O novo presidente do Chile, Gabriel Boric, tomou posse do cargo em cerimônia no Congresso, na cidade de Valparaíso, nesta terça-feira (11). O ex-líder estudantil é o mandatário mais jovem da América Latina, com 36 anos. Ele recebeu a faixa presidencial do agora ex-presidente Sebastián Piñera.
Como presidente, Boric terá que se debruçar sobre a reforma da previdência, lidar com a crise de migração no norte do país e os conflitos envolvendo os indígenas mapuche no sul.
Ex-deputado, Boric ficou conhecido como líder estudantil dos protestos que tomaram conta do país em 2011 e como presidente também terá de batalhar pelo sucesso da comissão que escreve a nova Constituição do Chile.
“Há uma relação de siameses entre a nova Constituição e o governo Boric, e se isso não acontecer, tiraria toda a energia do novo governo”, avalia o sociólogo Eugenio Tironi à CNN.
A redação da nova Constituição surgiu como uma solução institucional para os protestos que eclodiram em todo o país em outubro de 2019, que apontavam a atual Carta Magna como a origem da desigualdade no país.
A Constituição em vigor foi criada em 1980 durante a ditadura de Pinochet e aperfeiçoado um modelo neoliberal que, embora tenha garantido um desenvolvimento econômico e social por mais de três décadas, aprofundou como diferenças entre ricos e pobres no país.
Mulheres no governo Boric
Com o alto escalão do governo formado por ampla maioria de mulheres, Boric se disse orgulhoso ao tomar posse.
“Estou profundamente orgulhoso desse gabinete, orgulhoso de que haja mais mulheres do que homens, isso graças ao movimento feminista”, disse o novo presidente que venceu a disputa com o ultradireitista Antonio Kast.
Ele também disse assumir o cargo “muito emocionado e com um grande sentido de responsabilidade”.
“Temos um grande dever diante do povo chileno e daremos nosso melhor para estamos à altura”, afirmou.
Boric foi eleito dois anos depois dos protestos contra o aumento nas tarifas de ônibus que culminaram em uma onda grande contra os problemas sociais e econômicos do Chile.
Redistribuição da riqueza
Antes de tomar posse, Gabriel Boric ele defendeu um “pacto tributário” ao invés de uma reforma. Ele ressalta a necessidade de que as forças produtivas do país concordem que “é necessária uma melhor redistribuição de riqueza para crescer”.
“Queremos que todas as forças produtivas do país concordem que é necessária uma melhor redistribuição de riqueza para crescer. E que também seja sustentável em relação ao meio ambiente, e, para isso, esperamos convocar trabalhadores organizados, pequenas e médias empresas e grandes empresários”
Gabriel Boric
Gabriel Boric herdará um país com uma das maiores taxas de inflação das últimas décadas e um déficit relevante.
No auge dos protestos de 2019, mais de um milhão de pessoas foram às ruas.
Boric quer trabalhar ao lado de Lula
Na mesma entrevista, Boric marcou clara posicão na América Latina.
“Espero trabalhar ao lado de Luis Arce, na Bolívia, de Lula se ele ganhar as eleições no Brasil, de Gustavo Petro, cuja experiência se consolida na Colômbia. Acho que pode ser um eixo interessante”
Gabriel Boric
Afirma que no caso da Nicarágua, “não consigo encontrar nada lá”. Sobre a Venezuela, diz que “é uma experiência que fracassou, e a principal demonstração de seu fracasso é a diáspora de 6 milhões de venezuelanos.”
No Brasil, cita novamente o ex-presidente Lula (PT), a quem afirma “valorizar muito a experiência” e que busca conhecer a do também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), que já havia anunciado que não participaria da cerimônia e já se referiu ao novo mandatário como “o tal do Boric”, enviou o vice-presidente Hamilton Mourão.
A ex-presidente Dilma Rousseff é uma das convidadas presentes.
A previsão é que Boric fale pela primeira vez como presidente empossado às 19h.