Desigualdade: em artigo no jornal O Globo, o colunista Antônio Gois analisa um estudo dos pesquisadores Maurício Érnica (Unicamp) e Erica Castilho Rodrigues (Universidade Federal de Ouro Preto), publicado na última edição da revista acadêmica Educação & Sociedade sobre o desempenho de alunos do 5º ano no município de São Paulo, considerando na análise não apenas o nível socioeconômico das famílias, mas também características como cor ou raça, gênero e bairro onde estudam.
Uma primeira constatação – sem surpresas segundo Gois – foi que o resultado do conjunto dos alunos que era fortemente influenciado pela escolaridade e renda dos pais.
Esta característica, no entanto, não foi suficiente para explicar toda a desigualdade verificada. A pesquisa identificou um padrão em todos os distritos: pela ordem, meninas brancas são o grupo de melhor desempenho, seguido de meninas pardas, meninos brancos, meninos pardos, meninas pretas e, por fim, meninos pretos. Essa classificação – brancos, pardos e pretos – é a mesma utilizada pelo IBGE, a partir da autodeclaração dos próprios estudantes.
O fato de meninas e meninos autodeclarados pretos estarem nos grupos de pior desempenho evidencia o peso da desigualdade racial. Dentro desse grupo específico, porém, os autores descobriram algo intrigante: nos distritos mais equitativos, as meninas pretas conseguiam reduzir a distância dos demais grupos, um indicativo de que elas de alguma forma se beneficiavam das melhores oportunidades educacionais pelo fato de serem meninas.
Nos distritos mais desiguais, isso não acontecia. O dado mais preocupante de todos foi identificado entre os meninos autodeclarados pretos, pois nem mesmo nos distritos mais equitativos eles conseguiam diminuir suas desvantagens.
“Nos espaços mais equitativos, nossa pesquisa mostra que, para os grupos analisados, a questão de gênero opera positivamente em favor das meninas e negativamente contra os meninos. Mas não sabemos por que isso acontece, e quais são os processos dentro da escola que acabam por produzir essa situação”, afirma Érnica, para quem é preciso aprofundar também os estudos para entender os mecanismos pelos quais a desigualdade racial se converte, na escola, em desigualdade de aprendizagem.
Para acessar o estudo completo acesse Educação e Sociedade