Depois de uma eleição disputada voto a voto e questionada na Justiça, o professor rural Pedro Castillo tomou posse como presidente do Peru, nesta quarta-feira (28). Em seu discurso, disse que, com sua chegada ao cargo, haverá, “um governo do povo, com o povo e para o povo”.
“Desta vez, um governo do povo chegou para governar com o povo e para o povo, para construir desde baixo. É a primeira vez em que o país será governado por um camponês, que pertence aos setores oprimidos por tantos séculos”, disse.
O professor primário usava seu característico chapéu de palma e uma jaqueta azul sem colarinho. Chegou ao Congresso sem pisar o tapete vermelho estendido na entrada em sua homenagem. Ali o filho de agricultores analfabetos que moram em um vilarejo remoto dos Andes colocou a faixa presidencial.
“É a primeira vez que um partido formado no interior do país vence as eleições democraticamente, e que um professor rural é eleito para ser presidente. É difícil explicar a honra que isso significa”, afirmou.
Castillo defende justiça social
Na ocasião, ele falou das expectativas para promoção de justiça social. “Queremos construir um país mais próspero, mais justo. Uma divisão melhor entre todos os peruanos: é o compromisso que assumo hoje. Lamentavelmente, disse-se na campanha que queríamos expropriar bens da cidadania. Isso é falso”, disse.
Castillo desmentiu tais afirmações, que a oposição utilizou durante a campanha eleitoral, declarando que, na verdade, seu governo quer que a economia “mantenha uma ordem e previsibilidade”.
“O que nós estamos propondo é que se acabem os abusos dos monopólios e dos consórcios que cobram muito pelos serviços básicos, como acontece com o gás domésticos e medicamentos”
Pedro Castillo
O novo presidente ressaltou que quer a economia das famílias peruanas “mais estável e próspera”.
‘Amarras da colonização’
Citando a história da nação peruana durante seu discurso, o presidente informou que não irá governar o país direto da Casa de Pizarro, que é o Palácio do Governo do Peru, localizado na capital, em Lima.
Para ele, a sede do governo representa as “amarras da colonização” e que é preciso “romper com os símbolos coloniais” dentro do país. “Cederemos o Palácio ao Ministério da Cultura, para que seja usado como um museu que mostre nossa história e nossas origens”, afirmou.
Castillo promete 1 mi de empregos
O novo presidente do Peru afirmou que seu governo pretende criar um milhão de empregos em um ano com investimento público. “Daremos mais atenção aos setores afetados pela pandemia da covid-19, como na agricultura, no turismo e no transporte”.
Segundo ele, durante a pandemia, os programas de créditos entre o governo e o Banco Central do país permitiram “sustentar” setores empresariais, mas que esses programas “esqueceram das famílias”.
Castillo também falou sobre o investimento na educação do país, plano que visa duplicar o orçamento do setor e “aumentar a participação” da área no PIB peruano. “A educação no meu governo será uma prioridade para recuperar as aprendizagens e evitar que a falta de igualdade cresça”, disse.
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Ainda na área educacional, o atual mandatário afirmou que os planos do setor “serão promovidos pelos próprios professores e comunidade local”, com acesso à internet “sendo um direito e não serviço”.
Ainda tratando de economia, o novo mandatário disse que é preciso “colocar ordem” na mineração do Peru, “expulsando” a corrupção e colocando “procedimentos que facilitem a exploração e o fechamento adequado de cada projeto”. Castillo declarou que seu governo fará o “possível” para produzir “mais e mais” de forma adequada.
Para isso, ele definiu que nos 100 primeiros dias do novo governo serão realizadas obras rurais para “valer a organização civil organizada e combater a corrupção” que impede que cerca de três milhões de peruanos não tenham acesso à água potável, de acordo com Castillo.
Castillo homenageia vítimas da covid-19
Pedro Castillo fez uma homenagem aos peruanos que morreram em decorrência da covid-19. Em sua fala, disse que o país irá “honrar a memória” das vítimas e que a prioridade é continuar a “luta” contra a pandemia.
De acordo com o professor, o governo seguirá “escutando a ciência” e colocando o bem-estar da peruanos em primeiro lugar. “Devemos maximizar os esforços para alcançar a vacinação de toda a população no menos tempo possível. A saúde é um direito fundamental que o Estado deve garantir. A saúde física e mental serão prioridades no governo”, disse Castillo afirmando que será “fortalecida” a capacidade dos centros de saúde do país, com um sistema sanitário “universal, gratuito e participativo”.
Agora mandatário, Castillo afirmou que, ao final de seu governo, irá entregar hospitais especializados em diferentes regiões do Peru para garantir “prioridade a clínicas cirúrgicas e hospitais de saúde bucal”.
Saída do ex-presidente
Para que Castillo chegasse, alguém tinha de dizer adeus. Era Francisco Sagasti, presidente de circunstância depois que os dois anteriores foram destituídos pelo Congresso. Permaneceu oito meses no cargo.
Durante a apuração dos votos, foi pressionado a tomar partido de Keiko Fujimori, mas Sagasti resistiu estoicamente. Cedo pela manhã compareceu a uma missa na catedral de Lima. Depois foi até a porta do Congresso, onde caminhou ereto e com a cabeça erguida. Não é para menos em um país onde os presidentes costumam sair pela porta de trás.
Tiros de arcabuzes soaram à sua passagem. Em um gesto solene, tirou a faixa e guardou-a em uma caixinha que um militar segurava. Depois foi embora a pé.
Com informações do Opera Mundi e El País