
A crise do coronavírus tem provocado o cancelamento, em massa, de exames e de cirurgias de doenças graves, como câncer.
A situação é criticada por médicos que não concordam com o adiamento de casos graves e associação que vê “oportunismo” de planos de saúde. Segundo o El País, os transplantes de órgãos sólidos, como coração e pulmão, devem ser mantidos.
O “oportunismo” apontado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) pode estar em casos como o da professora Gracielena Aguiar, de 56 anos, que em dezembro descobriu um câncer colorretal em estágio dois.
A professora contou ao El País que entrou em contato com sua operadora de saúde para solicitar a liberação da cirurgia, mas não obteve êxito.
“Recebi a autorização do plano privado na semana passada, mas o hospital cancelou a operação, mesmo meu caso sendo grave”, disse.
O jornal informa que a instituição que atende ao plano de Gracielena, Hospital Santos Dumond, suspendeu os procedimentos cirúrgicos para que os leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) fiquem disponíveis para pacientes graves com Covid-19.
“Até agora, não recebi nenhuma orientação médica sobre começar agora a quimioterapia ou não. Inicialmente, faria esse tratamento depois da cirurgia”, lamentou Gracielena ao El Pais.
Por outro lado, o médico Ederlon Rezende, membro do conselho consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e diretor do serviço de terapia intensiva do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo disse ao jornal que está “esticando a corda até onde dá” na instituição para realizar as cirurgias necessárias.
Ele critica o adiamento em casos graves, como o da professora Gracielena.
“Não faz sentido também deixar 10 leitos vagos agora, esperando pacientes com Covid-19 e ter pessoas com câncer sem ser operadas. Essa gestão é refinada, deve-se olhar caso a caso com sabedoria, porque vidas estão em jogo”, defendeu em entrevista ao El País.
O Ministério da Saúde recomenda o adiamento de cirurgias eletivas e alguns tipos de transplante. As cirurgias eletivas são procedimentos que não precisam ser realizados em caráter de urgência, podendo ser postergados por até 1 ano, sem causar grandes problemas ao paciente.
Além das cirugias e exames, a pandemia procovou a suspensão de tratamentos e até transplantes de órgãos em todo o Brasil.
Ofício publicado pelo Ministério da Saúde recomenda a suspensão de captação e transplante de córnea e ossos, bem como a busca de tecidos para transplantes. Os transplantes de coração e pulmão devem ser mantidos.

Na semana passada o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, informou que 30% dos leitos de UTI do país já foram desocupados apenas com o adiamento de cirurgias eletivas.
O colapso do sistema de saúde do país foi anunciado pelo próprio ministro as Saúde, que prevê um agravamento em abril.
No Ceará, um dos estados referência no transplante de órgãos, só estão suspensos os transplantes, como o de rim, com doador vivo.
“A verdade é que tem pessoas que, se não morrerem em decorrência da Covid-19, podem falecer pela falta do transplante”, disse ao El País a médica Eliana Régia, coordenadora da Central de Transplantes do Ceará.
Tendência Mundial
José Huygens, especialista no transplante de fígado e presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, explica ao El País que a suspensão desses procedimentos tem acontecido em todo o mundo em decorrência do coronavírus.
“O que temos visto é um cancelamento generalizado, mas alguns serviços médicos têm UTIs exclusivas para o setor cirúrgico, que devem ser usadas para isso. Há pessoas que não podem esperar. Já outras, que fazem, por exemplo, hemodiálise e estão estáveis, podem esperar três ou quatro meses”, disse ao jornal.