
No dia 6 de julho há grandes chances de a esquerda ocupar a presidência do Peru. O candidato Pedro Castillo (Peru Livre) aumentou a vantagem contra a oponente Keiko Fujimori (Força Popular). Ele é professor, sindicalista e de esquerda e, ela é de extrema-direita, filha do ex-ditador Alberto Fujimori – que comandou o país durante toda a década de 1990. Castillo tem maior aceitação entre os mais pobres (camadas C, D e E), enquanto Keiko é a aposta dos mais ricos (níveis A e B).
O segundo turno será no dia 6 de junho. Pesquisa de opinião do Instituto de Estudos Peruanos (IEP) aponta Castillo com 41,5% de intenções de voto e Keiko 20 pontos atrás, com 21,5%. O professor de Cajamarca é favorito em todas as regiões, perdendo para a oponente somente em Lima e região metropolitana. O candidato da esquerda era o último colocado nas pesquisas de opinião para o primeiro turno, realizado no dia 11 de abril, e obteve 19% dos votos, contra 13% de Keiko.
Quem é o candidato da esquerda
Com 51 anos, Pedro Castillo é professor primário na região andina de Cajamarca, ao norte do país, de onde é originário. Ele ganhou notoriedade a partir de 2017, quando liderou uma grande greve nacional de professores que parou as aulas por três meses para exigir melhor remuneração e a eliminação das avaliações de desempenho dos professores. Candidato pela primeira vez à presidência do país ele trocou o ensino para a política em 2002, quando concorreu a prefeito de Anguía.
Na atual eleição presidencial, Castillo ficou conhecido por sempre usar um chapéu de palha e carregar um lápis, e por apresentar propostas como fechar o Congresso e por ter ido até o centro eleitoral votar montado em uma égua.
Reforma constitucional
O candidato de Peru Live tem como principal proposta a reforma constitucional – uma reivindicação que motivou protestos em novembro de 2020 no país. “Respeitaremos a Constituição até que o povo decida através de um referendo”, declarou. Já Keiko se apoia no legado do pai e defende a manutenção da estrutura do Estado como está. A atual Constituição foi promulgada em 1993, durante o regime fujimorista.
Castillo defende propostas como Estado socialista, regulação da mídia e aumento do orçamento da educação de 3,5% para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para investir em infraestrutura, melhores salários aos professores e em um programa contra o analfabetismo.
Durante a campanha eleitoral, ele também advertiu que, se chegasse ao poder, o Congresso seria fechado se não aceitasse uma Assembleia Constituinte para substituir a Constituição de 1993, que surgiu após o “autogolpe” de Alberto Fujimori (1990-2000), pai da sua rival na disputa pelo segundo turno.
Peru Livre, partido de esquerda
Fundado em 2007 como Movimento Político Regional Peru Livre, a sigla pela qual se candidatou Castillo foi formalizada como organização nacional em 2012, e possui o nome Peru Livre desde 2019. Segundo sua autodefinição, o partido tem “princípios claros”: é “democrático, descentralista, internacionalista, inclusivo, soberano, humanista e anti-imperialista”.
Além dos princípios, o Peru Livre é uma sigla que se coloca como “marxista-leninista-mariateguista” e defende reformas “totais” em relação à política fiscal e tributária peruana e propõe a “nacionalização dos recursos estratégicos” da nação.
“É o partido que, com sua prática, pode convencer que nem tudo é utopia, que também existem realidades. Conquistando objetivos que a educação oficial, religião e mídia nos transmitiram que eram aspirações impossíveis e que apenas uma sociedade dividida em classes era garantia de competitividade e avanço social”, diz o partido.
Novo parlamento
No dia 11 de abril, o Peru também elegeu 130 deputados e cinco representantes ao Parlamento Andino (composto por legisladores do Peru, Bolívia, Chile, Equador e Colômbia). O Congresso peruano estará fragmentado em dez bancadas: Peru Livre obteve a maioria com 37 deputados e Força Popular ficou em segundo, com 24 cadeiras.
Apesar da fragmentação, este será o parlamento peruano com maior presença feminina, foram eleitas 50 deputadas, quase o dobro se comparado com a última legislatura.
Com informações no Brasil de Fato