
O aplicativo de mensagens russo Telegram está se tornando um problema para pessoas ao redor do mundo. Além da ampla divulgação de fake news, como ocorre no Brasil, a plataforma se tornou um terreno fértil para compartilhamento de imagens de meninas e mulheres nuas sem consentimento em grupos que reúnem milhares de pessoas. Assédio, intimidação e chantagem estão no cerne desses compartilhamentos. Não há indícios de que a plataforma tome qualquer providência para barrar esse tipo de conteúdo que está destruindo vidas.
Uma investigação feita pela BBC revelou vários casos. Em Havana, Cuba, Sara, descobriu rapidamente que fotos íntimas suas foram divulgadas junto com suas redes sociais e número de telefone.
De uma hora para outra, ela começou a ser assediada por desconhecidos que lhe pediam mais fotos. A foto dela foi parar em um grupo que reúne mais de 18 mil pessoas, muitos moradores do seu bairro na capital cubana.
“Eles me faziam sentir como se eu fosse uma prostituta porque [acreditaram] que eu compartilhei fotos íntimas minhas. Isso significava que eu não tinha valor nenhum como mulher”, diz ela.
De acordo com a BBC, são milhares de imagens filmadas sem consentimento, roubadas e vazadas em ao menos 20 países.
No Azerbajão, Nigar precisou deixar sua vida para trás após imagens dela fazendo sexo com o marido foi postado em um grupo com mais de 40 mil seguidores, em 2021.
“Minha mãe começou a chorar e me disse: ‘Tem um vídeo disso, me enviaram'”, diz ela. “Fiquei arrasada, absolutamente arrasada.”
Mantendo sempre como alvo de ataques as mulheres, na filmagem, o rosto do agora ex-marido de Nigar aparece embaçado. O dela é claramente visível.
Nigar atribui as imagens a chantagem de seu ex para chantagear seu irmão para que parasse de criticar o presidente do Azerbajão.
“Eles olham para você como se você fosse uma desgraça. Quem se importa se você é casada?” diz Nigar.
As fotos de Nigar e Sara foram denunciadas ao Telegram, mas a plataforma não respondeu.
A BBC tem monitorado 42 grupos e canais do Telegram “da Rússia ao Brasil, do Quênia a Malásia”.
A plataforma tem mais de 2 milhões de usuários ativos. Grupos públicos ou privados podem reunir até 200 mil pessoas, além de canais que podem transmitir para um número ilimitado de pessoas.
Com a desculpa de não “querer censurar seus usuários”, a plataforma virou uma terra sem lei capaz de destruir a vida de milhares de pessoas ao redor do mundo.
Telegram no Brasil
No Brasil, o Telegram é uma das formas favoritas de Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados para a disseminação de mentiras. O aplicativo está na mira do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pode ser proibido no país. O motivo é a preocupação da Corte com a disseminação de fake news e o fato de a plataforma ignorar as autoridades brasileiras.
Diferentemente de outros aplicativos, o Telegram não tem uma representação no Brasil. O que o impede de receber e cumprir ordens judiciais no país. Com isso, tornou-se uma ferramenta poderosa de disseminação de informações mentirosas, especialmente, por bolsonaristas.
Reportagem do Estadão revela que um grupo do Ministério Público Federal ligado ao combate de cibercrimes estão preocupados em coibir a disseminação de fake news na campanha eleitoral. Por isso, eles tem orientado os demais procuradores a respeito dos perigos do aplicativo russo que tem sede em Dubai.
A questão deve entrar na pauta de discussões do TSE tão logo termine o recesso.