
O Exército Brasileiro aprovou o gasto de R$ 3,9 milhões para fazer um game. O Missão Verde-Oliva foi anunciado há um ano como um “jogo de guerra patriótico” com muita ação. Mas nada de “sangue em demasia”, nem combates em favelas ou na praça dos Três Poderes.
A decisão de investir quase R$ 4 milhões em um jogo foi tomada no contexto de orçamento apertado. Dia 15 de junho, por exemplo, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, cobrou da equipe econômica aumento da verba das Forças Armadas até 2023. Ele afirma que há risco de os equipamentos militares ficarem sucateados, se o pleito não for atendido.
Segundo Braga Netto, é preciso recompor o orçamento deste ano, melhorar a previsão de verba de 2022 e levar a dotação do ano seguinte a um patamar superior ao de 2014. O orçamento de 2021 foi R$ 8,7 bilhões.
“Tal cenário impactará significativamente a manutenção da capacidade operativa das Forças Armadas, agravará o atual cenário de sucateamento e obsolescência dos equipamentos militares e poderá prejudicar ainda mais o cronograma de entregas dos projetos prioritários.”
Braga Neto
Missão Verde-Oliva será desenvolvido até 2026
O plano para o Missão Verde-Oliva prevê gastos para desenvolvimento até 2026, mas apenas R$ 875 mil, deste ano, estão assegurados no orçamento.
Para os próximos anos, segundo o Centro de Comunicação Social do Exército, serão buscadas possíveis parcerias com as empresas estratégicas de defesa para a viabilização de patrocínio. O objetivo é ter uma licitação para alguma empresa nacional até fim de 2021.
O plano prevê gastos de R$ 1,4 milhão em desenvolvimento em 2022 e outros R$ 1,1 milhão em 2023. A partir daquele ano, o suporte ao projeto custaria R$ 263 mil, valor que cai a R$ 66 mil em 2024, R$ 58 mil em 2025 e R$ 55 mil, em 2026.
Game patriótico
O game próprio do Exército Brasileiro adotará, se criado, o formato “shooter” (o atirador em primeira pessoa), consagrado por títulos como Rainbow Six e Counter-Strike.
A inspiração da iniciativa, que segundo o Estado-Maior do Exército tem o propósito de “criar impressões positivas principalmente nas faixas de 16 a 24 anos”, veios dos Estados Unidos.
O intuito é popularizar os militares entre os jovens consumidores de jogos eletrônicos, um mercado de 76 milhões de pessoas que movimenta quase R$ 10 bilhões por ano no país.
A previsão inicial era para o lançamento ser lançado ainda em 2021, gratuitamente para até 15 mil jogadores simultâneos. A meta é alcançar três milhões de downloads em até dois anos. Com modos campanha e multiplayer e será ambientado em 2025, para se distanciar do presente. O documento oficial de lançamento cita ‘Counter-Strike’ e ‘Fortnite’ como jogos em que se fará referência.
A inspiração do game vem da série de jogos ‘America’s Army’, lançada pelo exército dos Estados Unidos em 2002, com acesso gratuito e online. A quinta geração do jogo já está em desenvolvimento.
Missão Verde-Oliva tem risco de ser engavetado
Questão de prioridades à parte, há um problema adicional: o valor, que é o dobro do que a Defesa gastou com apoio à presença brasileira na Antártica e equivale ao aplicado em pesquisa aeroespacial em 2020, não é suficiente para fazer um produto viável.
Thiago Freitas, presidente do Kokku, estúdio brasileiro de desenvolvimento de jogos, afirma que para a realização do projeto seria necessário R$ 15 milhões, pensando em um game “enxuto”, para um de alta qualidade, poderia chegar em até R$ 50 milhões.
“A sensação é de que o investimento é um risco enorme. Não há como construir um jogo com qualidade gráfica realística AAA [padrão de grande jogos do mercado]. O escopo, utilizando um orçamento limitado como este, é também limitado”
Thiago Freitas
O projeto tem grandes riscos de ser engavetado após os gastos inicias. “É perigoso para o desenvolvedor se comprometer a um desenvolvimento de três anos com um teto de recursos baseado em tempo e não em recursos, como quantidade de profissionais, licença de softwares etc.”, afirma Thiago Freiras.
Economia criativa é aposta da Autorreforma
No Brasil, o mercado de games envolve 76 milhões de pessoas e movimenta R$ 10 bilhões por ano. Mesmo assim, os jogos eletrônicos ainda são tratados como brincadeiras para criança por grande parte do público e instituições.
Para mudar isso, a Autorreforma do PSB fala que o Estado precisa estimular os talentos individuais e coletivos sem burocracia e com os riscos naturais, os coletivos culturais, as startups, os inventores individuais, os profissionais criativos, em todas os setores da economia e da cultura.
Esses investimentos não podem ser apenas nas áreas de produção cultural, mas também na distribuição, na comercialização, bem como na modernização das leis que envolvem direitos autorais.
“O ideal seria que a riqueza cultural, literária e artística, fosse transferida para o design nacional, para os games, para os softwares brasileiros. Não só para se conectarem com o mercado mundial, mas para alcançar a própria juventude brasileira, majoritariamente plugada na tecnologia da informação e comunicação”.
Autorreforma do PSB
Com informações da Folha de S.Paulo