos ramos da sociedade, uma vez que o feminismo tem aberto portas pelas quais, a cada dia, mais e mais mulheres resolvem passar.
A luta pela equidade de gêneros começou há muito tempo. O que hoje parece o início de uma revolução feminista é, na verdade, a continuação de uma revolução que começou junto aos demais Movimentos Sociais dos anos 60.
Apenas em 1988, quando promulgada a Constitução que vige em nosso país até hoje, é que as mulheres passaram a ter direitos igualitários garantidos por lei:
“Art. 5°
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;”
A Constituição, entretanto, garante um direito que só existe em teoria.
Na prática, a condição da mulher ainda é extremamente inferior à que é estabelecida por lei.
A quantidade de mulheres empreendedoras tem crescido porque, atualmente, algumas vertentes de movimentos sociais parecem estar se inflando e progredindo, ao passo que se vê também um enorme retrocesso nos comportamentos que tendem a reforçar preconceitos – não apenas os de gênero.
Nesta época que suscita comparação com o despertar dos anos 60, a mulher ainda precisa superar muitas barreiras para poder empreender.
Podemos citar algumas das barreiras que as mulheres precisam vencer diariamente para conseguirem ser empreendedoras de sucesso:
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Lidar com preconceitos de gênero;
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Lidar com assédios sexuais e diversos outros tipos, inclusive em ambiente de trabalho;
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Lidar com misoginia;
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Enfrentar jornada dupla de trabalho;
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Receber salários 30% menores que homens para exercer as mesmas funções que eles, segundo o IBGE;
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Ter sua imagem sexualizada e objetificada;
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Conviver com a manutenção da cultura do estupro – a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil!
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Se negra, encarar maior violência e lidar, além de tudo, com preconceito racial e crimes de ódio.
Mulheres empreendedoras
Atualmente, 8% da população feminina do Brasil é de mulheres empreendedoras. Destas, 79% possuem ensino superior.
Embora os salários pagos às mulheres sejam muito inferiores aos que são pagos aos homens, elas possuem uma taxa de escolaridade muito maior que eles: 55% delas chegam ao Ensino Médio, ao passo que apenas 38% dos homens empreendedores o fazem.
As mulheres empreendedoras também são mais jovens em relação aos homens.
Quanto mais alta a classe social, maior a concentração de mulheres empreendedoras na área de Serviços, 59%, seguido do comércio com 31% e indústria com 7%.
Uma pesquisa organizada pela Rede Mulher Empreendedora, realizada com mais de 1300 mulheres, divulgada na quinta edição do Fórum Empreendedoras, aponta dados que reafirmam a potencialidade do empreendedorismo feminino.
De acordo com essa pesquisa, dentre as principais razões para a mulher empreender estão:
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Razões emocionais: 66% delas trabalham com o que gostam e 34% afirmam que empreender é a realização de um sonho;
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Ter flexibilidade de horário: 52%;
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Obter renda maior empreendendo do que trabalhando para outra pessoa: 40%.
A pesquisa aponta ainda que 75% das empreendedoras optam por começar algum empreendimento após a maternidade, sendo que na classe C este número sobe para 83%.
Um outro dado importante a se considerar diz respeito ao comprometimento da renda das mulheres empreendedoras.
Entre 37% das entrevistadas, de forma geral, o maior gasto é com moradia, o que muda quando se analisa a classe social: na classe A, o maior gasto é com educação, um dado que fala por si só.
Para começar a empreender, 41% das entrevistadas iniciaram seu empreendimento sem capital, enquanto outros 41% utilizaram verbas resilitórias, verba proveniente de poupança ou investimento próprio como fonte principal de investimento.
Além destes, a pesquisa apresenta outros dados relevantes para o entendimento do atual momento do empreendedorismo feminino.
Dentre as conclusões a que se pode chegar em posse destes números, uma delas é que o que impedia as mulheres de empreender era, de fato, sua condição social depreciada.
Percebe-se, a partir do avanço de movimentos feministas, que a mulher tem um enorme potencial empreendedor latente, e que agora elas querem, podem e devem fazer uso dele.
Por que é preciso falar sobre empreendedorismo feminino?
A quantidade de mulheres empreendedoras tem crescido não apenas no Brasil mas no Mmndo: de acordo com o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), 51,1% dos novos empreendimentos espalhados pelo mundo foram iniciados por mulheres.
Este aumento, que ultrapassou a quantidade de homens empreendedores, é resultado de uma luta diária para ocupar lugares que até muito pouco tempo atrás não eram permitidos às mulheres, que sofrem com um déficit histórico de participação nos espaços de poder.
Maria Eugenia Taborda, em sua palestra Pesquisa de Comportamento Financeiro Feminino para o Itaú Mulher Empreendedora, coloca que em períodos antigos da história a mulher era extremamente valorizada em diversas culturas, e em muitas delas não apenas pela sua capacidade de gerar vida.
Na cultura Celta, por exemplo, antes do domínio cristão, a mulher era representada pela Grande Deusa Mãe, e sua imagem era sagrada.
A mulher era independente em relação ao homem, podia ter bens próprios e até os filhos adotavam o sobrenome da mãe.
Nesta cultura, a importância da mulher e o respeito a ela se expressavam em diversos aspectos.
De fato, em várias outras culturas do passado a mulher era valorizada, mas com o tempo e a transformação de diversos aspectos religiosos, políticos e culturais, o feminino passou a ser inferiorizado e a mulher ficou relegada ao espaço do privado, do lar, ao passo que o homem, cada vez mais se apropriou dos espaços públicos, onde está a consolidação do poder.
Essa exclusão das mulheres dos espaços de poder contribuiu para a perpetuação da inferiorização daquilo que é feminino, objetificando a imagem da mulher e relegando à ela papéis secundários na sociedade, excluindo-a por muita da economia e da política.
É, portanto, extremamente importante falar sobre empreendedorismo feminino porque é em função desta história de subjugação que a mulher enfrenta tantas barreiras para conseguir se manter como empreendedora.
Dados tirados do livro Mulheres Chefes de Família no Brasil: Avanços e Desafios apontam um processo de despatriarcalização no Brasil.
Ainda de acordo com dados apresentados neste livro, de 2001 a 2015, o número de famílias chefiadas por mulheres mais que dobrou, passando de 14,1 milhões em 2001 para 28,9 milhões em 2015.
Enquanto a quantidade de famílias chefiadas por homens diminuiu de 72,6% em 2001 para 59,5% em 2015, a de famílias chefiadas por mulheres subiu de 27,4% para cerca de 40%.
Contudo, apesar de sua nítida capacidade de cuidar da família e empreender ao mesmo tempo, a mulher ainda não conquistou o espaço e o respeito que merece.
Por conta desta chaga histórica, e da recente libertação feminina que ainda está em curso, as mulheres, sempre relagadas ao espaço do privado e do lar, possuem menos redes de contatos e menos espaço, inclusive, na política.
De 2000 a 2006, apenas um décimo das cadeiras do Estado eram ocupadas por mulheres!
O que leva a um sério questionamento: onde estava a representatividade feminina no momento de criação de leis?
Nas mãos de políticos homens que sempre estiverem no topo das estruturas de poder? Podemos dizer que sim.
Ainda hoje, mesmo com tanto avanço:
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Empresas chefiadas por mulheres tem normalmente uma vida mais curta;
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Mulheres normalmente tem menos participação em negócios de grande porte e inovadores;
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Mulheres empreendedoras não tem representatividade na comunicação.
Desenvolvimento Social da Mulher
A história do empreendedorismo feminino está diretamente ligada à luta das mulheres por respeito e igualdade de gêneros.
Dados os avanços nesta luta, parece até estranho, hoje, pensar que há apenas 56 anos a mulher não podia ter sequer CPF e dependia da autorização do marido para poder trabalhar!
A conqusita ao direito a CPF só foi possível porque uma história antiga de lutas e revoluções prepararam o terreno para este marco histórico, que, ainda assim, demorou a se dar.
A própria luta pelo direito ao voto se estendeu por anos no Brasil e em diversas partes do mundo.
Este direito foi conquistado através de muito esforço e muito tardiamente, como tantos outros.
Demonstrativo da evolução dos direitos da mulher no Brasil.
Ainda assim, apesar de todas estas adversidades, as mulheres tem conquistado cada vez mais espaço e retomado a luta por seus direitos.
O empreendedorismo é não só uma forma pessoal de crescimento profissional, mas um modelo a ser seguido e incentivado para reconhecimento do papel social, político e econômico da mulher.
Através de atitudes e de mulheres empreendedoras, o feminismo ganha força e a luta pela igualdade de direitos, pela redução da violência e pelo respeito às mulheres avança a cada dia um pouco mais.
Dia da conquista ao voto feminino no Brasil.
Imagem reconhecida como sendo do primeiro voto feminino.
Fonte: Blog C2TI