
Durante a reunião da Comissão Externa sobre Coronavírus no Brasil, nesta quarta-feira (20), a professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Natalia Pasternak Taschner fez duras críticas à decisão do Ministério da Saúde de divulgar o protocolo que libera no SUS o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina até para casos leves de Covid-19. Até então, o protocolo previa os remédios para casos graves.
Tashcner é bióloga formada pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo IBUSP, PhD com pós-doutorado em Microbiologia, na área de Genética Molecular de Bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, ICB-USP.
Na opinião da especialista, já há evidencias suficientes que o medicamento não funciona.
“A cloroquina não diminui a carga viral em nenhuma fase da doença e a liberação pode colocar em risco a saúde da população, trazendo uma falsa sensação de segurança. Em pacientes cardíacos, os efeitos colaterais podem ser maiores já que o medicamento traz danos ao coração. Hoje falta dinheiro para comprar coletor de mucosa, mas o governo quer gastar dinheiro publico pra comprar cloroquina”, denuncia.
Natália Taschner
Assista abaixo a participação completa da especialista da USP.
Desejo de Bolsonaro
A mudança no protocolo era um desejo do presidente Jair Bolsonaro, defensor da cloroquina no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus.
Não há comprovação científica de que a cloroquina é capaz de curar a Covid-19. Estudos internacionais não encontraram eficácia no remédio e a Sociedade Brasileira de Infectologia não recomenda o uso.
O protocolo da cloroquina foi motivo de atrito entre Bolsonaro e os últimos dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Em menos de um mês, os dois deixaram o governo.
Documento
No novo protocolo divulgado pelo ministério não aparece assinatura de nenhuma autoridade. O texto mantém a necessidade de o paciente autorizar o uso da medicação e de o médico decidir sobre a aplicar ou não o remédio.
O termo de consentimento, que deve ser assinado pelo paciente, ressalta que “não existe garantia de resultados positivos” que “não há estudos demonstrando benefícios clínicos”.
O documento afirma ainda que o paciente deve saber que a cloroquina pode causar efeitos colaterais que podem levar à “disfunção grave de órgãos, ao prolongamento da internação, à incapacidade temporária ou permanente, e até ao óbito”.